Nasci e fui criado em Tel Aviv, onde frequentei a Escola Bilu – a escola religiosa reconhecida pelo coro de seus alunos conduzido pelo renomado cantor, mundialmente famoso, Shlomo Ravitz.
Em seguida, estudei na Academia de Música de Israel e então atuei como cantor nas FDI, em Johannesburgo e em Londres, antes de mudar com a minha família para Nova York em 1973 para assumir o cargo de cantor na Sinagoga da Quinta Avenida onde permaneci desde então.
Após estarmos em Nova York por três meses, um dos membros da sinagoga convidou-me a participar com ele de um farbrengen onde me apresentou ao Rebe, e a partir dali nosso relacionamento se desenvolveu.
Muitas vezes, o Rebe me deu bênçãos para ter sucesso na minha profissão, dizendo para eu viajar e fazer muitos concertos, incluindo concertos para levantar dinheiro para caridade.
Em uma ocasião ele disse: “Você deveria honrar a D'us com sua voz,” explicando: “Segundo nossos Sábios, o versículo de Mishlê, ‘Honra a D'us com sua propriedade’, pode ser lido no sentido de ‘Honra a D'us com tua voz,’ o que se aplica a um cantor.”
Então ele gracejou: “Se eu tentasse, não sei se daria certo – a audiência poderia fugir. Mas quando você canta, mais pessoas vêm e elas aumentam também suas doações.”
Uma outra vez – após eu ter feito uma série de concertos na União Soviética – o Rebe foi especialmente efusivo com seu elogio.
Eu tinha ido à União Soviética em maio de 1989 – três anos após o início das reformas conhecidas como glasnost e perestroika – a convite do Rabino Ralph Goldman do Comitê Judaico Americano de Distribuição. Os soviéticos não permitiam visitas de rabinos, portanto ele teve a ideia de levar cantores judeus, e a isso eles não se opuseram.
Fizemos então uma série de concertos para levar algum Yiddishkeit às pessoas dali, e quando retornei soube que o Rebe gostara tanto do que tínhamos feito que ele desejava me ver. Ele estava particularmente interessado em saber como eu conseguira ter removido o microfone do Coral da Sinagoga em Moscou.
Contei a ele exatamente o que tinha acontecido:
Eu tinha sido encarregado de liderar as preces do Shabat na sinagoga, que possui uma linda acústica natural. Na tarde da sexta-feira, eu fui me familiarizar com o local, e quando subi ao pódio, vi um microfone. Perguntei ao rabino: “O que é isso?” Eu estava chocado por eles violarem o Shabat dessa maneira. Ele explicou que sem o microfone, a congregação não consegue escutar bem.
Eu disse: “Não comigo aqui – D'us abençoou-me com uma voz poderosa.”
O rabino concordou em desligar o microfone, mas aquilo não foi bom o suficiente para mim, porque o microfone ainda estava ali e as pessoas iriam presumir que eu o estava usando. Ele então se ofereceu para remover a cabeça do microfone, deixando apenas a base, mas insisti que aquilo deveria também ser retirado. E então, eles tiveram de quebrar o cimento para fazer aquilo, mas deu certo.
Foi isso que eu relatei ao Rebe, que me congratulou. “Isso irá fortalecer o Yiddishkeit,” ele disse. “Este é um verdadeiro feito. Seu compromisso em manter o Shabat vai mudar a história.”
Das muitas palavras de encorajamento e bênçãos que eu – e minha família – recebemos do Rebe, talvez a mais comovente foi sobre meu filho, Zevi, que nasceu com grave autismo.
Enquanto morávamos em Londres, nós o colocamos numa instituição ali, e quando imigramos para Nova York, o Rebe aconselhou que não deveríamos mudá-lo ao outro lado do Atlântico para outra instituição com a qual ele não estaria familiarizado. Na verdade, a escola para crianças judias com necessidades especiais em Londres era melhor que as outras escolas que encontramos, portanto decidimos mantê-lo ali como o Rebe recomendara.
Em dezembro de 1989, minha esposa e eu fomos ver o Rebe pois ele estava distribuindo dólares para caridade e pedimos uma bênção especial para Zevi. Em resposta, o Rebe nos deu uma impressionante compreensão de crianças autistas.
“Ser autista não significa que eles não podem se relacionar com ninguém,” disse o Rebe. “Com pessoas eles não podem se relacionar, mas com D'us eles podem se relacionar bem como todo mundo, e até melhor. Embora eles não estejam ocupados com pessoas, estão ocupados com D'us.”
Isso foi uma revelação para mim, mas lembrei-me como eu tinha tentado ensinar uma bênção a Zevi e que a repetira perfeitamente, e também eu tinha percebido que seus tsitsit eram muito especiais para ele. Contei isso ao Rebe.
“Ele possui uma caixa de tsedacá em seu quarto?” o Rebe perguntou.
Quando eu disse que ele não tinha, o Rebe instruiu que colocássemos uma ali. Ele disse que a instituição não se importaria, pois caridade é algo que todos apreciam.
“Isso será para benefício dele,” o Rebe acrescentou. “Quando as pessoas chegam para visitá-lo, ele poderá lembrá-las de que devem doar para caridade.”
Fizemos como o Rebe aconselhou e dois anos depois voltamos para informar a ele como seu conselho tinha afetado nosso filho.
A partir do dia em que ele recebeu a caixa de tsedacá juntamente com a bênção do Rebe, Zevi começou a reagir um pouco melhor. Ele começou a se movimentar mais, entendendo o que lhe era dito.
Ao ouvir aquelas notícias, o Rebe nos deu um dólar e disse: “Envie esse dólar para a administração da instituição e peça a eles para colocarem na tsedacá do quarto dele” Aquele foi um gesto muito especial.
O Rebe era um maven – entendia a condição humana desde a essência de uma criança autista até a voz de um cantor, e especialmente o poder de um cantor para honrar a D'us e a elevar as preces de outros.
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