Enquanto estudava na yeshivá central Chabad no Brooklyn, na Avenida Eastern Parkway, 770, tornei-me envolvido na publicação de uma serie de folhetos bi-semanais, Há’aros HaTemimim, contendo ensaios de Torá escritos por estudantes e rabinos da yeshivá.

O Rebe tinha iniciado a publicação de textos de Torá de estudantes em 1972, dizendo que iria energizar seus estudos, e percebi que ele mostrava um apreço especial por esses livretos Em muitas ocasiões, quando o Rebe entrava na sinagoga para as preces da noite de sexta-feira, podíamos vê-lo segurando a última edição junto com seu sidur. E com frequência podíamos vê-lo abrir o folheto e ler com atenção o seu conteúdo após a tefilá.

Era evidente que ele lia cuidadosamente pela resposta que ele enviava sempre que encontrava um erro. Por exemplo, no primeiro Shabat após Rosh Hashaná, publicamos Ha’aros Ha Temimim esquecendo de mudar a data no alto para o novo ano. O Rebe destacou isso para nós, portanto não repetimos o erro. E ele comentou sobre outros pequenos detalhes. Aprendi com ele que tudo precisa ser exato, até detalhes técnicos. Se alguém está publicando um panfleto ou um livro, deve ser bonito, respeitável e sem erros. É por isso que revisores são tão importantes.

Cerca de uma semana antes do aniversário de 75 anos do Rebe no dia 11 do mês judaico de Nissan em 1977, seu secretário Rabi Binyomin Klein pediu-me para juntar todos os assuntos de Ha’aros Há Temimim que foram publicados até então. Eu deveria presenteá-los ao Rebe durante o próximo farbrenguen marcando essa ocasião especial. Para alguém tão jovem como eu abordar o Rebe em público era extraordinário, mas eu entendi que essa ordem estava vindo diretamente do topo.

Então eu e meus co-editores tivemos os panfletos Ha’aros HaTemimim lindamente impressos em couro e, quando recebemos o sinal de Rabi Klein, nos aproximamos do Rebe. Ele folheou o livro e então serviu-nos um pouco de vodca para um l’chaim. Aquele foi o início da minha estréia em publicações, que se tornou um trabalho para a vida inteira.

Voltando ao passado, preciso destacar que quando o Rebe chegou aos Estados Unidos em 1941, o Rebe Anterior o nomeou para liderar a editora Chabad, a Kehot.

No decorrer dos anos, mesmo após o Rebe Anterior falecer e o Rebe assumir a liderança do Movimento Chabad, ele continuou a liderar o trabalho de imprimir os discursos dos Rebes Chabad. Ele queria que esses livros fossem publicados com a maior correção e clareza possíveis, e cuidava para acrescentar notas e fontes para todos os versículos da Torá, para todas as citações dos Sábios, e outras referências apuradas semelhantes. O Rebe também trabalhava preparando índices detalhados e acrescentava uma introdução no início de cada livro para fornecer um resumo de seus conteúdos.

Mas, à medida que os anos passavam e a influência do Rebe aumentava, as exigências pelo seu tempo também cresciam. O Rebe recebia pessoas em audiências privadas três vezes por semana, trabalhando durante a noite, e além de tudo isso, ele respondia a milhares de cartas que recebia regularmente.

Em 1978, o Rebe – obviamente percebendo que a tarefa de preparar tantos livros para a impressão consumia tempo demais para ele lidar pessoalmente – falou num farbrenguen sobre a necessidade de abrir um instituto com pessoas que tivessem talento para essa tarefa.

O instituto – Machon Lihachonas Drushei Dach Lidfus – foi fundado sob os auspícios da Kehot, e fui trabalhar ali dois anos depois.

Nós, os membros de funcionários do instituto fazíamos todo o necessário para preparar os manuscritos dos Rebes Chabad para impressão; também criávamos índices e então enviávamos tudo para ser impresso. As provas seriam dadas ao Rebe para editar.

O Rebe examinava as provas, fazia seus comentários, acrescentava fontes e notas. Às vezes, o Rebe marcava lugares que precisavam de correções ou onde dividir o texto em parágrafos. Ele era muito cuidadoso para examinar o prefácio do livro e garantir que estava escrito corretamente e isento de qualquer erro. E era ele que inscrevia a data que aparecia ao final do prefácio. Depois disso, sabíamos que o livro estava pronto para a impressão.

Mais e mais vezes, recebíamos as provas pelo secretariado do Rebe à tarde ou à noite, e as devolvíamos na manhã seguinte. Não sabíamos exatamente quantas horas o Rebe dedicava a isso, porque ele também tinha outros itens em sua agenda. Com o passar do tempo, nos acostumamos a isso, mas a verdade é que era um feito extraordinário! Como o Rebe conseguia ler e editar meticulosamente um livro inteiro de profundos conceitos em tão curto tempo?

O que era ainda mais impressionante para nós no instituto era que ele nos tratava como seus iguais. Embora em alguns dos livros o Rebe fizesse por si mesmo uma grande parte do trabalho, somente após dá-lo para nós completarmos o trabalho com nossas poucas habilidades, ele não queria que enfatizasse; o leitor não deveria saber quais partes ele fizera e quais nós fizéramos. Desnecessário dizer, o trabalho do Rebe estava totalmente além do nosso – ele era dotado com imensa acuidade enquanto éramos apenas iniciantes – porém ele queria que nos sentíssemos como parte da mesma equipe, conosco fazendo uma tarefa e ele fazendo outra.

Por exemplo, em 1981 trabalhamos muito para criar um índice de todos os livros do Rebe Anterior e o Rebe também investiu muito tempo nesse projeto. Uma dedicação foi acrescentada ao final do livro – em mérito das pessoas que trabalharam tanto para prepará-lo para a publicação – listando todos os nossos nomes. O Rebe concordou em ter seu nome na lista, mas sem qualquer título – apenas Menachem Mendel ben Chana – e tinha de aparecer em ordem alfabética entre todos os outros. Para mim, essa era outra expressão – além da sua grande humildade – do seu amor pelos livros sagrados... infinito! Ele tratava um livro de Torá com o respeito dado a um ser vivo com uma alma, explicando que o autor investira o livro com sua energia interior dando-lhe vida.

Ao ensinar-nos a preciosidade dessas obras, ele nos mostrou que quando os seguramos e estudamos, merecemos ficar conectados com D'us – capacitados e abençoados.