Nasci em 1956 numa cidade chamada Dushanbe, a capital do Tajiquistão, a 2500 quilômetros das comunidades Lubavitch em Tashkent e Samarkand, no Uzbequistão. Para poder imergir num micvê, minha mãe tinha de fazer uma viagem de trinta e seis horas de trem, toda vez, até Samarkand.

Meus pais tinham vindo a Dushanbe apenas para uma oportunidade de negócios, portanto não ficamos por muito tempo, e cresci entre Samarkand e Moscou, onde meus avós moravam. Meus pais tiveram seis filhos na Rússia, o que era uma tão grande realização que o governo deu uma medalha à minha mãe. Ela foi chamada “Uma Mãe Heróica”, e recebia onze rublos todo mês para comprar mais leite.

Toda criança na União Soviética tinha de ir a uma escola do governo. Era obrigatório. Se os pais fossem flagrados não dando ao filho uma educação comunista, eram três anos de cadeia, e até vinte e cinco anos se eles decidissem levar isso ao tribunal. Durante aquele tempo, o filho deles pertencia ao governo, e seria mandado para crescer em instituições governamentais.

Portanto, quando cheguei à idade, meus pais me disseram: “Queremos que você continue na yeshivá e não queremos que vá para a escola russa.”

“Sim,” eu disse, “está bem.”

“Bem,” eles continuaram, “para isso, você terá de desaparecer.”

O que significa desaparecer? Significava que, começando em setembro até o meio de junho, quando as crianças estão na escola, você não pode sair lá fora ou ficar perto da janela. Ninguém pode saber que você existe.

E foi isso que eu fiz.

Em 1971, a aplicação de meu pai para deixar o país finalmente foi aceita, e pudemos ir para Israel. Na saída, chegando na fronteira, eles encontraram a medalha da minha mãe.

“Você tem de deixar isso aqui,” disseram os guardas. “Essa medalha pertence à Rússia.”

“Tudo bem,” ela disse, “pegue a medalha. Mas estou levando meus filhos.”

Fui à yeshivá Chabad em Lod durante três semanas, mas quando soube que meu pai estava viajando até o Rebe para as Grandes Festas, eu decidi que meus pais tinham de comprar uma passagem para mim também. “Eu também estou indo até o Rebe,” informei a eles.

Voei com meu pai, e durante os primeiros poucos dias, fiquei encantado por aquilo que estava vendo: o Rebe, 770, os chassidim. Era algo que tínhamos ansiado como crianças pequenas; nosso sonho era ver o Rebe. Como toda reunião chassídica na Rússia, os outros chassidim costumavam desejar a meu pai: “Que você deixe a Rússia, para que seus filhos vejam o Rebe e frequentem suas escolas!”

Naquele ano, além de frequentar o minyian e reuniões no 770, eu pude encontrar o Rebe, em sua sala, três vezes.

A primeira foi no dia após Yom KIpur. Quando fiquei na frente do Rebe, meu coração estava disparado. Ele pegou o bilhete que eu tinha preparado com antecedência e o leu rapidamente, enquanto fazia marcas sobre ele com seu lápis.

“Como seus pais fizeram tantos sacrifícios pela sua educação,” o Rebe me disse, “que você seja bem sucedido em estudar Torá, e em cumprir mitsvot na maneira mais completa.”

Mais tarde naquele mesmo mês, eu estava no 770 quando de repente escutamos um aviso: O Rebe queria ver todos que tinham acabado de sair da Rússia.

Reunimo-nos na frente da sala do Rebe, e o Rabino Hodakov, o secretário do Rebe, nos deixou entrar. O Rebe estava sentado à sua mesa, com seus óculos, olhando um livro. “Todos estão aqui?” ele perguntou. Havia cerca de trinta de nós, portanto demorou alguns minutos para todos entrarem.

Quando Rabino Hodakov confirmou que todo mundo estava presente, o Rebe tirou os óculos, fechou o livro, e olhou para nós. “Quero que vocês vão e vejam Reb Moshe Feinstein.”

Reb Moshe era a mais notável autoridade haláchica da época, mas vindo da Rússia, eu nunca tinha ouvido falar sobre ele antes. “Vão, e digam a ele a maneira como era,” o Rebe instruiu. “E não sejam humildes a respeito disso. Quero que ele saiba como os chassidim sobreviveram na Rússia.”

Deixamos a sala do Rebe, e fomos direto para uns carros que estavam esperando lá fora. Um deles era o carro do Rebe, onde eu sentei, no banco de trás.

Chegamos à casa de Reb Moshe e sentamos com ele em alguns poucos bancos. Primeiro ele falou com os adultos e então para nós meninos mais novos: Eu, Yosef Yitzchok Mishulovin, e Shmuel Notik.

“O que vocês têm estudado?” ele nos perguntou.

Tínhamos aprendido o capítulo Ha’omer, do Tratado Kidushin do Talmud, e ele começou nos fazendo algumas poucas perguntas sobre a Mishná ali. Quando respondi, vi que ele pegou um lenço e começou a enxugar seus olhos. Meu primeiro pensamento foi que eu o tinha ofendido de alguma forma.

Alguém disse a ele que Reb Yankel Notik, o pai de Shmuel, sabia o Talmud inteiro.

“Isso é verdade?” ele perguntou, voltando-se a ele.

“Nem tudo do Shas,” ele respondeu. “Talvez a metade.”

“É somente a metade,” alguém interveio, “mas tudo que você perguntar a ele vai estar na metade que ele sabe.” Reb Moshe sorriu. v Ele então fez uma pergunta ao grupo. “Como vocês fizeram isso?”

Reb Moshe era da Rússia, e ele sabia o que significava ser religioso ali.

Cinquenta anos depois que ele partiu, ele estava vendo pessoas saindo da Rússia como se o Comunismo nem sequer existisse. Éramos totalmente religiosos, falando fluentemente sobre o Talmud, Rashi e Tosafot em iidiche. Ele ficou impressionado.

Reb Yankel Notik respondeu: “Como fizemos isso? Tínhamos alguma escolha?” Em outras palavras, para nós, ser judeu não é uma escolha; não há alternativas.

Minha terceira audiência com o Rebe foi alguns meses depois. Embora meus pais quisessem que eu voltasse para Israel com meu pai, consegui ser aceito numa yeshivá mais perto do Rebe, em Morristown, New Jersey, e por fim eles me deixaram ficar ali. Então, consegui ver o Rebe por ocasião do meu aniversário.

Tive outra audiência com o Rebe na mesma data no ano seguinte, e então novamente um ano depois. Após um mês antes de uma dessas audiências, eu tinha decidido estudar na yeshivá por mim mesmo, sem um parceiro, pensando que seria mais fácil ficar focado daquela maneira. Eu não tinha mencionado nada sobre essa decisão ao Rebe, portanto fiquei chocado quando ele me disse:

“Em geral, é melhor aprender com alguém que por si mesmo.” Desnecessário dizer, quando voltei à yeshivá, encontrei um parceiro de estudo.

O Rebe também me disse para atuar como um modelo aos outros, mas a certa altura me senti tornando-me um pouco orgulhoso demais pelo meu progresso espiritual comparado ao dos meus parceiros. Decidi perguntar ao Rebe o que fazer com aqueles pensamentos.

O Rebe respondeu com dois métodos para lidar com pensamentos de arrogância ou superioridade. Primeiro, refletir sobre o que diz o Tanya sobre como D'us está acima de cada pessoa e examina sua conduta. Dessa maneira, a ênfase se torna se a pessoa está servindo adequadamente a D'us.

Uma segunda maneira é dizer:

“Se eu sou tão notável, isso significa que tenho de fazer muito melhor.!” Quando esses métodos começam a ter um efeito positivo, você vai parar de se aborrecer com com tais pensamentos.