Embora eu sempre pretendesse me tornar um rabino um dia, quando entrei na faculdade, decidi me formar em física em vez de teologia ou filosofia.
Tomei aquela decisão porque um professor na Universidade Brandeis, onde eu estava matriculado – o famoso Alexander Altmann – tinha me indagado quais perguntas eu queria responder durante meus estudos. Eu disse: “Quero entender o universo.” E ele respondeu: “Bem, então você deseja estudar física.” Eu protestei: “Não, quero estudar misticismo.” Sua resposta foi: “Oh, pensei que você era sério.”
Eu queria ser sério, e portanto assumi o estudo de física. Pensei que iria me tornar um rabino melhor por causa disso – teria uma formação robusta.
Em 1973, quando eu tinha vinte e um anos e chegando à graduação, passei por uma crise na fé. Como resultado, também perdi minha capacidade de me concentrar durante as preces, que sempre tinham sido meu arrimo.
“...senti minha mente deslizando e minha alma assumindo. Foi uma experiência única – uma experiência de profunda santidade.”Concentração nas preces era muito importante para mim então, e continua sendo até hoje, mas naquela época em particular eu estava deixando o ambiente familiar da universidade e estava temeroso sobre o futuro, o que afetava minha fé.
Então procurei meu mentor espiritual, Reb Zalman Schacter, e confiei a ele meu problema. Sua resposta foi: “Você deveria ir a Nova York comigo e encontrar o Rebe.”
Aceitei seu conselho e fomos. Rezamos na sede mundial de Chabad na semana seguinte. Não entrei para ver o Rebe numa audiência particular, apenas o encontrei no saguão quando ele estava saindo da sua sala. Mas aquele encontro foi bastante memorável. Na verdade, mudou-me para sempre.
Enquanto estávamos ali, o Rebe veio diretamente para mim. Fiquei impressionado pelos seus penetrantes olhos azuis e pela intensidade da sua personalidade. Sem qualquer preâmbulo, ele me perguntou: “Você acha que prótons decaem?”
Ele não perguntou quem eu era, nem onde ou o que eu estudava. Reb Zalman mais tarde disse que nunca contara a ele nada sobre mim. Porém, ali ele estava fazendo-me perguntas sobre física.
Ele continuou: “Por que neutrinos saem numa direção do ponteiro do relógio?”
Respondi a ele em monossílabos. Ele deve ter sabido que eu era capaz de dar as respostas. Mas as perguntas não eram simples – ele me fazia pensar, e me atirava as perguntas com tamanha velocidade que eu tinha de pensar rapidamente. Era impressionante como ele fazia as perguntas no meu nível de conhecimento, assim deixando-me à vontade e ainda abrindo minha mente.
Ao final ele disse: “Volte para a universidade e garanta que tudo o que estuda leva você a D'us. Veja Ele em tudo que aprender. Se não fizer isso, então procure mais. Porém assegure que você somente foca nas coisas que levam você a D'us.”
O encontro durou apenas alguns poucos instantes, embora para mim parecesse muito mais longo porque me transportou. Senti como se tivesse perdido meu apego com a realidade. E isso era totalmente novo para mim porque eu sempre tinha sido uma pessoa com os pés firmes no chão. Porém, senti minha mente deslizando e minha alma assumindo. Foi uma experiência única – uma experiência de profunda santidade.
Senti que o Rebe abrira uma porta para outros âmbitos de consciência na minha cabeça – âmbitos que eu não sabia que existiam. Eu tinha acessado minha imaginação e meu intelecto e até minhas emoções naquele momento, e todo o medo que eu tinha fora destruído. Na presença do Rebe, senti coragem – sua coragem – em mim.
Mais tarde percebi que eu nunca tinha pensado nos meus estudos como um caminho a D'us antes de encontrar o Rebe, mas desde então, tenho tentado seguir seu conselho: ver como tudo está conectado a D'us.
Há muitas linguagens no mundo: há a linguagem da ciência, e a linguagem da literatura; a linguagem da arte e a linguagem dos negócios; a linguagem do Judaísmo, que é a linguagem da Torá. Mas elas não precisam ser linguagens estrangeiras desconectadas umas das outras; você pode reuni-las e fazê-las falar como uma só.
Atualmente, estamos muito ansiosos para separar as coisas; não estamos nunca juntando. Em vez disso, estamos tirando a divindade para fora de tudo, porque percebemos o mundo em pedaços, vazio de unicidade, em vez de um todo interdependente.
Eu nunca percebera nada disso antes, e portanto as palavras do Rebe para mim foram incrivelmente transformadoras. Minhas dúvidas desapareceram; minha concentração na prece retornou: e mais importante, meu estudo se tornou mais profundo. Embora eu já fosse observante de Torá, tornei-me mais engajado no significado interior das coisas.
Depois que me formei em Brandeis, fui estudar na Yeshivá HaMivtar em Jerusalém, fundada pelo Rabino Chaim Brovender e então retornei aos Estados Unidos para estudar com Reb Zalman.
Aprendi muito, recebi ordenação rabínica, e me tornei um professor por mim mesmo. Mas nunca esqueci aquilo que o Rebe me ensinou naquele único encontro.
Naqueles poucos minutos, senti pelo Rebe aquilo que raramente tinha sentido de outros líderes, religiosos ou políticos: uma paixão vibrante e uma visão daquilo que o mundo poderia ser. A presença do Rebe me tocou, e em alguma forma estranha, aumentou a velocidade da nossa interação. A física moderna ensina que, na suprema velocidade, o tempo para e há somente o momento presente. Os seguidores do Rebe sentiram tal momento com seu líder. Passei por um momento assim e jamais me esquecerei disso.
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