Era 1979 quando meu filho de dois anos desenvolveu uma hérnia. Não era tão grave, mas fomos até alguns médicos, e todos disseram que ele precisaria de uma cirurgia. Então escrevi ao Rebe com duas perguntas: a primeira, se deveria passar pela operação. Segunda, neste caso, qual cirurgião usar, pois cada um dos médicos tinha recomendado alguém.

A resposta do Rebe foi simples: “Sobre tudo isso, siga o conselho do Dr. Feldman.”

Dr. Robert Feldman tem sido médico da comunidade em Crown Heights por muitas décadas, mas naquela época ele estava trabalhando no Bronx. Já tínhamos lhe consultado, e tendo ouvido sua opinião, presumimos que não havia motivo para perguntar novamente.

Mas o Rabino Binyomin Klein, secretário do Rebe (e nosso primo), sugeriu de outra forma: “Dr. Feldman esteve com o Rebe hoje mesmo,” ele me disse, “e eles falaram sobre o caso do seu filho. Vocês poderiam aprender mais sobre o que o Rebe disse.”

Rabino Klein aconselhou que eu visitasse Dr. Feldman pessoalmente em vez de ligar para ele. Portanto fomos ao Bronx, e o Dr. Feldman nos disse o que tinha acontecido.

“Você pode me fazer um favor?” o Rebe tinha pedido a ele.

O médico, é claro, respondeu que faria.

O Rebe contou ao Dr. Feldman sobre minha carta. “Você o aconselhou a ver o Dr. Soe no Bronx,” o Rebe disse. “Mas eu estava pensando que talvez você deveria enviá-lo para Toronto.”

O Hospital Shouldice em Toronto, ao qual o Rebe recomendava muitas pessoas, era dedicado especialmente a reparação de hérnia. Eles tinham um método de operar sem anestesia geral, algo que o Rebe pensava ser melhor evitar, e por isso ele queria que Dr. Feldman nos enviasse para lá.

“Mas,” o Rebe continuou, “não sei se eles iriam fazer este procedimento numa criança de dois anos, por ser novo demais. Você poderia por favor ligar para o hospital e checar se eles realizam seu método especial numa criança tão pequena?”

“E mais uma coisa: se eles estão querendo fazer isso, tente marcar para o dia 25 do mês hebraico de Sivan.” A data que o Rebe deu era pouco mais de dois meses mais tarde.

Dr. Feldman presumiu que deveria ser um dia auspicioso no calendário judaico. Mas o Rebe percebeu sua suposição e quis esclarecer qualquer mal entendido.

“Não escolhi essa data porque é uma época especial. A irmã da esposa dele está se casando em Toronto no dia 24, portanto eles estarão na cidade. Por que eles deveriam fazer uma segunda viagem?”

Por fim, o hospital não iria fazer a cirurgia numa criança pequena, portanto fomos até o Dr. Soe. Mas pudemos ver como o Rebe tinha todas essas informações dentro de sua cabeça. Ele sabia de onde minha cunhada é, e quando estaríamos viajando para seu casamento, - e tudo isso, sem olhar o convite!

Você não precisa olhar a data de casamento vindouro de seu filho, certo? Bem, aquele dia o Rebe nos fez sentir como seus filhos.

O que me leva a essa outra história, com minha mãe, muitos anos antes, quando eu tinha apenas quatro anos de idade.

Minha mãe não estava se sentindo bem, e ela ia de um médico para outro, até que um dia no meio de Chanucá, um professor em Manhattan disse-lhe que ela tinha câncer. Foi em 1952, e não havia tratamento que pudesse curar da ameaçadora doença da qual ela tinha sido diagnosticada. O professor disse a ela para ir para casa e apreciar a família durante os próximos dois meses, e que seria assim.

Minha mãe aceitou, mas foi diretamente até o 770. Ela foi até o Rabino Hodakov, o secretário do Rebe, e disse: “Eu preciso falar com o Rebe.”

“No meio do dia?! Você não pode fazer isso.” O Rebe não encontrava pessoas durante o dia, e como era Chanucá, também não havia nenhuma visita marcada à noite. Além disso, havia uma longa lista de espera. “Talvez possamos conseguir para você daqui a três meses,” disse Rabino Hodakov.

“Não tenho três meses,” minha mãe protestou. “Preciso ver o Rebe agora!”

Eles ficaram falando, e o Rabino Hodakov sugerindo que ela escrevesse ao Rebe e ela insistindo em falar com ele pessoalmente. Por fim, ela escreveu ao Rebe dizendo que queria falar com ele. Quando o Rabino Hodakov saiu do escritório do Rebe, disse que o Rebe concordara em falar com ela. Ela deveria esperar na porta do Rebe após Minchá.

Quando o Rebe foi até seu escritório naquela tarde, você pode apostar que minha mãe estava esperando ali de pé. Ela lhe contou sobre sua condição.

Antes de eu contar a você a resposta do Rebe, preciso explicar a origem da minha mãe. Em 1946, ela tinha fugido da União Soviética como uma criminosa procurada. Qual era seu crime? Enquanto vivia em Samarkand com meu pai, ela tinha trabalhado para ajudar outros judeus a escapar das garras dos comunistas.

Outros falsificavam documentos para ajudar esses judeus perseguidos a escaparem. Mas minha mãe conseguiu obter documentos verdadeiros pagando uma mulher que trabalhava para a NKVD. Minha mãe preencheu o documento, entregou-o a esta mulher em um banheiro em algum lugar, e ela o devolveu selado e aprovado. Muitas pessoas em nossa comunidade conseguiram escapar da União Soviética usando esses passaportes.

Anos depois, Rabino Simcha Gorodetzky, um chassid que tinha sido preso por divulgar ilegalmente o Judaísmo na Rússia, nos disse que a certa altura as autoridades lhe ofereceram diminuir sua sentença se ele os ajudasse a encontrar minha mãe. Ela tinha estado nos Estados Unidos por quase dez anos àquela altura, mas eles ainda estavam tentando encontrá-la. Provavelmente eles ainda estão procurando.

Tudo isso é para dizer que minha mãe não era uma mulher que se intimidava. Portanto quando ela estava dizendo ao Rebe que os médicos tinham lhe dado apenas dois meses de vida, ele a interrompeu: “Não reconheço você de Samarkand!”

O Rebe nunca esteve em Samarkand, mas ele sabia sobre as perigosas atividades em que ela tinha se envolvido ali. Era sua maneira de falar que uma pessoa corajosa como ela não precisava ficar histérica após ouvir um diagnóstico de um médico.

“Ouça aquilo que estou lhe dizendo,” o Rebe disse. “Vá para casa, dê Chanucá guelt para seus filhos, faça latkes, e esqueça daquilo que o médico disse.”

Minha mãe nunca mais ouviu qualquer palavra sobre aquele câncer, e ela viveu por mais quarenta anos.