Na primeira vez que tive o privilégio de encontrar o Rebe, ele me disse que passara algum tempo na casa de meu avô, Rabino Chanoch Etkin, na Rússia.Isso deve ter sido em 1926, quando ele estava noivo da Rebetsin Chaya Mushka, a filha do Rebe Rayatz. O Rebe estava então bastante envolvido nos programas educacionais do seu futuro sogro e estava trabalhando nos bastidores.

Apenas para ilustrar o quanto esse trabalho era perigoso – no ano seguinte, os soviéticos prenderam o Rebe Rayatz e o condenaram à morte pelo crime de “atividade contra-revolucionária” – ou seja, promover o Judaísmo. Foi somente devido à pressão internacional que ele foi libertado mas foi exilado da Rússia.

Os soviéticos estavam também atrás do Rebe. Procuravam por ele, querendo prendê-lo, portanto ele teve de fugir.

Foi assim que ele foi levado à casa dos meus avós, e ali permaneceu durante vários meses até que pudesse sair em segurança. Ele dormia e comia ali, com minha avó cuidando das suas necessidades, e ele estudava Torá com meu avô. Eles desenvolveram uma grande amizade embora meu avô não fosse um chassid, mas um seguidor de Mussar, o movimento judaico ético.

Creio que, como meu avô cuidou dele durante um tempo em que sua vida estava em perigo, eu tive o mérito de desenvolver uma conexão próxima com o Rebe.

Certa vez perguntei ao Rebe o que acontecera na Rússia, e ele me relatou uma história chassídica – que não recordo exatamente – sobre um homem que dirigia um barco por um lago para levar pessoas até o Jardim do Éden. Mas ele próprio não podia entrar até que encontrasse alguém para tomar seu lugar. O Rebe disse que ele terminou colocando sua vida em risco porque não podia deixar a Rússia Soviética até que encontrasse outra pessoa para continuar a obra sagrada do judeu oculto. Finalmente, alguém foi encontrado para tomar seu lugar, e isso ocorreuquando ele foi se esconder na casa do meu avô.

Devido à bondade que meus avós demonstraram para com ele então, tive o privilegio de ter livre acesso ao Rebe, encontrá-lo privadamente muitas vezes, e estar presente em Purim em 1971 – para ouvir a leitura da Meguilá Esther na presença do Rebe. Fiquei muito comovido quando Shazar perguntou ao Rebe, apontando para mim: “Conhece este jovem?” e o Rebe respondeu: “Claro! Ele é um velho e bom amigo.” Ele não queria dizer que eu era velho – eu estava então na casa dos quarenta – mas que nos conhecíamos há muito tempo.

Nos muitos encontros que tive com o Rebe no decorrer dos anos, discutimos a vinda de Mashiach, a política de Israel, e as ocorrências com o rabinato de Israel. Tivemos muitas conversas sobre as políticas do meu cunhado, Rabino Shlomo Goren, que era o rabino da FDI durante a Guerra dos Seis Dias e que mais tarde atuou como o terceiro Rabino Chefe de Israel. E obviamente, falamos sobre meu sagrado pai, Rabino David Cohen, que foi um grande cabalista conhecido como “o Nazir de Jerusalém” porque nunca cortara seu cabelo ou bebia vinho mantendo a antiga tradição bíblica.

Enquanto conversávamos, eu não deixava de me surpreender por que o Rebe, sentado numa pequena sala no Brooklyn, sabia tudo que estava acontecendo no mundo e certamente tudo o que ocorria em Israel. Ele sabia sobre os diferentes partidos políticos, e as pressões políticas sobre os líderes e os rabinos. O Rebe expressou a opinião de que eles nunca deveriam se retirar de qualquer local em EretzYisrael pela ilusão de paz. Isso não teria o efeito desejado, disse ele, pois desistir da terra iria somente colocar em risco a segurança dos Israelenses, judeus e não judeus. “Certamente,nós queremos a paz,” disse ele, “mas a maneira de trazer a paz verdadeira é sendo forte.” Para apoiar isso, ele citou o Salmo 29: “D'us dará poder ao Seu povo; D'us abençoará Seu povo com paz.”

Suponho que, como tivemos muitas discussões francas, em certa ocasião eu tive a chutzpá – ousadia – de perguntar ao Rebe por que ele não viajava para Israel. Obviamente, eu acrescentei logo: “Não estou dizendo ao Rebe o que fazer, mas sei que se o Rebe fosse, isso iria mudar toda a paisagem do pais e beneficiar muito o Judaísmo.”

O Rebe respondeu, e acredito que fui uma das poucas pessoas que receberam uma resposta a essa pergunta.Ele disse falando em yidiche: “Sei como ir para lá, mas não sei como voltar.” Ele acreditava que não era permitido deixar a Terra Santa, e portanto jamais poderia voltar aos Estados Unidos. “E eu tenho trabalho aqui... não terminei meu trabalho aqui.”

Então ele explicou que aceitou sobre si mesmo não ir a qualquer lugar tão distante que não pudesse chegar ao túmulo do Rebe Rayatz, no Queens, dentro de vinte e quatro horas. Mencionou que os chassidim de Montreal o convidaram para uma cerimônia lá – não me lembro se era a inauguração de um novo prédio ou de um novo rolo de Torá – mas ele não foi por causa da distância de Nova York.

Estou triste porque ele nunca foi a Israel. Penso que, se ele tivesse ido, teria mudado a história por causa do tremendo impacto que teria havido. Mas ele manteve que precisava permanecer nos Estados Unidos onde poderia ter máxima influência sobre os judeus da Diáspora.