Nesta nova era do COVID-19, quando praticamente todas as sinagogas estão fechadas e quase ninguém consegue rezar com um minyan (quorum de 10 homens), muitos ficam tentados a recitar o kadish (que é falado em homenagem a entes queridos falecidos), mesmo estando sozinhos. Por que isso não pode ser feito?

A importância do Kadish

Antes de chegarmos ao aspecto do minyan, vamos falar um pouco sobre o Kadish.

Não posso exagerar a importância e o mérito de falar o kadish e de ouvir atentamente e de responder adequadamente quando é pronunciado por outro. Isso vale tanto para os que são recitados pelo chazan (condutor das preces) quanto pelos enlutados.

Além de trazer mérito aos vivos, recitar o Kadishdos Enlutados traz muitos benefícios para as almas dos falecidos; não apenas as ajuda a enfrentar o julgamento no céu e facilita sua passagem para o Mundo Vindouro, mas também lhes permite atingir planos espirituais ainda mais elevados (por essa razão ele é pronunciado todos os anos na data de falecimento, Yahrtzeit).

Kadish = Declaração pública da santidade de D'us

O conteúdo fundamental da oração do Kadish é a glorificação, ampliação e santificação de D'us.

Como você pode ler em “Por que 10 homens são necessários para um Minyan?, qualquer coisa que seja um davarshebikedushá, uma declaração da santidade de D'us como o Kadish, Barechu ou Kedusha, requer no mínimo a presença de um minyan.1

De fato, se você olhar o próprio texto do Kadish, poderá notar que ele está estruturado para ser falado na presença de outros. Por exemplo: "Em sua vida e em seus dias e em toda a Casa de Israel, breve e rapidamente, e diga: Amém." Por este motivo, não faz muito sentido ser recitado sozinho.

Além disso, uma das razões pelas quais o Kaddish é considerado um mérito para os que partiram é porque quem o canta lidera todo o grupo em oração.

O que fazer quando recitar o Kadish é impossível

Além disso, uma das razões pelas quais o Kadish é considerado um mérito para os que partiram é porque quem o recita lidera todo o grupo em prece.

O maior mérito para o falecido é quando um de seus próprios filhos recita o Kadish. A próxima melhor opção é organizar que um parente próximo (por exemplo, genro) ou irmão possa recitá-lo (com a condição de que seus próprios pais não estejam mais vivos).2

Se isso não for viável, pode-se providenciar para quem já não tem pais vivos recite o Kadish. Nesse caso, é preferível pagar pela recitação do Kadish, em vez de a pessoa fazer isso como um favor. Dessa forma (A) a pessoa que fala é considerada mais do que um emissário (trazendo ainda mais mérito ao falecido) e (B) há maior garantia de que ele será de fato recitado. Isso é especialmente verdade quando o pagamento pela recitação do Kadish a sustenta um órfão, um pobre ou um estudioso da Torá carente.3

Ainda Mais Importante que o Kadish

Quando a grande maioria de nós é impedida de falar o Kadish como de costume, é normal sentir-se angustiado. Lembre-se de que, embora recitar o kadish e liderar os serviços das orações seja uma fonte de mérito para os mortos, é ainda mais importante para os falecidos que seus filhos e descendentes sigam o caminho de justiça que eles modelaram.

O Zohar diz que, assim como um filho honra seus pais com comida, bebida e roupas durante a vida, ele deve honrá-los ainda mais depois que eles falecem! Se ele seguir um mal caminho, ele lhes traz desgraça. Mas se ele seguir um caminho justo, ele os honra neste mundo e no mundo vindouro. Quando isso acontece, D'us tem piedade do falecido e os coloca em um lugar de proeminência.4

Portanto, em nossa situação atual, os enlutados são incentivados a acrescentar em boas ações e no estudo da Torá (especialmente Mishnayot) em mérito de seus entes queridos. E quando alguém pode influenciar outros a fazer o mesmo, isso tem um impacto e mérito ainda mais poderoso para o falecido.

O Rebe escreveu várias cartas para um ativista e educador judeu que frequentemente viajava para fortalecer a educação judaica e precisaria perder a recitação do Kadish de tempos em tempos. Em uma dessas cartas, o Rebe escreve:

  • Já lhe escrevi sobre essa situação diversas vezes. É simples: a satisfação e elevação da alma não podem ocorrer às custas de uma diminuição em Torá e mitsvot. Afinal, a educação judaica é o alicerce para ambos, e o méritodo público depende disso (muito mais que o kadish). A partir dissoentende-se que você não deve diminuir seus esforços para a educação judaica, ao contrário, deve aumentá-la.
  • E para que você não perca (o máximo possível) o que foi discutido, há espaço, além de você falar o Kadish, quando possível, contratar mais alguém para recitá-lo...5

Por outro lado, se possível, uma pessoa deve se esforçar para recitar o Kadish ele próprio, em vez de contratar outra pessoa para falar em seu lugar, pois é mais meritório se os próprios descendentes o recitam.6

Que possamos merecer o dia em que não haverá mais morte e nos reuniremos novamente com nossos entes queridos, com a vinda de Mashiach e a ressurreição dos mortos!