A Parashá dessa semana começa com o mandamento de remoção das cinzas do altar (dos sacrifícios que tinham sido queimados no dia anterior), antes do começo do serviço no Templo.

A Torá conta que o Cohen (sacerdote) tinha que trocar suas roupas do Templo por roupas comuns antes de remover as cinzas.

Não dá para entender por que ele teria que agir dessa forma, pois remover as cinzas também era um serviço do Templo, e não sujava mais do que, por exemplo, abater os sacrifícios ou aspergir sangue no altar. Por que eles tinham que trocar as roupas? Ou melhor, por que não indicar um outro Cohen para fazê-lo, e o que isso tem a ver conosco, hoje?

Uma história:

A Tora é a lei Divina. Ela nos ensina a santificar cada detalhe desse mundo, mas requer um talento incomum para saber qual é a lei em cada situação. O Rabino Moshé Feinstein possuía essa qualidade; foi um dos maiores conhecedores da lei da Torá de todos os tempos.

Por causa dessa habilidade ele era inundado de perguntas constantemente, dia e noite. Os maiores rabinos dos quatro cantos do mundo buscavam suas opiniões nas questões legais mais difíceis. Ele era uma pessoa extremamente ocupada. Além disso, ele era membro da Academia da Torá, e era o mentor espiritual de milhares de judeus. No entanto, ele dedicava alguns momentos para receber visitantes, nas terças-feiras.

Assim foi seu costume por dezenas de anos até que, no ano de 1986 com 91 anos de idade e depois de uma longa doença, ele faleceu comovendo todo o mundo judaico.

Mas parece que nem todos souberam do seu falecimento. Numa terça-feira, algumas semanas mais tarde, uma senhora idosa veio à sua casa e perguntou por que não tinha aquela fila enorme de pessoas como todas as terças. O rabino tinha mudado o dia de visitas?

É claro que, quando ela soube da triste notícia, começou a chorar. Mas quando ela se acalmou, um dos jovens rabinos perguntou se podia ajudá-la de alguma forma. Afinal, pensou ele, quão difícil pode ser uma pergunta dessa senhora.

“Ele era um homem tão maravilhoso!! Não sei se existe alguém como ele. Sempre me ajudava tanto. Mas suponho que você tenha razão. O senhor sabe russo?”

“Russo?” Perguntou o rabino. Não, não creio que algum de nós aqui saiba falar russo. Mas que diferença faz?” perguntou o rabino.

“Ah! Então vocês não podem me ajudar” Ela respondeu com tristeza. “Veja, nos últimos vinte anos, duas vezes por mês eu recebia uma carta da minha irmã em Russo. Mas eu não entendo uma palavra de russo, então eu vinha aqui e o gentil rabino traduzia para mim… Que homem maravilhoso!”

É verdade, a remoção das cinzas era parte do serviço do Templo, mas era uma parte que acontecia ‘fora’ do Templo. Era só uma preparação para o serviço sagrado que tinha que ser feito com roupas especiais distintas.

A remoção das cinzas é ‘comparável’ na nossa história ao Rabino Feinstein traduzindo as cartas simples em Russo. Um serviço tão importante para ele quanto a decisão de complicadas questões legais da Torá.

E essa é a lição para nós hoje em dia. Foi ordenado a cada judeu que se tornasse um Templo Sagrado, mas precisamos nos lembrar que as coisas que fazemos ‘lá fora’, em roupas ‘simples’ (isto é, em nossas vidas normais) também são partes do nosso serviço, e uma preparação para a vinda do Mashiach.