Quando eu era jovem, enquanto estudava na Yeshivá Chabad Torat Emet em Jerusalém, tornei-me curioso sobre o passado do Rebe. É claro, eu sabia que o Rebe partilhava seu sobrenome com o Rebe Anterior – que era seu sogro – e que ele era o descendente do famoso Tzemach Tzedek, ma eu não sabia nada além disso.
Meus colegas de estudo também não sabiam nada mais, e quando perguntei aos idosos na yeshivá, não recebi mais detalhes. A falta de informação me incomodava muito – simplesmente não parecia certo. “Ele é o nosso Rebe,” pensei, “portanto por que não sabemos mais sobre suas raízes?”
Isso continuou a me perturbar até a idade adulta, e decidi fazer algo a respeito. Então enviei uma carta ao Rebe, dizendo que eu gostaria de escrever um livro sobre seu pai – Rabi Levi Yitzchak Schneerson – mas nunca recebi uma resposta.
Passaram-se nove anos.
Em 1974, durante o mês das Grandes Festas e Sucot, viajei pela primeira vez a Nova York para ver o Rebe. Após a conclusão de Simchat Torá, quando todos se aproximavam dele para receber vinho derramado de seu copo – uma cerimônia conhecida como Kos Shel Brachá – também subi. Quando o Rebe derramou o vinho para mim, ele disse, “Você me prometeu um livro sobre o meu pai. Onde está?”
Fiquei momentaneamente chocado por ele se lembrar de algo ocorrido há tanto tempo, mas então respondi: “Enviei uma carta ao Rebe, mas nunca recebi resposta.”
O Rebe sorriu e disse em voz alta o suficiente para as pessoas próximas escutarem: “Não preciso responder a você. D'us precisa responder a você.”
Ele continuou: “Agora que você está aqui, colete material para o livro. Há muitas pessoas em Nova York que conheceram meu pai. Tente publicar em breve.”
Em instantes, as pessoas que tinham ouvido aquilo que o Rebe falara se aproximaram de mim para dizer que a Rebetsin Chana, a mãe do Rebe, havia escrito um diário no qual descreve longamente tudo aquilo que ela e seu marido tinham passado durante os difíceis anos de perseguição na União Soviética.
Eles me enviaram para as fontes certas, e pude obter cópias de algumas das notas escritas à mão pela Rebetsin nas quais ela descrevia claramente a prisão de seu marido em Yekaterinoslav – onde ele tinha atuado como rabino da cidade durante trinta anos – por alegadamente conduzir atividades contra-revolucionárias – i.e., ensinar Torá. Ela também relatava como, após um ano de prisão e tortura, Rabi Levi Yitzchak foi exilado para a remota aldeia de Chi’ile em Cazaquistão, onde ele continuou a registrar seus novos pensamentos de Torá.
Essa era uma informação estarrecedora, e havia ainda mais. O Rebe deu-me os nomes de vários chassidim da Rússia que conheceram seu pai, e embora alguns deles fossem idosos demais para serem entrevistados, consegui alguns notáveis. Descobri que no bairro Gueula de Jerusalém vivia a poetisa Zelda Schneerson-Mishkovsky, cujo pai, Rabi Shalom Shlomo, era irmão de Rabi Levi Yitzchak. Ela tinha mantido uma longa correspondência com Rebetsin Chana, cartas que continham detalhes adicionais que não eram mencionados nas notas que eu recebera previamente.
Embora eu começasse com nada, quando comecei a trabalhar, mais e mais material surgia todo dia. Eu sentia uma urgência para completar a tarefa, e procurava qualquer pessoa que tivesse informação, e após saberem o que eu estava fazendo, as pessoas começaram a me chamar para partilhar coisas que tinham ouvido.
Pouco a pouco, surgiu um quadro de um homem que corajosamente desafiara os comunistas; um homem que estava em meio a um risco de sua vida para manter o Judaísmo vivo em Yekaterinoslav e então, quando no exílio, trabalhava sob as mais duras condições de vida, abalado pela fome, doença e pouca esperança de libertação; um homem que vivia cada momento pelos ditados de sua alma e sua fé em D'us.
A cada vez que eu terminava de escrever um capítulo, imediatamente enviava uma cópia ao Rebe. Isso era sobre seu pai afinal, portanto ele precisava ser o primeiro a ver. Ele fazia alguns comentários e algumas críticas.
Por exemplo, Rabi Simcha Gorodetzky partilhou comigo uma história interessante. Ele tinha visitado Rabi Levi Yitzchak em Yekaterinoslav e permaneceu lá por duas semanas. Um dia, Rabi Levi Yitzchak apontou para uma sala ao lado e disse a Rab Simcha: “Você vê aquele jovem sentado e estudando ali? Ele é meu filho mais velho , Menachem Mendel. Ele é fluente em ambos, Talmud Bavli e Talmud Yerushalmi, bem como no Midrash e todas as outras partes da Tradição Oral judaica, para não mencionar os ensinamentos cabalísticos…”
Eu incluí essa história em um dos capítulos e – como fiz com todos os demais capítulos – enviei imediatamente ao Rebe. Um dia depois recebi um chamado de Rabi Mordechai Hodakov, o secretário do Rebe, que dizia que o Rebe queria me tirar algumas páginas do último capítulo. “É imperativo que essas partes sejam removidas,” ele escreveu.
Quando recebi a lista de páginas que ele achava inadequadas, percebi que ele tinha deletado todas as histórias que se referiam a ele como um jovem gênio. O Rebe era tão humilde! Obviamente, segui suas instruções, e como resultado, aquele capítulo se tornou muito curto. Mas relatei ao Rebe que eu fizera o que ele pedira, e ele ficou satisfeito.
Cerca de dezoito meses se passaram desde que eu começara a escrever o livro e ainda continuava a acumular novo material. Naturalmente, a edição também levou um longo tempo, e a publicação do livro foi adiada várias vezes. No mês hebraico de Adar de 1976, recebi uma carta do Rebe, na qual ele escreveu: “É uma grande pena que o livro sobre meu pai esteja atrasado por tanto tempo… e até quando? Parece que nem sequer será publicado para 11 de Nissan.” (Ele quis dizer, nem mesmo no seu aniversário.) Com isso eu entendi como esse projeto era urgente para o Rebe.
Comecei a trabalhar ainda mais diligentemente e fiz bastante progresso. Finalmente, logo após Pessach do ano seguinte, 1977, a versão em hebraico do livro foi publicada, chamada Toldot Levi Yitzchak. E, como a primeira obra sobre a vida de Rabi Levi Yitzchak, logo tornou-se muito popular.
Eu soube pelo secretário do Rebe, Rabi Binyamin Klein, que sempre que ele entrava na sala do Rebe – e fazia isso com frequência – via meu livro sobre a mesa do Rebe, o que me fez sentir bastante honrado. E o Rebe também me honrava de outra maneira.
Aconteceu que certa vez me senti mal e tive de ser hospitalizado por duas semanas. Escrevi ao Rebe, pedindo uma bênção para a recuperação completa e, como isso foi por volta do 20º dia do mês de Av, o aniversário de falecimento de Rabi Levi Yitzchak, lembrei a ele que “E u merecia dar prazer ao Rebe escrevendo o livro sobre seu pai.” O Rebe deu-me a bênção que eu pedira e, antes da palavras “prazer”, ele acrescentou “o maior”.
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