Quando me mudei para Berkeley para abrir um Beit Chabad em 1972, o local era muito tumultuado. Eu me vi fazendo muito trabalho com jovens que tinham saído de casa e de alguma forma perdido contato com seus pais. Eu recebia dois ou três chamados por semana de mães dizendo: “Minha filha está num retiro religioso em algum lugar. Pode tentar fazer contato com ela?”
Eu estava tão ocupado indo visitar aquelas pessoas que comecei a levar meu talit e tefilin comigo em meu carro, em caso de eu ficar preso em algum lugar durante a noite. Em uma sexta-feira, enquanto estava sentado no Beit Chabad, recebi uma chamada de um Sr. Friedman.
Entre soluços, o Sr. Friedman contou-me que sua filha estava a caminho do Havaí com um jovem que se voltou ao cristianismo. Ela sentiu-se atraída por ele e pela sua nova religião e eles estavam ficando juntos numa pequena cidade chamada Emigrant Gap, mas logo após o Shabat, eles partiriam para o Havaí.
“Por favor,” ele diz, “peço que você fale com ela antes dela partir.”
Faltavam poucas horas para o Shabat, mas enquanto ele estava falando, lembro-me de ver um sinal para Emigrant Gap na estrada interestadual I-80, depois de Sacramento. Não muito longe, eu acho.
Por algum motivo, eu me ouvi dizendo: “Vou fazer o meu melhor.” Liguei para minha esposa e disse que estava indo para Emigrant Gap, perto de Sacramento. Fica a cerca de duas horas de distância, portanto conseguiria voltar antes do Shabat.
“OK,” ela concorda relutantemente. “Mas lembre que após o Shabat teremos um evento especial em casa, portanto você precisa estar de volta.”
“Sem problema,” eu disse.
Só um detalhe, naquela época não havia celulares, nem Waze ou GPS. Apenas entrei no carro e comecei a dirigir. E então continuei dirigindo. Quando passei por Sacramento pensei: “Agora não vai estar longe,” mas estava. Parei em algum lugar para perguntar sobre as direções que deveria seguir, e fui informado que eram mais 120 km.
A essa altura, eu não conseguia parar. Não sabia o que era, mas havia algo que me impedia de retornar. Encontrei uma cabine telefônica e liguei para minha esposa.
“Não está parecendo nada bom...”, relatei, “desculpe, mas eu não vou conseguir voltar antes do Shabat.”
De volta à estrada, após o que pareceu ser uma eternidade, finalmente vi um sinal dizendo: Emigrant Gap, população treze. Foi talvez meia hora antes do Shabat.
Indo para a saída, havia um pequeno posto de gasolina, mercearia e correio – tudo em uma pequena loja – e entrei lá com meu endereço. “Oh, sim,” disse o lojista, “é cerca de trinta minutos pela estrada.”
Comprei algumas sardinhas e outras comidas casher que podia levar, e quando encontrei o endereço, o Shabat estava quase começando. Tirei minhas coisas do carro, e bati na porta.
O jovem rapaz afro-americano atende.
“Estou procurando por Dina Friedman,” eu informei.
“Sim, ela está aqui,” ele respondeu. “Entre.”
Ele foi muito gentil, mas quando a jovem lá dentro me viu, ela olhou-me com raiva nos olhos e saiu sem dizer uma palavra. Era Dina, e ela sabia que seu pai tinha me enviado.
“Espero que esteja tudo bem eu passar a noite aqui,” eu disse, rezando para que meu anfitrião não me mandasse embora.
“Não há problema.” Ele abriu um saco de dormir sobre o chão numa sala ao lado, e nos sentamos para conversar.
Este jovem casal tinha planos para se casar, mas eu podia dizer que este homem também era novo para qualquer grupo cristão em que eles tivessem entrado. E então eu disse a ele: “Você sabe que sua namorada Dina nasceu judia. Ela pode não saber muito sobre isso, mas você a está convidando a uma nova religião. Portanto antes que ela entre em sua religião, talvez ela devesse descobrir mais sobre a dela.”
Ele não se opôs à ideia. “Você pode estar certo,” ele concordou. “Talvez depois que nos casemos ela possa ir aprender sobre o Judaísmo durante alguns meses. Você tem alguma ideia?”
Falei a ele sobre Beit Chana em Minnesota, que é um seminário dirigido pelo Rabino Manis Friedman para mulheres que estão retornando às suas raízes judaicas. Ele entrou no jogo.
Enquanto isso, Dina não estava sequer disposta a falar comigo. Então passei muitas horas falando com ele naquela noite, e na manhã, rezei, comi minhas sardinhas, e então continuamos conversando. Não foi um Shabat muito formal, para dizer o mínimo.
Obviamente, o namorado de Dina estava muito empolgado sobre sua religião recém-descoberta, e estava interessado em falar porque ele estava tentando vendê-la para mim. No meio de sua fala, porém, continuei falando sobre Dina, e sobre o que ela precisava fazer. Mas tudo dependia dela, e ela não estava tendo nada disso. Quando o Shabat chegou ao fim, percebi que eu tinha falhado.
Peguei meu talit, fui para o meu carro, e estava prestes para ir embora. Meu carro era um pequeno MG de dois lugares, e ao ligar o motor ela apareceu de repente, segurando uma mochila.Foi direto até meu carro, abriu a porta, colocou sua bolsa atrás do banco, e se sentou. Eu não sabia o que a tinha feito mudar de ideia, mas era melhor eu não fazer perguntas e dar logo a partida.
Talvez vinte minutos se passaram quando ela finalmente falou. “Você não tem ideia por que estou indo com você, tem?” ela perguntou.
“Não, não tenho. Por que você não me conta?”
E então Dina começa a chorar. “Toda a minha vida,” ela começa, “meu pai tem me dito que quando eu era criança, ele me levou para ver o Rebe de Lubavitch.”
Sua mãe tinha falecido, Dina explicou, e seu pai estava preocupado sobre como ela iria crescer sem uma mãe. Em particular, ele estava preocupado sobre o que seria da identidade judaica dela.
Eles foram de sua casa em Manhattan para uma audiência com o Rebe e o Sr. Friedman pediu uma bênção para criar sua filha como judia.
O Rebe deu sua bênção, e então acrescentou: “Se você estiver tendo qualquer dificuldade com o Judaísmo de sua filha, chame Chabad, e iremos ajudar você.”
“Toda a minha vida eu ouvi essa história contada pelo meu pai.” Diz Dina quando se volta para mim, “e agora você vem. Ele lhe contou sobre tudo isso?” ela pergunta.
“Não,” eu respondo, “Ele não mencionou o Rebe nenhuma vez.”
“Bem, é assim que meu pai é – ele fala muito pouco. Mas estou dizendo a você, você está cumprindo uma promessa que o Rebe fez para meu pai.”
Levei-a de volta para Berkeley, arranjamos um voo para ela, e a levei até o aeroporto. Ela foi para Beit Chana, e por fim se tornou observante. Eu soube que hoje ela está morando com uma família em Jerusalém.
Quando liguei ao escritório do Rebe para relatar que eu tinha cumprido a promessa feita ao Sr. Friedman, o Rebe respondeu simplesmente: “Obrigado, obrigado por essa boa notícia.”
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