Desde 1954, tenho atuado como emissário do Rebe em Boston, e foi onde conheci Rabi Yosef BerSoloveitchik, de cujos lábios ouvi a história que vou relatar.
Rabi Soloveitchik - que durante muitos anos liderou RIETS, a escola rabínica da universidade – tinha estudado na Universidade de Berlim no final dos anos de 1920 e início de 1930 junto com o Rebe. Mas em 1932, ele imigrou para os Estados Unidos e se instalou em Boston.
Mesmo depois de se tornar o roshyeshivá de RIETS, ele continuou a se envolver com a comunidade judaica de Boston, e por causa disso, convidei-o a participar numa celebração Chabad local em 1983.
Naquele ano, o Rebe fazia uma campanha para rolos de Torá comunitários serem escritos em prol do povo judeu, e a yeshivá que eu dirigia – Yeshiva Achei Temimim – se inscreveu para participar. Lancei uma campanha publicitária para tornar a comunidade consciente do projeto e conseguir tantos judeus quanto possível para patrocinar letras no rolo de Torá. Quando o rolo foi terminado, planejamos uma grande celebração, reservando um salão no Hotel Statler, um dos maiores de Boston, prevendo uma grande multidão, e até conseguimos que o jornal The Boston Globe cobrisse o evento.
Eu esperava que Rabi Soloveitchik comparecesse, portanto fui junto com nosso roshyeshivá, Rabi ChaimWolosow, convidá-lo, e aproveitei a oportunidade para perguntar a ele sobre seus anos em Berlim com o Rebe.
“Vou lhe contar uma coisa,” ele disse, “os chassidimChabad pensam que conhecem seu Rebe, porque ouvem suas leituras de Torá e veem sua grandeza. Porém por mais que pensem que o conhecem, eles não o conhecem. Ele foi um nistar em Berlim, e ainda é um nistar. Sua retidão estava oculta em Berlim, e ainda está oculta. E ainda há muito mais em sua grandeza.”
Aquelas foram as palavras exatas que ele usou. E eu gostaria de afirmar que Rabi Soloveitchik não era devotado ao exagero. Não era uma pessoa empolgada – ele falava calmamente, de forma direta – portanto isso era plenamente como ele o via.
Rabi Soloveitchik então descreveu o Rebe em Berlim quando era um jovem e ninguém suspeitava que vinte anos depois ele se tornaria o Rebe: “A única coisa em sua mente era a Torá,” disse Rabi Soloveitchik, “e ele também era muito escrupuloso sobre imergir diariamente no micve. Ele conseguia ter a chave do edifício portanto podia imergir toda manhã.” Fazer isso era bastante fora do comum em Berlim, onde ninguém observava esse costume.
“Onde quer que ele fosse, tinha um livro de Torá com ele,” continuou Rabi Soloveitchik. “E mesmo quando estava na aula, durante uma palestra dada por um professor, ele às vezes abria o livro e estudava.
“Em uma ocasião, o professor viu o que ele estava fazendo e presumiu que ele não estava escutando. Então decidiu chamá-lo e constrangê-lo na frente da classe. ‘Schneerson – talvez você possa repetir o que acabo de dizer?’
“O Rebe levantou-se e começou a repetir a palestra, palavra por palavra. E, a partir de então, o professor nunca mais o incomodou.”
Rabino Soloveitchik então relatou um incidente fascinante que ocorreu em Purim. Após participar do banquete do feriado, o Rebe saiu para ver que um grupo de estudantes estava em volta, então ele pegou uma cadeira e começou a falar sobre o significado de Purim. Sem dúvida , ele estava tentando atrair os estudantes judeus – que eram muitos – explicando a história de Purim e as mitsvot do dia.
Mas Berlim não era o local para fazer isso. Berlim era um lugar que tinha muitas leis, uma das quais a proibição de discursar em público sem licença. Como o Rebe estava de pé sobre uma cadeira e falando a policia chegou e o prendeu.
Como Rabi Soloveitchik era conhecido como o colega do Rebe, ele foi chamado à delegacia para falar por ele. Ele compareceu explicando à policia que o Rebe estava apenas celebrando o feriado judaico de Purim e não queria causar danos. A policia aceitou sua explicação e liberou o Rebe.
Quando saíram da delegacia, Rabi Soloveitchik disse-me que tinha falado ao Rebe – que como genro do Rebe Anterior, que esteve em uma prisão, “você sabe, um dia você vai tornar-se um Rebe.”
No final, Rabi Soloveitchik nunca fez a celebração, mas a história que ele me contou permaneceu comigo por muito tempo depois.
Faça um Comentário