Quando a USSR, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, se juntaram às Forças Aliadas para combater os nazistas em 1941, meu pai foi recrutado para o Exército Vermelho, e minha mãe – como muitos outros judeus que lutavam por suas vidas naquela época – saiu do Leste comigo e meus irmãos. Foi como chegamos em Samarkand, a segunda maior cidade no Uzbequistão, onde havia uma grande comunidade judaica, incluindo muitos judeus búcaros e também chassidim Chabad.
Eu tinha apenas três anos quando chegamos a Samarkand, e cresci ali. Enquanto outros conseguiam seguir caminho para o Leste, nós permanecemos para trás porque meu idoso avô não podia viajar.
Nos meus anos de ensino médio, trabalhei meio período numa fábrica cujo dono era um chassid Chabad, e onde alguns outros chassidim também trabalhavam. Um deles era Rabi Moshe Nisselevitch, uma pessoa única que fundou a Organização CHAMA e tive o privilégio de estar entre os primeiros membros. A meta da organização era ajudar a fortalecer a observância da Torá entre os judeus locais, e nos engajamos em muitas atividades – apesar dos riscos envolvidos, pois essas coisas eram contra a lei – como abrir escolas religiosas para crianças pequenas, construir micvaot, e organizar serviços de prece e animados farbrenguens.
Em 1969, meu primo Gershon Jacobson, o famoso jornalista e fundador do jornal Algemeiner, saiu de Nova York para visitar Moscou. Eu estava entusiasmado para encontrá-lo e ouvi-lo falar sobre o Rebe, mas também estava temeroso. Eu sabia que a KGB estava mantendo os olhos sobre qualquer pessoa que se encontrasse com um cidadão americano e que poderia me jogar em água quente e colocar em risco todo nosso trabalho no CHAMA.
Decidi pedir ao meu irmão Betzalel, que morava em Moscou, para investigar e relatar o resultado. Betzalel se encontrou com Gershon que disse a ele que antes das suas outras viagens para a União Soviética, ele tinha perguntado ao Rebe se deveria ver seus membros da família e, a cada vez, o Rebe o tinha aconselhado a evitar isso.
Mas dessa vez foi diferente; o Rebe disse que ele deveria se encontrar com a família, e fazer tudo às abertas, sem tentar esconder nada.
Assim encorajado, encontrei-me com Gershon que me disse empolgado: “Se D'us quiser, daqui a poucos meses você poderá sair daqui!” É claro, fiquei feliz ao ouvir isso, mas eu não sonhava que realmente poderia partir.
Após aquele encontro, meu irmão foi chamado para os escritórios da KGB onde foi interrogado sobre sua conexão com o “jornalista estrangeiro”. Quando ele disse que Gershon era seu primo, eles perguntaram por que ele não tinha relatado essa conexão antes. Para encurtar a história, ele foi demitido do seu cargo como funcionário do governo. Mas como resultado disso, ele fez pedido para um visto para Israel e o recebeu. Quando eu soube, também entrei com pedido e também consegui um visto de saída.
Após sair da Rússia e chegar a Israel, viajamos para Nova York para encontrar o Rebe. Isso foi pouco antes de Pêssach de 1972, quando tivemos o privilégio de conseguir uma audiência privada. Um dos temas que foram abordados durante aquela audiência foi nosso trabalho em Israel. Minha esposa disse ao Rebe que ela tinha sido dentista na Rússia, e ele a encorajou a continuar naquela área. Eu disse ao Rebe que tinha sido um empresário na Rússia e perguntei se deveria entrar no campo industrial em Israel. A resposta do Rebe foi que havia empresários suficientes em Israel. “Você deveria usar seu conhecimento dos idiomas e cultura russa e búcara para trabalhar com imigrantes russos e búcaros em Israel – para assegurar que seus filhos recebam uma educação de Torá.”
Segui seu conselho. Assim que retornei a Israel, comecei logo a trabalhar. Viajava pelas cidades onde havia grandes concentrações de imigrantes búcaros; visitava suas casas e falava com os pais para convencê-los a enviar os filhos para escolas religiosas. Ao mesmo tempo, também tentava encontrar escolas que concordassem em aceitar essas crianças. Eu estava procurando escolas religiosas com dormitórios que seriam bons para crianças dos seis aos dezoito anos, mas apesar de todos os meus esforços, não consegui encontrar nenhuma.
Eu quase desisti, mas então decidi consultar Rabi Simcha Gorodetsky e Rabi Mendel Futerfas, dois chassidim mais idosos da Rússia que agora ajudavam o trabalho do CHAMA. Quando eles souberam dos meus desafios, disseram-me para retornar ao Rebe e perguntar a ele o que fazer.
Viajei a Nova York para ver o Rebe novamente. Expliquei que havia umas poucas famílias, algumas com muitos filhos, que gostariam de enviar os filhos para escolas religiosas, mas nenhuma queria aceitar essas crianças! A resposta do Rebe foi: “Nesse caso, abra uma escola em Kfar Chabad.”
Voltei para Israel e contei a resposta do Rebe para Rabi Futerfas e Rabi Gorodetsky e, como resultado, abrimos aquela que se tornou conhecida como “a Yeshivá Bucara” em Kfar Chabad. Inicialmente, as crianças – cerca de cem delas – ficavam hospedadas em famílias Chabad e estudavam na sinagoga local. Mas esse arranjo não pôde continuar, pois mais crianças queriam se matricular. Então chegou a hora em que decidimos construir um dormitório adequado para todos os alunos. Rabi Shlomo Maidanchik., que ajudava a obter fundos do governo, aconselhou-me a pensar grande e construir dois dormitórios, não apenas um. Escrevi ao Rebe, e sua resposta chegou alta e clara. Ele tinha pegado minha carta e circundado as palavras “dois dormitórios”!
Começamos a construir e apesar de não ter todos os fundos necessários, consegui construir dois dormitórios. Anos depois, quando deixei a instituição, mais de 350 crianças estudavam ali – na escola elementar e no ensino médio.
Hoje, muitos dos alunos da yeshivá atuam como rabinos e professores em Israel e em outras partes do mundo.
Centenas de famílias são construídas sobre os alicerces da Torá graças à “Yeshivá Bucara”, que jamais teria sido fundada se o Rebe não me colocasse no caminho certo.
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