Pouco antes de Pêssach em 1980, o Rebe iniciou uma nova campanha para ensinar as crianças sobre a festa e para torná-las empolgadas a comer matsá, realizar um Seder, e aprender sobre as mitsvot relacionadas.
Na época, eu era um aluno da yeshivá recém-casado que tinha me inscrito numa iniciativa do Rebe para matricular mais crianças em escolas judaicas, e agora me tornara parte também dessa iniciativa. Entre as atividades para publicar o projeto Pêssach, imprimimos e distribuímos 250.000 folhetos que nomeamos de “Matzah Ball Contest”, (Concurso de Bolinhos e Masá ou seja, o famoso Kneidalach) exibindo os prêmios que poderiam ser ganhos por crianças que cumprissem as mitsvot associadas à Pêssach. Junto com meus alunos da yeshivá, eu ficava fora das escolas para distribuir os folhetos e colocar em caixas lotadas de correio em áreas judaicas de Nova York.
Foi uma ideia brilhante. Ninguém tinha pensado em fazer uma coisa dessas antes, mas o Rebe argumentava que se as crianças se envolvessem nas mitsvot de Pêssach, elas naturalmente iriam envolver seus amigos e parentes. E não havia uma maneira melhor de mantê-las interessadas do que fazendo um concurso e entregando prêmios.
De fato, este projeto obteve um tremendo sucesso – recebemos dezenas de milhares de respostas de crianças de toda a Nova York. E ouvimos muitas histórias sobre famílias que não tinham celebrado Pêssach durante muitos anos mas o fizeram neste ano porque as crianças estavam entusiasmadas com isso. Também ouvimos sobre famílias que tinham previamente observado Pêssach de maneira superficial, mas este ano o fizeram de forma mais detalhada, contagiadas pelo ímpeto de seus filhos.
Mal o projeto acabou o Rebe teve outra ideia brilhante – uma organização para crianças que ele chamou de Tzivot Hashem, “O Exército de D'us.”
No quinto dia de Sucot, o Rebe realizou um encontro para crianças na sede do Chabad no 770 da Eastern Parkway, onde ele explicou como essa organização iria funcionar.
Crianças que participassem do estudo de Torá e cumprissem mitsvot e, através dessas atividades, iriam avançariam de posto – começando como soldados rasos e progredindo para sargentos, majores, coronéis e até generais, assim como no exército. Emcertas épocas do ano, haveria corridas com prêmios e medalhas.
Essa não era apenas uma atividade educativa, o Rebe dizia. Isso ia muito mais longe, pois a meta do Tzivot Hashem era nada menos que trazer a Redenção Final, e por isso o lema se tornou “We want Mashiach now!”, Queremos Mashiach agora!”
Essa organização era muito importante para o Rebe e ele falava frequentemente sobre ela. Porém, logo ficou claro que o Rebe estava insatisfeito com a direção que o Tzivot Hashem estava tomando, porque não havia ninguém tomando conta. Um grupo de alunos da yeshivá estava investindo muita energia nesse projeto, mas não havia nenhum plano organizado ou supervisão.
Enquanto isso, eu tinha apenas terminado de dirigir uma colônia de férias judaica na qual 500 crianças participaram, e estava planejando junto com minha esposa para atuarmos em algum lugar do mundo como emissários do Rebe. Mas antes que isso pudesse ser realizado, recebi uma oferta para dirigir o Tzivot Hashem. A princípio, eu não estava interessado, porque queria atuar como emissário Chabad em algum local distante, mas quando pedi conselho ao Rebe, ele respondeu: “Dê prioridade ao que você já está envolvido, especialmente porque está indo bem,” significando que eu deveria continuar meu trabalho com projetos para crianças.
Portanto concordei em dirigir o Tzivot Hashem por um ano, esperando que quando eu colocasse tudo funcionando, ele iria continuar por si mesmo assim como as outras campanhas que o Rebe tinha iniciado – tefilin, mezuzá, acendimento de velas, etc. Mas não foi assim. Eu não iria ficar por um ano – fiquei pela vida toda.
Lançar qualquer projeto maior é muito difícil, especialmente quando se trata de financiar. No caso do Tzivot Hashem, era especialmente desafiador porque desde o início, tivemos muito sucesso para atrair crianças – tivemos 50.000 crianças apenas no primeiro ano – e fazer tamanho empreendimento envolve considerável arrecadação de fundos.
Mas tínhamos a bênção do Rebe e o envolvimento dele. Tzivot Hashem era uma iniciativa à qual o Rebe deu prioridade máxima. Sempre que surgia uma questão, o Rebe respondia em minutos. Ele estava nos dirigindo, aconselhando e inspirando para constantemente seguir em frente com novas ideias, aceitar um novo projeto e acrescentar novas partes a este programa fenomenal.
A resposta foi impressionante, mesmo se tivéssemos algumas críticas. Uma dessas – um rabino de Nova York que pensava que recrutar crianças para um “exército” iria encorajar a violência – o Rebe respondeu com uma carta de quatro páginas (que desde então têm sido publicadas).
O Rebe escreveu que ele havia pensado muito sobre o que as crianças americanas estavam mais precisando. Ele percebeu que elas precisavam entender que não podem fazer tudo que querem ou pensar que este mundo é apenas um passeio de graça. Há alguém que dirige o mundo e este Alguém é D'us. Se você faz parte do Tzivot Hashem, “O Exército de D'us”, compreende isso. Você assimila que é um soldado, que tem de escutar o que seu Comandante diz para fazer. Se crianças judias realmente entendem essa ideia – o Rebe escreveu – isso mudará a trajetória de suas vidas. Essa é a razão pela qual ele encorajava tanto.
Quando as pessoas iam ver o Rebe, ele sempre perguntava se seus filhos eram membros do Tzivot Hashem. E ele perguntava às crianças: “Que posto você ocupa?” Você conseguiu envolver seus amigos também?” Lembro-me claramente de receber um telefonema do Rabino Leibel Groner, o secretário do Rebe, no meio da noite dizendo-me que uma menina tinha sofrido um acidente de carro e estava em condição crítica. E o Rebe queria que ela fosse elevada a um posto mais alto mais alto no Tzivot Hashem do que aquele que ela ocupava, a fim de ajudá-la a se curar mais rapidamente.
Fui imediatamente ao escritório e encontrei o cartão de registro dessa criança. (Na época, não tínhamos computadores, portanto os nomes das crianças registradas estavam em cartões, e tínhamos dezenas de milhares deles.) Encontrei o dela, elevei sua patente de soldado à sargento, e ela teve uma completa recuperação.
O quanto o Rebe se preocupava com o Tzivot Hashem é evidenciado pelos muitos encontros que ele organizou para as crianças – mais de oitenta – nas quais ele falava diretamente para elas, no nível delas. Coletamos todas essas palestras e publicamos seis livros!
Lendo as transcrições dessas palestras, percebe-se que o Rebe confiava nas crianças mais do que nos adultos. Ele dizia que crianças abaixo da idade de bar ou bat mitsvá – para quem o Tzivot Hashem havia sido criado – são puras e inocentes . Elas falam o que pensam, e fazem tudo com total sinceridade. Talvez seja por isso que o Rebe dedicou tanto tempo para elas – algo que nos anais da história judaica nunca fora realizado por nenhum outro líder judeu. Mas o Rebe acreditava que, com a sua pureza, essas pequenas crianças eram realmente capazes de trazer Mashiach agora.
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