Após ser nomeado como diretor de Shin Bet, também conhecido como Shabak – a agência interna de serviço secreto de Israel – fui enviado aos Estados Unidos como parte do extenso serviço de cooperação da inteligência entre nossos dois países. Isso foi em 1988 e, naquela época, as identidades dos chefes de serviços de segurança como Shabak, Mossad e Aman nunca eram reveladas ao público. Portanto, fiquei muito surpreso quando uma delegação de jovens chassidim Chabad vieram e me disseram que o Rebe queria me ver.

Aos meus olhos, o Rebe era uma das pessoas mais importantes do mundo judaico, fosse religioso ou secular, e portanto eu disse que a honra seria minha – na verdade eu ficaria feliz e empolgado – para encontrar o Rebe se meu programa de trabalho permitisse. Infelizmente, foi impossível, mas prometi que iria marcar um encontro com ele na minha próxima visita aos Estados Unidos.

No ano seguinte o encontro ocorreu, e jamais esquecerei minha primeira impressão do Rebe – seu rosto brilhante e seus olhos intensos que pareciam estar penetrando nas minhas profundezas. Lembro-me também que a atmosfera era bastante agradável e receptiva.

O Rebe começou com algumas perguntas sobre minha história pessoal. Naquela época, Yitzchak Shamir era primeiro ministro, dirigindo um governo de direita, e o Rebe perguntou gentilmente se meu passado mais voltado à esquerda apresentava problemas para mim. Entendi que a pergunta do Rebe era bastante fundamental, embora feita diplomaticamente; na verdade, ele estava perguntando: “A política está influenciando sua agência?” Garanti ao Rebe que minha agência era totalmente apolítica, com judeus de diferentes visões mundiais atuando cada qual com grande profissionalismo e foco total na sua missão.

Outra pergunta interessante que o Rebe fez abordou a grande aliyá de mais de um milhão de judeus das repúblicas soviéticas. Ele queria saber se tínhamos um problema com espiões que poderiam estar se infiltrando em Israel como novos imigrantes. Ele também estava interessado em nossas colaborações com agências de inteligência estrangeiras, especialmente aquelas dos Estados Unidos, e perguntou se estávamos encontrando um ouvido receptivo entre nossos colegas e se eles entendiam as questões únicas da segurança de Israel.

Fiquei surpreso porque ele não me perguntou sobre o que eu fazia na agência nem nada sobre os trabalhos internos. Mas então tornou-se óbvio que ele sabia exatamente sobre o que eu estava falando e não precisava de nenhuma informação oculta. Na verdade, à medida que a conversa prosseguia, fiquei chocado ao aprender o quanto o Rebe, um erudito de Torá e líder do movimento chassídico, sabia sobre os muitos aspectos da inteligência, até mesmo pequenos detalhes.

Devo mencionar que, no decorrer da conversa, senti que eu estava falando com um homem que não apenas tinha um impressionante entendimento da situação em Israel e do mundo inteiro, mas também com um homem no qual eu podia confiar totalmente. A certa altura, ele me disse: “Sinta-se livre para falar abertamente,” e entendi que nossa conversa seria mantida em total confidência.

Assim encorajado, dei ao Rebe uma visão sobre os prognósticos da minha agência a respeito do terror, dentro e fora de Israel. Também partilhei com ele minhas preocupações sobre os árabes vivendo na Judéia, Samaria e Gaza. Na época, Israel estava enfrentando a primeira intifada,a o levante palestino que incendiava o país e era caracterizado por total ruptura da ordem, atirando pedras e coquetéis Molotov, criando incidentes e ataques de terror. Conversamos bastante a respeito disso.

No decorrer da conversa, o Rebe deu-me uma das mais brilhantes análises imagináveis sobre a situação geopolítica e seus efeitos sobre Israel, na qual ele destacou o aumento do terrorismo internacional. Ao relembrar, vejo que o Rebe estava correto em suas declarações e aquilo que ele disse se materializou exatamente.

Por exemplo, ele falou sobre a tensão entre o Leste e o Oeste – em particular, entre os dois super-poderes, Estados Unidos e Rússia – e ele previu que logo haveria uma melhora de relações entre eles. Pouco tempo depois, o Muro de Berlim foi demolido e dois anos mais tarde a União Soviética entrou em colapso, levando a uma ordem mundial diferente, como ele tinha previsto. Ele também previu que o terrorismo islâmico iria se intensificar, explicando as razões específicas para aquilo. Infelizmente, isso ficou claro com o horrível ataque da Al Qaeda em 11/9, exatamente como o Rebe tinha dito também a esse respeito.

A declaração do Rebe lidava com processos fundamentais importantes e profundos que estavam ocorrendo e iriam continuar a ocorrer, e portanto muitas das coisas que ele disse na época ainda estão se desenrolando hoje.

No decorrer da conversa, o Rebe expressou fé na continuidade da existência judaica e na promessa de D'us de que Israel seria uma nação eterna. Ele falou sobre o sofrimento judaico, mencionando o Holocausto algumas vezes e conectando-o com o destino em comum que une o povo judeu que serve à causa judaica e está ocupado em salvar vidas judaicas.

Posso atestar que as análises do Rebe eram muito profundas e esclarecedoras. Mais tarde, durante discussões na minha agência, eu me vi lembrando suas declarações que penetravam no fundo da questão. E não há dúvida de que suas palavras me influenciaram e guiaram minha ação profissional em várias questões de segurança.

Uma das coisas que mais me impressionaram foi o fato de que o Rebe não tentou me dar conselhos diretos. Ele me ouviu cuidadosamente, e quando apresentou sua opinião, o fez com respeito e humildade.

Ao final do encontro, o Rebe me perguntou se ele podia me ajudar de alguma forma. Respondi que eu tinha ido para encontrá-lo, ouvi-lo e, é claro, ser abençoado por ele. Então o Rebe abençoou a mim, minha família e todos aqueles que trabalham no serviço do Shabak. Quando retornei, contei aos funcionários que eu tinha encontrado o Rebe e transmiti sua bênção a eles, e muitos ficaram comovidos.

Sempre vou me lembrar do meu encontro com o Rebe como uma poderosa experiência emocional e espiritual. Sinto que tinha encontrado um dos mais notáveis rabinos que o povo judeu já teve. Foi um encontro impressionante que me encheu de inspiração, e é uma lembrança que levarei comigo pelo restante da vida.