Depois que me casei em 1968, matriculei-me no Colel Chabad, estudos rabínicos avançados para homens casados. Era um pequeno grupo novato – havia apenas dez de nós, sentados em duas mesas na sede Chabad em Eastern Parkway 770, estudando Torá juntos. Mas durante a mesma semana em que me casei, houve cinco outros casamentos, então o grupo imediatamente aumentou cinquenta por cento. Logo, a sala em que estávamos não podia mais acomodar todos que queriam participar.

Como o Colel estava funcionando sob os auspícios de Merkos L’Inyonei Chinuch, o braço educativo de Chabad, fui ver Rabi Chaim Mordechai Hodakov, o chefe do secretariado do Rebe, para discutir essa situação. Expliquei o problema e minha solução: “Há um edifício no outro lado da rua que Merkos acaba de comprar. Será que poderíamos ir para aquele edifício e estudar?” Ele me ouviu e disse: “Volto a falar com você.”

No dia seguinte, ele me chamou e disse: “Quem vai assumir responsabilidade pelas atividades naquele edifício? Você? Nesse caso, darei a chave a você.”

“O que eu tenho exatamente de fazer?” perguntei, e ele disse: “Pela manhã você abre a porta, e à noite a fecha.”

Concordei e peguei a chave. Levamos algumas mesas e cadeiras para o prédio, e nos sentamos para estudar.

Cerca de um mês depois, eu tinha acabado de terminar as preces da tarde e estava voltando para o Colel quando vi o Rebe saindo do edifício, seguido por dois dos seus secretários. Ele não disse nada, mas quando passou por mim, deu-me um olhar muito severo.

Ao entrar, encontrei dois homens do Colel parecendo abalados. “O Rebe estava aqui,” um deles gaguejou.

Parece que o Rebe fez uma visita surpresa para inspecionar o local. Ele caminhou ao redor das mesas, olhou para os livros, perguntou aos dois que estavam ali o que estavam aprendendo, e saiu.

“Oh, não,” eu pensei. O Rebe entrara exatamente às 3h30 da tarde, quando os estudos do Colel deveriam terminar, mas somente esses dois homens estavam presentes. Eu sabia que haveria repercussões.

Com certeza, fomos todos chamados ao escritório de Rabi Hodakov.

“O Rebe veio visitar o Colel e ficou muito desapontado,” disse Rabi Hodakov. “Primeiro, ele queria saber por que vocês não têm biblioteca. Vocês somente têm os livros em que estão estudando, mas e se tiverem de procurar algo em outras fontes? Número dois, por que todos vocês estão estudando coisas diferentes? Deveriam aprender juntos um assunto. Número três, onde estavam todos?“

E então ele se voltou especificamente para mim. “O Rebe disse que eu deveria dizer a você, Kaplan, que cinco minutos depois também é tarde.”

Levei aquilo muito a sério, e seu comentário que “cinco minutos depois também é tarde” tem dirigido minha vida no decorrer dos 52 anos desde então.

Enquanto eu continuava a estudar no Colel, um pai me procurou com uma questão sobre sua filha que estava deixando o caminho da Torá e causando grande angústia a ele e sua esposa. Ele já tinha escrito ao Rebe sobre isso e recebido uma bênção, mas ele precisava desesperadamente saber o que deveria fazer para ajudar sua filha. Então ele pediu que eu fosse ao Rebe em prol dele e pedisse seu conselho.

Perguntei a Rabi Hodakov se eu poderia abordar o Rebe quando ele estivesse saindo da sinagoga após as preces e indo para seu escritório. Às vezes, as pessoas faziam isso, mas eu não queria fazer a menos que tivesse permissão. Ele me disse: “Fique a uma distância respeitável onde o Rebe possa vê-lo. Se ele olhar para você, considere isso como um convite para falar com ele.”

Então fiquei onde ele disse. Mas eu estava muito nervoso – meus joelhos estavam tremendo enquanto eu tentava formular o que iria dizer ao Rebe. Ele viu-me imediatamente e me deu um olhar como perguntando: “Você deseja alguma coisa?”

Aproximei-me e falei sobre a questão daquele pai. O Rebe respondeu: “D'us dá aos pais força e habilidade para lidar com questões como essas. Ele nunca coloca fardos sobre pessoas que não possam lidar com eles. Portanto eles deveriam decidir o que fazer e confiar que D'us vai guiá-los para o caminho certo.”

Quando o Rebe se afastou eu não estava certo sobre o que dizer ao pai porque sua pergunta não tinha sido respondida. O Rebe não dissera o que ele e sua esposa podiam ou deveriam fazer. Mas então entendi que, na verdade, o Rebe estava dizendo que ele e sua esposa, como pais, eles teriam concedida a habilidade de lidar com essa situação. E, na verdade, ele ficaram muito gratos por receber essa mensagem e finalmente as coisas deram certo.

A mensagem do Rebe se aplica a todos nós como pais. Ensina que todos temos a capacidade de lidar com os desafios que chegam ao criar nossos filhos. Recebemos a força necessária para reagir a tudo que é colocado diante de nosso caminho. Às vezes podemos pensar que é demais para nós lidarmos com isso, mas o Rebe nos assegura que não é dessa forma: se confiarmos em D'us, Ele certamente vai nos ajudar a tomar as decisões certas.

Tenho dado esse conselho a muitos pais no decorrer dos anos. Quando eles me dizem que se sentem arrasados, digo a eles:

“Se D'us enviou um desafio para você, Ele também enviou a capacidade de lidar com isso e passar no teste. Tenha certeza de que você pode ter sucesso e sair vitorioso.”