Quando eu tinha três anos de idade, meus pais foram informados pelos médicos em Israel – onde eu nasci e fui criada – que uma válvula no meu coração estava danificada e teria de ser substituída. Porém, pude levar uma vida normal, casei-me aos vinte anos, e tive duas filhas.
Foi somente quando meu marido, Rabino Moshe Moscowitz e eu, nos mudamos para Chicago em 1983 – onde ambos aceitamos ofertas para lecionar – que meus problemas do coração aumentaram. Comecei a me sentir extremamente fatigada, e fui ao hospital para fazer testes. Foi quando o Dr. Ira Weiss, o cardiologista do Rebe que morava em Chicago, se tornou também meu cardiologista.
Após ver os resultados do meu eco-cardiograma, ele me disse: “Leah, meu conselho é que você tenha a válvula do seu coração substituída imediatamente.”
Ter uma grande cirurgia aos vinte e três anos era assustador. Eu também sabia – tendo sido informada antes – que isso iria significar o fim da minha capacidade de ter filhos, e eu não podia imaginar isso pois queria ter uma grande família. Eu disse ao Dr. Weiss: “Sem a bênção do Rebe eu não concordarei com a cirurgia. Você tem a melhor conexão, portanto por favor peça a ele por mim. Aquilo que o Rebe disser, eu farei.”
Pouco depois, o Dr. Weiss me respondeu: “O Rebe disse para não operar, mas para tratar você com medicamentos.”
Havia um risco da minha válvula cardíaca danificada causar um infarto, portanto o Dr. Weiss prescreveu Coumadin, um afinador de sangue, para impedir isso. Mas eu estava totalmente proibida de engravidar enquanto tomasse essa medicação pois sabia-se que danificava o feto. Além disso, como um de seus efeitos colaterais, causou-me úlceras sangrentas, e fui hospitalizada diversas vezes.
Dr. Weiss sempre me dizia como o Rebe tinha um interesse pessoal na minha condição de saúde, perguntando a ele “Como está sua paciente favorita?” e discutindo com ele o funcionamento do meu coração e outros aspectos da minha condição.
Após passar um ano, o Dr. Weiss determinou que eu poderia descontinuar a diluição de sangue. Com a ajuda de D'us, comecei a me sentir muito melhor e disse que queria mais filhos, mas o Dr. Weiss sentia que seria perigoso para mim engravidar. Porém, ele prometeu consultar o Rebe sobre essa questão na próxima vez que o visitei.
“Quantos filhos a Sra. Moscowitz tem?” o Rebe perguntou ao Dr. Weiss.
“Um menino e uma menina” foi a resposta.
“Se ela e seu marido já cumpriram o mandamento ‘sejam frutíferos e se multipliquem’, por que colocar a vida dela em risco?” o Rebe perguntou.
Porém, o Dr. Weiss estava enganado. Nós não tínhamos um menino e uma menina – tínhamos duas meninas, Goldie e Chaya, e portanto ainda não tínhamos cumprido aquele mandamento. E quando soubemos que o Rebe tinha recebido informação incorreta, ligamos para seu secretário, Rabino Klein, para corrigir aquela informação.
A resposta veio, de que deveríamos consultar uma autoridade haláchica.
Perguntamos ao Rabino Hershel Shusterman, que decretou que – como o Rebe estava obviamente preocupado por minha vida ser colocada em perigo - que eu deveria ter cuidado para não engravidar. Mas eu não estava preparada para desistir. Consultei mais quatro médicos, e todos eles me proibiram de ter mais filhos.
Enquanto isso, percebi que eu estava perdendo tempo. Se eu fosse ter mais filhos, meus médicos insistiam que eu o fizesse antes dos trinta anos. Concordei com isso e decidi perguntar novamente ao Dr. Weiss sobre pedir uma bênção ao Rebe para ter outro filho.
Dr. Weiss me disse: “Há um cardiologista de fama mundial – Dr. Rolf Gunnar – que foi um dos meus mentores, e se ele concordar que é seguro você engravidar, eu perguntarei ao Rebe.”
Tivemos de esperar quatro meses para a consulta, mas após um exame total, o médico nos disse: “Acredito que outra gravidez dará certo, mas você deveria ser monitorada por ginecologistas de alto risco e assegurar que tudo sairá bem.”
Ficamos estáticos e imediatamente telefonamos ao Dr. Weiss com a notícia. “Dr. Gunnar nos deu permissão! Por favor, diga ao Rebe.”
Depois que o Dr. Weiss o fez, ele respondeu: “”Leah, o Rebe sorriu de orelha a orelha e disse: ‘Deveríamos somente ouvir boas novas – eles querem muito ter um menino.’”
Numa noite alguns meses depois – apenas três dias após o falecimento da Rebetsin Chaya Mushka em fevereiro de 1988 – o Rebe estava sozinho na companhia do Dr. Weiss. Todos aqueles que vieram fazer uma visita de uma shivá tinham partido, e ele estavam subindo as escadas, portanto Dr. Weiss faria um exame no Rebe. Naquele momento, com todas as coisas em sua mente, o Rebe voltou-se e perguntou: “Há notícias da Sra. Moscowitz?” Dr. Weiss respondeu que ele não sabia. A verdade era que nós também não sabíamos. Somente soubemos mais tarde que eu já estava grávida naquele dia!
Quando nosso Menachem Mendel nasceu, as palavras do Rebe – “eles querem muito um menino” –ecoavam em nossos ouvidos!
Cinco meses após o nascimento de Mendel, eu estava tendo dificuldades para amamentar porque ele ficava mais dependente da mamadeira do que de mim, enquanto eu estava correndo constantemente em idas e voltas ao hospital. Era noite de sexta-feira e me lembro claramente como, após eu acender as velas do Shabat, fiquei olhando para a foto do Rebe com lágrimas rolando pela minha face. Eu disse: “Este é seu bebê. Por favor me ajude. Eu apenas quero amamentá-lo por mais tempo.”
De repente, houve uma batida na porta, e para minha surpresa, era o Dr. Weiss, que mora a dez quilômetros de distância!
“Recentemente visitei o Rebe,” ele explicou, “e ele perguntou-se se você ainda estava amamentando o bebê, dizendo: ‘Por favor, dê a ela uma mensagem de que é importante e saudável nutrir um filho pelo menos durante os primeiros doze meses.’ Desculpe, Leah, porque não tive uma chance de contar antes a você. Hoje ocorreu que eu estava preso no hospital com um paciente quando chegou o Shabat, portanto estou voltando a pé para casa e decidi parar aqui.”
Eu não conseguia acreditar! Segundos após falar com o Rebe em meus pensamentos, eu tive a resposta e sua bênção. Graças a D'us, eu pude continuar a amamentar.
Em 1991, com trinta anos, tive outro menino, a quem dei o nome de Shmuel.
Onze anos depois, fui informada que finalmente tinha chegado a hora de lidar com minha válvula cardíaca defeituosa. Foi necessária uma cirurgia cardíaca com o coração aberto – cinco horas na sala de operação – mas eles conseguiram colocar um anel de metal ao redor da válvula sem substituí-la. Apenas recentemente, eu tive a válvula finalmente substituída.
Há um pós-escrito para essa história. Anos após o falecimento do Rebe, na celebração do Bar Mitsvá de Mendel, Dr. Weiss fez um discurso impressionante. Ele disse: “Sinto muito, eu esqueci de dar a você este dólar do Rebe. Treze anos atrás, quando eu disse ao Rebe que Menachem Mendel tinha nascido, ele me deu este dólar para dar a você, e eu o guardei durante todo esse tempo.”
Não havia um olho seco na casa. Todos sentíamos a presença do Rebe.
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