No verão de 1966, meus pais decidiram visitar Israel e me levaram junto – eu era jovem na época, ainda solteiro. É claro, antes de sairmos de Nova York, fomos visitar o Rebe para ume bênção, e naquela época, o Rebe deu-me uma missão para cumprir em Israel.
“Eu soube que nas sinagogas em Jerusalém, há muitos manuscritos chassídicos espalhados por toda parte,” ele disse. “E eu fiquei me perguntando o que aconteceu com a biblioteca de Radatz.”
Por Radatz, o Rebe queria dizer Rabi Dovid Tzvi Chein, o legendário chassid Chabad que atuou durante muitos anos como o rabino de Chernigov, Ucrânia, e que, ao final da sua vida, mudou-se para Israel onde faleceu em 1925.
“Além disso, havia um colecionador de literatura chassídica chamado Bichovski,” continuou o Rebe. “O que aconteceu com sua coleção depois que ele morreu? Você consegue descobrir quando estiver em Israel?”
Levei essa missão muito a sério, e passei as três semanas inteiras que estive em Israel indo de uma sinagoga para outra, procurando, pesquisando.
Meus esforços eram bastante ajudados por Rabi Chanoch Glitzenstein que investiu grande parte do seu tempo para localizar muitos desses panfletos. Além disso, recebi ajuda de Zelda Schneerson Mishkovsky, a famosa poetisa israelense, cuja mãe era filha de Radatz e cujo pai era o irmão do pai do Rebe, o que a tornava prima do Rebe.
Entre outras coisas, ela me deu um caderno que pertencera à mãe do Rebe, Rebetsin Chana, detalhando as dificuldades que os pais do Rebe sofreram na Rússia depois que o pai do Rebe foi aprisionado e exilado numa aldeia remota no Cazaquistão. O texto do caderno começa assim: “Não sou uma escritora, nem filha de escritora...”e que tem sido desde então publicado e amplamente distribuído.
Conheci outros membros da família Radatz e também da família Bichovski, e eles foram gentis o suficiente para dar-me tudo que tinham. Mas uma das coisas mais interessantes que aconteceram foi meu encontro com o Rabi Nisan Horowitz, um mentor espiritual dos chassidim Chabad que morava em Jerusalém. Quando o abordei para perguntar se ele tinha livros e manuscritos chassídicos para entregar ao Rebe, ele respondeu: “Tenho de contar uma história a você.”
“Uma semana depois que Bichovki faleceu,” ele começou “eu estava sentado na sinagoga Chabad em Jerusalém quando a filha de Bichovski entrou. Ela tinha acabado de sair da shivá pelo seu pai, e levava um grande pacote de papeis e o deixou ali.
“Eu fiquei curioso,” ele continuou,“portanto olhei dentro. Estava repleto de papeis antigos escritos à mão. Decidi levá-los para casa para preservá-los. E agora você chegou – pela Divina Providência! – e estou feliz por poder enviá-los ao Rebe. Por favor, garanta que ele os receba.”
No dia em que voltei de Israel com meus pais, o telefone tocou. Era Rabino Leibel Groner, o secretário do Rebe, chamando para dizer que o Rebe queria nos ver naquela mesma noite. O Rebe normalmente não recebia ninguém nos dias anteriores a Rosh Hashaná, mas neste caso, ele queria nos ver imediatamente.
Lembro-me claramente de entrar no escritório do Rebe carregando uma grande valise azul repleta até a borda. E as primeiras palavras que o Rebe disse foram: “”Obrigado por você cumprir sua missão e encontrar esses livros e manuscritos chassídicos.”
Durante aquela viagem a Israel, fui apresentado à minha futura esposa e nos tornamos noivos, mas o casamento foi protelado até o verão seguinte porque o Rebe me instruiu a primeiro receber a ordenação rabínica exigida de um juiz haláchico. Porém, com o passar do tempo, ficou claro que a situação em Israel estava ficando muito tensa, e não sabíamos quando poderíamos fazer o casamento. Aqueles eram tempos perigosos – o prelúdio da Guerra dos Seis Dias – mas, é claro, não sabíamos o que iria acontecer.
Nossos parentes estavam perguntando aos meus pais: “Por que vocês estão planejando um casamento em Israel numa época dessas?” Na verdade, naqueles dias as autoridades dos Estados Unidos somente permitiam que americanos viajassem para o Oriente Médio com uma permissão especial porque a situação era assustadora.
Não sabendo o que fazer, meu pai escreveu ao Rebe pedindo conselho. E a resposta veio: O casamento vai ocorrer conforme planejado numa época boa e auspiciosa.” E pela graça de D'us, foi isso que aconteceu.
A guerra antecipada irrompeu em 5 de junho mas, milagrosamente, demorou somente seis dias, e o casamento ocorreu duas semanas depois – numa data boa e auspiciosa – em Kfar Chabad, na Terra de Israel, assim como o Rebe dissera.
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