Meus pais – Rabi Gershon Mendel e Rebetsin Bessie Garelik – foram enviados para Milão, Itália, pelo Rebe há mais de sessenta anos, antes mesmo de eu nascer. Portanto, sou privilegiado de ser um dos primeiros filhos nascidos para seus emissários. E sou também uma das primeiras pessoas a ser chamado Levi Yitschok, nome do pai do Rebe.
Quando minha mãe teve a ideia de me dar este nome, meu pai concordou porque, quando criança, ele tinha passado tempo em Almaty, Cazaquistão. Foi ali que Rabi Levi Yitzchok fora exilado pelos soviéticos pelo crime de ensinar Torá e apoiar a prática religiosa judaica. Embora meu pai nunca tenha encontrado Rabi Levi Yitzchok – pois mesmo estar na vizinhança de um Schneerson naquele tempo então era considerado crime – ele sentia uma conexão com ele. Por fim, meu pai e suas irmãs cresceram muito próximos da mãe do Rebe, Rebetsin Chana, e eles todos escaparam juntos da Rússia. Mas essa é outra história.
Mais tarde, quando eu era criança, meus pais enviaram a Rebetsin Chana uma foto minha emoldurada, e ela escreveu de volta expressando sua gratidão. Parecia que significava muito para ela eu ter recebido o nome de seu marido porque ela colocou minha foto na parede de sua sala de jantar. E ela até dizia a outros: “Eu tenho meu Levi Yitzchok.”
Mas eu nunca conheci a Rebetsin Chana porque na primeira vez que visitei Nova York ela já tinha falecido. Aquela visita ocorreu no inverno de 1967 quando eu tinha sete anos, e minha mãe me levou junto com meus cinco irmãos para encontrar o Rebe. Marcamos nossa viagem para coincidir com Yud-Tet Kislev, dia 19 de Kislev, quando Chabad celebra o “Rosh Hashaná do Chassidismo” porque nessa data em 1798, o Rebe Anterior, o fundador do Movimento Chabad, foi libertado da prisão czarista.
No dia anterior de nossa partida da Itália para a América , a tradução da obra do Rebe Anterior, o Tanya, no idioma italiano acabara de sair da gráfica. Este projeto era muito importante para o Rebe, e ele designo meu pai para fazer isso acontecer. Estávamos levando a ele a primeira cópia, e foi decidido que eu deveria fazer a apresentação. Iríamos todos esperar fora do 770 enquanto o Rebe saía para ir para casa à noite, e foi quando eu iria entregar a ele o novo Tanya em italiano.
Jamais esquecerei a cena. Tínhamos acabado de chegar do aeroporto e estávamos de pé na rua; já estava escuro, pois era dezembro. A luz estava brilhando através da janela do escritório do Rebe, e sabíamos que quando aquela luz apagasse, ele estaria saindo em breve.
Antes disso, eu tinha ouvido a voz do Rebe nas gravações de seus farbrenguens, mas nunca o tinha visto pessoalmente. Agora, finalmente, vi!
O Rebe desceu pela entrada da frente onde estávamos, e então parou. Todos nós recitamos a bênção de Shehecheyanu e o Rebe respondeu Amém, e então fui em sua direção segurando o Tanya italiano, que ainda não estava encadernado – eram apenas páginas soltas cobertas em plástico. O Rebe o pegou com as duas mãos, olhou para ele e disse: “Obrigado!” E então ele entrou no seu carro e saiu.
No Shabat seguinte, houve um farbrenguen, e eu estava muito empolgado em participar. Recebi um local para sentar bem perto da mesa do Rebe, e foi onde fiquei durante todo o evento. Embora eu falasse yidishe, não entendi muito das palestras que o Rebe fez, mas a parte que eu mais gostava era o canto - quando as canções começavam, eu sentia estar no Jardim do Éden. Mais tarde, quando eu era mais velho e entendia mais, olhei para a cópia daquela palestra e vi que o Rebe dissera: “Um dos pontos altos atingidos em honra de Yud-Tet Kislev foi que o Tanya foi impresso em italiano...” Ele falou sobre a ideia de traduzir ensinamentos chassídicos para outros idiomas, e que ao fazer isso estamos realmente refinando essas linguagens e preparando o mundo para Mashiach.
Quando o Rebe terminou de falar, de repente vi pessoas apontando para mim e dizendo “Vai, vai... Vai lá! O Rebe está chamando você.” Olhei para cima e vi que o Rebe estava sorrindo para mim, então fui até ele e ele me entregou um pedaço de bolo. Peguei e me sentei no meu lugar.
Após algumas poucas semanas em Nova York, chegou a hora de irmos para a Itália. Estávamos de pé na entrada do 770, quando o secretário do Rebe se aproximou de nós. “O Rebe quer ver a família Garelik para uma audiência privada agora mesmo!” ele anunciou. Estávamos totalmente despreparados para isso, mas o Rebe tinha nos chamado, então entramos.
O Rebe falou com minha mãe durante algum tempo. Mais tarde eu soube que a maior parte da conversa era sobre minha educação, porque na época a escola Lubavitch em Milão estava iniciando e a maioria do ensino era particular.
Após falar com minha mãe e minha irmã, o Rebe voltou-se para mim e perguntou em yidishe: “Qual é o seu nome?”
“Levi Yitzchok,” eu disse.
“O que você está aprendendo?” ele continuou, sorrindo o tempo todo.
“... Parashat Toledot.”
“O que significa Toledot?”
“Significa filhos.”
“Quais filhos?”
“Os filhos de Yitzchac.”
“E quem eram os filhos de Yitzchac?”
“Yaacov e Esav,” respondi corretamente.
“E qual deles era mais observante?” o Rebe continuou, usando o yidishe “frum” para “observante”. Ora, eu sabia yidishe, mas não tinha ouvido esse termo antes. Então, voltei-me para minha mãe e disse em italiano: “Non capisco quella parola – não entendo aquela palavra.”
Mas, é claro, o Rebe falava italiano, então ele imediatamente disse, me perguntando: “Quem era melhor?”
Eu sabia aquela resposta: “Yaacov!”
“Neste caso, vamos falar sobre Yaacov. Você sabe se ele teve algum filho?”
Sim, eu sabia. Os doze filhos de Yaakov se tornaram as Doze Tribos de Israel. Para minha sorte, meu tio tinha me dado um teste que tinha todos os nomes deles, então eu estava esperando que o Rebe me fizesse essa pergunta, e ele fez.
Fui direto, e comecei a recitar os nomes deles, até que o Rebe me parou no sexto com: “Bom o bastante!”
Mas ele ainda não tinha terminado:“Qual era o nome do terceiro mesmo?”
“Levi,” respondi.
“E qual é o seu nome?”
Nenhum problema para responder aquela pergunta.
Então o Rebe ficou sério e olhou-me direto nos olhos. “E de quem você recebeu o nome?”
Agora, em italiano há uma maneira muito elegante de dizer “seu”, mas eu não sabia o equivalente em yidishe. Então, em vez de dizer “seu pai”, que eu sentia ser desrespeitoso, eu disse: “O pai do Rebe.”
Quando eu disse aquilo, o Rebe deu-me um grande sorriso. Ele então me chamou e deu-me um livro de orações, que guardo com muito zelo até hoje.
Aquela foi minha primeira audiência com o Rebe quando eu era uma criança pequena. Houve muitas outras depois, mas essa sempre ficará na minha memória.
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