Quando comecei a me inclinar na direção de Chabad, meu pai se opôs a mim mudando meus costumes religiosos, incluindo qual livro de prece eu deveria usar, e marquei minha primeira audiência privada com o Rebe para perguntar a ele o que fazer. Isso foi em 1970, quando eu tinha dezoito anos de idade. Expliquei que eu era descendente de famosos rabinos chassídicos da Polônia e tinha sempre rezado pelo estilo deles (conhecido como nussach Sefarad) mas eu queria começar a rezar de acordo com o costume Lubavitch (conhecido como nusach Arizal).

Há alguns Lubavitchers em nossa família e, morando em Crown Heights, sempre tivemos um relacionamento próximo com Chabad, mas meu pai se apegava firmemente aos costumes que ele aprendera na infância como chassid Radomsker e ele não queria que eu mudasse meus modos.

A resposta do Rebe se provou sábia porque impediu a discórdia no lar: “Como os costumes da sua família também estão baseados nos ensinamentos do Arizal (o notável cabalista do Século 16), é aconselhável que você continue a mantê-los e que reze segundo nusach Sefarad.”

Isso foi o que fiz durante vários anos até meu pai aceitar que eu era um Lubavitcher por inteiro, e por fim ele ficou feliz a respeito. Naquela altura, o Rebe me aconselhou a mudar para os costumes Chabad.

Em seguida eu casei com Judith Sternbuch, uma moça judia da Suiça e, tendo começado uma família, precisava ganhar a vida. Devido ao embargo árabe do petróleo no início dos anos 1970, a economia americana teve uma queda e o trabalho no comércio estava escasso. Eu tinha acabado de receber um grau de formando em Ciência da Computação e meu sogro disse à minha esposa e a mim para irmos à Suiça onde a recessão ainda não tinha chegado e ele marcou entrevistas de emprego para mim. Escrevi ao Rebe pedindo sua opinião, e ele respondeu: “Como você tem muitos prospectos, certamente vai dar certo.” Aceitei a palavra dele como uma promessa e fui à Suiça para as entrevistas.

Naqueles dias na Suiça, um judeu religioso não podia usar uma kipá no trabalho – não era considerado aceitável usar um símbolo religioso no escritório. Mas como um chassid pode não usar uma kipá? Então não tirei, e consegui o emprego – na Companhia 3M . Mais tarde, usar uma kipá no trabalho se provou muito importante em como eu conseguia cumprir minhas obrigações como emissário do Rebe no mundo da alta tecnologia.

Quando estávamos nos mudando para a Suiça, minha esposa e eu fomos ver o Rebe para pedir uma bênção para viajar em segurança. O Rebe nos deu a bênção, dizendo que – como minha esposa, que estava grávida na época, iria voar para Zurique com uma escala em Montreal – ela deveria perguntar ao médico se isso era aconselhável, ou se era melhor voar diretamente.

O comentário do Rebe foi inesperado, mas é claro que perguntamos ao médico, que disse não ver problemas com nossos planos de voo. Porém, como o Rebe abordou este ponto, ele decidiu ser mais cauteloso. Então compramos uma passagem sem escala para ela, que chegou bem e segura.

Pouco tempo depois, eu voei via Montreal, onde havia uma forte nevasca. Como o avião não podia decolar, tive de ficar num hotel, e foi quando aprendi que três semanas antes – justo quando minha esposa estava voando – tinha havido uma grave tempestade de neve em Montreal que, devido aos atrasos do voo, os passageiros tiveram de dormir no chão do aeroporto. Obviamente, não era uma boa experiência para uma mulher grávida. Mas o conselho do Rebe poupou-a de passar por aquele transtorno.

Após algum tempo trabalhando na Suiça para a 3M e depois para a IBM, escrevi ao Rebe perguntando se eu deveria desistir e me tornar um emissário Chabad o tempo todo. A resposta do Rebe à minha pergunta sobre desistir foi: “Por quê?”

Eu entendi – não havia necessidade de eu desistir do meu emprego para ser um emissário; o Rebe queria que eu ficasse e cumprisse minha missão no trabalho, e foi exatamente o que eu fiz.

No começo eu fazia trabalho normal no computador, mas com o passar do tempo, entrei na área de pesquisa e terminei construindo um centro IBM na Suiça onde pessoas importantes, políticos e jornalistas famosos do mundo inteiro iam para descobrir o que a IBM estava fazendo. Fiz isso durante vinte anos, e todos que eu encontrava e viam minha kipá e minha barba comprida viam a face de um judeu da Torá. No meu cargo, eu também viajava pelo mundo inteiro, onde outros judeus me abordavam e eu conseguia influenciá-los positivamente. Isso não teria acontecido se eu não tivesse seguido o conselho do Rebe de permanecer neste campo de trabalho.

Consultei o Rebe também sobre muitas outras questões. Quando, em 1991, um dos meus filhos precisou fazer uma cirurgia grave, escrevi ao Rebe pedindo uma bênção. Com uma certa apreensão, esperei sua resposta porque sabia que o Rebe não iria responder sob determinadas circunstâncias. Descobri isso anos antes quando meu avô tinha desmaiado na rua num Shabat e foi levado para o hospital. Meu pai foi com ele, enquanto eu ia procurar o Rebe para pedir sua bênção. Aproximei-me dele quando ele saía do escritório mas quando fiz meu pedido, o Rebe não respondeu. Ele apenas inclinou a cabeça. Somente mais tarde entendi sua reação – enquanto eu estava falando com o Rebe, meu avô já tinha ido embora deste mundo.

Dessa vez o Rebe respondeu: “Azkir al hatzion – “Eu irei mencioná-lo à beira do túmulo,” referindo-se ao local de descanso do Rebe Anterior onde ele sempre ia rezar. Essa era uma resposta “padrão” que o Rebe sempre dava, e devo admitir que eu não estava tão feliz com isso porque não soava como uma bênção plena para uma operação bem sucedida ou para uma breve recuperação.

O Rebe também acrescentou seu conselho: Deveríamos pedir uma segunda opinião.

Consultamos outro médico, embora não fosse algo aceitável de se fazer na Suiça naqueles dias, mas seu veredicto foi o mesmo – uma operação era o melhor.

No domingo antes de ocorrer a operação, minha mãe decidiu implorar ao Rebe, esperando uma bênção mais direta. Ela ficou na fila enquanto ele estava entregando dólares para caridade e quando chegou a vez dela, ela irrompeu em lágrimas: “Meu neto precisa de uma operação...”

“Eu já respondi ao seu filho,” o Rebe respondeu. “Vai dar certo.” Ela se acalmou, mas quando saía, pensou: “Eu nunca sequer disse quem eu sou, e a última vez que vi o Rebe faz quase vinte anos. Como ele sabia que a pessoa que escreveu a ele para uma benção era meu filho?”

Mas ele sabia.

A operação foi bem sucedida e meu filho não apenas se recuperou mas curou-se totalmente. Quando o Rebe disse: “Azkir al hatzion,” ele realmente pronunciava uma verdadeira brachá; não precisávamos nos preocupar.