Quando adolescente morando em Nova York, me interessei pelos ensinamentos do Rebe Nachman de Breslov, um Rebe chassídico que viveu nos anos 1700. Durante seu curto tempo de vida, cujos ensinamentos causaram um impacto, e quando faleceu aos trinta e oito anos, ele foi enterrado a seu pedido na cidade de Uman, que fica entre Kiev e Odessa, na Ucrânia. Desde então, seus seguidores se reúnem no seu local de descanso para rezar.

Durante a era comunista, era extremamente perigoso fazer reuniões religiosas como essas, mas as pessoas continuavam, muito discretamente, a visitar o túmulo.

Consegui visitar em uma ocasião, e ali estava um rabino que se chamava Michel Dorfman, que durante anos organizava um pequeno grupo para ir até Uman para Rosh Hashaná. O local ficava numa área residencial no número 1 da Rua Belinsky, no quintal de uma senhora cujo sobrenome era Zubeida.

Reb Michel foi um dos últimos chassidim de Breslov restantes na Ucrânia. A maioria dos outros foi assassinada durante a Revolução Bolchevique e em guerras subsequentes, ou tinha sido expulsa do país. Ele tinha passado seis anos e meio no Gulag Siberiano,mas no início da década de 70, teve permissão de deixar a União Soviética com alguns outros dissidentes. Ele foi para Israel, onde assumiu uma posição de liderança entre os mais antigos de Breslov em Jerusalém.

Poucos anos depois, em 1979, chegou uma mensagem a Reb Michel. Era da Sra, Zubeida, a mulher que morava perto do local onde estava enterrado o Rebe Nachman. Ela tinha sido informada que vários prédios de apartamentos de nove andares iriam ser construídos em sua vizinhança. As pessoas que moravam na área receberiam apartamentos, mas foram avisadas que suas casas seriam destruídas, e que a área inteira seria cavada – incluindo o local do túmulo.

A Sra Zubeida ficou especialmente preocupada sobre seu jardim e as galinhas que ela criava ali, portanto pediu às pessoas que tinham vindo visitar Uman naquela época para conseguir falar com Reb Michel.

Reb Michel e os outros anciãos consultaram vários rabinos sobre ter o túmulo mudado, e sua decisão foi bastante clara: Como Rebe Nachman tinha indicado que ele queria ser enterrado em Uman, as autoridades teriam de ser persuadidas a deixá-lo permanecer ali.

“Conheço os russos,” disse Reb Michel, “e suborno não vai funcionar aqui pois esses prédios de apartamentos são parte de um plano de cinco anos que vem direto de Moscou. Portanto a única maneira de interceder é se conseguirmos que o governo americano peça à Rússia para não destruir o túmulo.”

Eu era casado e morava em Nova York, em Brighton Beach, quando recebi um telefonema de que Reb Michel estaria chegando. Ele não falava uma palavra em inglês, e não conhecia ninguém ali. Eu poderia ajudar?

Poucos dias depois, após eu recebê-lo no aeroporto, Reb Michel mostrou-me algumas cartas que tinha trazido com ele. Havia cinco de que me lembro: Uma para o Presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, outra para o Rebe de Lubavitch; outra para o Rebe Satmar; para o Rabino Moshe Sherer, diretor de Agudas Yisroel da América, e para o Rabino Moshe Feinstein, uma das autoridades haláchicas líderes na época.

Faltavam poucos dias para Shavuot, portanto um amigo sugeriu que levássemos a carta ao Lubavitcher Rebe logo depois da festa. Lembro-me de ir ao 770 e ver milhares de pessoas reunidas ali. O Rebe falava, havia melodias, e foi um lindo farbrenguen. Então todos ficaram em fila e o Rebe começou a derramar vinho para cada pessoa e desejar-lhes l’chaim. Havia tantas pessoas passando que quando chegou nossa vez não havia tempo para falar.

Mas o Rebe tinha bons olhos, e ele percebeu que quando Reb Michel lhe entregou a carta, era importante. Ele a pegou, colocou de lado e Reb Michel entendeu que ele sabia o que fazer com ela.

Com certeza, dois ou três dias depois, recebemos uma mensagem do Rebe: “A pessoa com quem você precisa entrar em contato é Rabino Pinchas Teitz. É ele que pode ajudar você.”

Olhei para Reb Michel, pensando que ele ficaria desapontado, e que talvez tivéssemos de marcar um encontro com o Rebe para ter uma resposta mais detalhada. Mas Reb Michel estava satisfeito. Ele entendia que precisávamos de orientação, e agora sabíamos com quem falar.

Rabi Pinchas Teitz tinha estabelecido do zero uma comunidade judaica em Elizabeth, Nova Jersey, e ele era um líder brilhante. Sabia como lidar com todos, e fazia conexões com todos os tipos de pessoas importantes.

Reb Michel e eu fomos contar a história inteira para ele, e após verificar, Rabi Teitz apanhou uma carta escrita sobre a Casa Branca de sua gaveta. “Deixe-me ler isso para você,” ele disse.

A carta era assinada por Robert Lipshutz, um amigo próximo do Presidente Jimmy Carter e do conselho da Casa Branca. Era uma carta de agradecimento, escrita em nome do presidente e do governo dos Estados Unidos.

Quando Jimmy Carter estava se candidatando a presidente, os líderes da comunidade judaica praticamente o ignoraram. Ele era um fazendeiro de amendoim religioso da Geórgia e eles estavam certos de que ele não iria tornar-se presidente, portanto gastavam seu tempo e esforço com outros candidatos. Mas Rabi Teitz dizia: “Quem sabe?” Parece que Rabi Teitz discutiu a questão com o Rebe, que disse a ele para assegurar de manter contato com todos.

Assim ele fez. Convidou Jimmy Carter para vir e encontrar com sua comunidade, e as notícias daquela visita foram divulgadas na televisão e no rádio. Era um dos únicos encontros que Jimmy Carter tinha na época com representantes da comunidade judaica, e esta carta era para expressar sua apreciação.

A carta terminava dizendo: “Se você precisar de nós, a porta da Casa Branca estará aberta para você.” Rabi Teitz disse: “Guardei essa carta por vários anos, e nunca tive um motivo para usá-la. Mas talvez isso fosse tudo para Rebe Nachman – pode ser que agora seja a hora de aceitar a oferta do Presidente.”

Junto com Rabi Aryeh Kaplan, preparamos uma apresentação completa sobre o assunto, e Rabi Teitz a enviou para Robert Lipshutz. Então esperamos e rezamos.

Pela Providência Divina, isso foi uma ou duas semanas antes do primeiro encontro em décadas entre o Presidente dos Estados Unidos e o Secretário Geral da União Soviética. Leonid Brezhnev estava indo se encontrar com Jimmy Carter em Viena, e logo soubemos de Robert Lipshutz que Carter tinha concordado em abordar esse assunto durantes suas negociações.

Pouco depois depois, tivemos a resposta do embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoly Dobrynin. Ele entregou uma mensagem para a Casa Branca dizendo que o Kremlim reconhece que há um local importante na Rua Belinsly número 1 e embora eles seguirão em frente com o projeto de construção do prédio, eles irão assegurar que o local não seja prejudicado de forma alguma.

Foi simplesmente incrível! E ainda temos uma enorme gratidão a Rabi Teitz, que com sucesso salvou o local de enterro de Rabi Nachman, bem como ao Lubavitcher Rebe, que em um momento de crise, nos colocou no caminho certo.