O evento mais importante na história ocorreu há mais de 3.300 anos. O Sinai colocou em movimento uma série de eventos que mudariam o mundo para sempre, e continuam a impactar nossas vidas até hoje.
No Sinai a raça humana recebeu um plano Divino sobre como viver nossas vidas. Este notável presente foi dado para toda a humanidade, porém na época as nações do mundo o rejeitaram. Como nossos sábios nos dizem que os filhos de Esaú e os filhos de Ishmael receberam ambos a oferta da Torá e a rejeitaram após verem que não poderiam viver seguindo as suas leis, ou seja, a proibição de assassinato, roubo e transgressões sexuais.
Levaria mais de 1.000 anos para os filhos de Esav– o mundo romano/ocidental/cristão – começar a adotar os princípios do Sinai. Levaria mais 700 anos para os filhos de Ishmael – o mundo árabe/muçulmano – fazer o mesmo.
Porém, mesmo após o nascimento do cristianismo e do Islã ambos lutariam contra esses princípios e haveria conflito global no processo. Durante séculos os cristãos aterrorizaram o mundo em nome da sua religião. Os cruzados, as inquisições, os pogroms são uns poucos exemplos do horror que os cristãos infligiram na sua busca para erradicar o que chamavam de heresia. Somente nas últimas poucas centenas de anos o cristianismo foi suavizado.
O Islã também teve períodos de agressão, agora empinando sua feia cabeça e aterrorizando o mundo. O ponto principal é que os filhos de Ishmael ainda estão lutando contra a mensagem dada no Sinai. O que foi do Sinai que os filhos de Esav e Ishmael rejeitaram, e qual é sua mensagem hoje que eles precisam adotar?
No Sinai o mundo mudou. Pela primeira vez a raça humana teve a chance de unir céu e terra – fundir espírito e matéria. Até aquele ponto existia um muro invisível entre o transcendental e o material. Um decreto,uma dissidência separava entre acima e abaixo.
“Aquilo que estava acima não poderia descer para baixo, e aquilo que estava abaixo não poderia subir ao alto.”
O Sinai abriu uma porta, que nunca seria fechada, que permite aos mortais no mundo material se tornarem Divinos. Deu-nos o poder de espiritualizar o material, e tornar nossas vidas sagradas, não apenas éticas. Esse não foi um pequeno evento.
O fato é que matéria e espírito estão num conflito perpétuo. Narcisismo, cobiça, corrupção são elementos da vida. Quando olhamos para nós mesmos cada um de nós sabe que com frequência sentimos que “Eu existo e nada mais existe” em detrimento dos outros. Quando esse sentimento se torna extremo pode destruir a vida daqueles ao nosso redor.Filósofos, pensadores, teólogos e leigos fizeram todos a eterna pergunta: O quanto um ser humano pode atingir o alto? Nós seres humanos somos apenas animais sofisticados, com potencial limitado? Podemos jamais atingir o céu e além ou trazer o céu aqui para a terra? Podemos integrar espiritualidade na nossa vida material? Podemos fundir o finito com o infinito?
O fato é que matéria e espírito estão num conflito perpétuo. Narcisismo, cobiça, corrupção são elementos da vida. Quando olhamos para nós mesmos cada um de nós sabe que com frequência sentimos que “Eu existo e nada mais existe” (“ani v’afsi oid”), em detrimento dos outros. Quando esse sentimento se torna extremo pode destruir a vida daqueles ao nosso redor.
Por outro lado, também temos um espírito dentro de nós. Temos o poder de viver vidas nobres, com dignidade e altruísmo.
Temos então um choque inevitável. A matéria pela própria natureza é egoísta. O espírito é altruísta. Não admira que as pessoas tenham sempre especulado se esses dois mundos podem se combinar, muito mais então se fundir.
Em geral temos duas abordagens evoluindo na história: ascetismo e imersão. Uma declara que para sentir o espírito devemos nos separar dos tentáculos materiais da vida, e “subir a montanha” para meditar e ficar absorto num realidade mais elevada. Basicamente, a pessoa deve negar a vida material. Um versão extrema disso seria a vida ascética. Para atingir o sagrado a vida material deve ser comprometida. O infinito pode ser alcançado, mas somente negando o finito.
O outro extremo é que não podemos realmente atingir o céu. Devemos viver eticamente, construir lares e locais de trabalho saudáveis, e encontrar espíritualidade em maneiras limitadas dentro das nossas vidas limitadas. Como somos criaturas essencialmente mortais, com egoísmo inerente ou até o mal, não podemos esperar nada mais que o melhor que uma criatura terrena pode atingir. Uma variação disso inclui a capacidade de atingir a salvação, mas não através dos nossos próprios esforços mas abraçando algo além de nós. O infinito não está integrado em nossas próprias vidas pessoais.
O Sinai abriu a porta para uma terceira opção. O Sinai criou uma junção que ligou céu e terra, dando-nos o poder de integrar matéria e espírito, total e completamente, sem comprometer um ou o outro. O finito pode se tornar um com o infinito; a matéria uma com o espírito; o sagrado com o secular. Resumindo, como D'us não é nem espírito nem matéria, Ele nos deu o poder de integrar completamente os dois.
Essa terceira opção, porém, não vem facilmente. Por mais limitadora que as primeiras duas opções possam ser, elas parecem mais simples, enquanto a opção do Sinai exige uma contínua cavalgada da fina linha entre matéria e espírito.
É por isso que o Sinai não veio facilmente. As nações do mundo não puderam aceitar – nem entender – como alguém pode ligar os dois mundos. Portanto elas rejeitaram a Torá na época. Até o povo judeu não chegou ao Sinai sem esforço. Vinte e seis gerações de trabalho difícil, culminando com a terrível escravidão no Egito, foram necessárias antes que o povo estivesse preparado para o Sinai.
Esse conflito entre céu e terra tem muitas manifestações, incluindo a batalha que temos testemunhado com frequência entre religião e secularismo. Se você é um crente firme como lida com o mundo secular? Segundo as duas opções acima mencionadas você tem de empreender uma guerra sagrada contra o secular, ou abraçar basicamente o secular com santidade limitada.
O Sinai não veio facilmente. As nações do mundo não puderam aceitar – nem entender – como alguém pode ligar os dois mundos e rejeitaram a Torá na época. O povo judeu não chegou ao Sinai sem esforço. Vinte e seis gerações de trabalho difícil, culminando com a terrível escravidão no Egito, foram necessárias antes que o povo estivesse preparado...Ali está a raiz essencial das guerras religiosas empreendidas no decorrer da história. Reconhecendo a heresia secular como um inimigo, os cristãos e mais tarde os muçulmanos, engajaram-se em batalhas agressivas contra as forças que eles entendiam como ameaçadoras.
Essas batalhas na verdade começaram na casa de Avraham. Avraham, pai de todas as nações, foi quem começou o processo, que foi consumado no Sinai, de descobrir e adotar o método de integrar o Divino e o mundano. Porém esse esforço encontrou muitos desafios, incluindo as dificuldades com seu filho Ishmael. “Ele [Ishmael] será um homem feroz. Sua mão será usada contra todos, e a mão de todos contra ele” (Bereshit 16:12). Chegou a um ponto em que Ishmael teve de ser banido da casa de Avraham.
Essa batalha somente se intensificou no lar de Yitschac, filho de Avraham, no conflito entre os dois irmãos gêmeos, Esav e Yaacov. “Duas nações estão no teu útero. Dois governos irão se separar de dentro de você. A mão superior irá de uma nação para outra. A maior servirá a mais jovem.” Os irmãos possuem caráter diametralmente opostos. Esav é um “caçador preparado, um homem do campo.” “Yaacov um homem íntegro, que se sentou nas tendas.” – um erudito que habitou nas tendas do estudo.
A batalha entre Esav e Yaacov representa a batalha entre o material e o espiritual, um conflito que somente será resolvido ao final dos tempos.
Qual era a razão das dificuldades de Ishmael e Esav, que mais tarde faria seus filhos rejeitarem a Torá, enquanto os filhos de Yaacov a estavam abraçando?
Os textos chassídicos explicam que o problema estava baseado em equilíbrio. Ishmael (filho da Avraham) era um exemplo de chessed (amor abundante sem a disciplina da guevura (julgamento e discrição). Esav (filho de Yitschac) era um extremo de guevurá sem a sensibilidade de chessed.
Yaacov, em contraste, era tiferet. Tiferet é beleza – harmonia dentro da diversidade. Tiferet tem o poder de fundir amor e disciplina em uma unidade simétrica. Tiferet possui este poder introduzindo uma terceira dimensão – a dimensão da verdade, que não é amor nem disciplina e portanto pode integrar os dois. A verdade é acessada através do altruísmo elevando-se acima do seu ego e suas predisposições, permitindo que você entenda a verdade. A verdade dá a você um quadro claro e objetivo das necessidades suas e dos outros.
Os filhos de Yaacov foram educados com esse equilíbrio Tiferet. Assim eles foram preparados para Matan Torá, para receber a Torá no Sinai, que é chamada Tiferet. Isso é por que não encontramos o povo judeu embarcando em nenhuma guerra religiosa contra hereges, ou convertendo as nações do mundo ao judaísmo. A conversão é na verdade dissuadida na lei judaica. Quando você é uma pessoa de Tiferet – seguro em suas próprias crenças, certo de que todos os seres humanos foram criados à imagem Divina, e alguém não precisa ser judeu para servir a D'us; mantém um equilíbrio perfeito entre amor e disciplina; totalmente confiante de que o sagrado e o secular podem ser integrados com o Divino, e que essa integração vai frutificar; sem qualquer temor de que o mal será mais poderoso que o bem – então você pode manter o padrão mais alto de integridade espiritual sem recorrer a matar ou aterrorizar os outros a se conformarem com suas crenças.
Ishmael e Esav careciam desse equilíbrio. Amor desenfreado e disciplina indomada, mesmo se forem dirigidos para uma boa causa, terminam se tornando forças agressivas de destruição. Amor demais indisciplinado mima uma criança e pode criar um monstro, assim como chuva demais que inunda e destrói os campos. Julgamento ilimitado e severidade, sem amor subjacente, se tornam tirânicos.
Assim, no Sinai os filhos de Ishmael e Esav ainda não estavam preparados para receber a Torá. Mas a hora deles chegaria, e chegou. Maimônides escreve que pelos caminhos misteriosos da Divina Providência, o cristianismo e o Islã ajudaram a pavimentar o caminho para a era messiânica reconhecendo o mundo com o princípio de Torá e mitsvot. À medida que o tempo passava suas crenças continuaram a refinar-se e amadurecer.
Quando você é uma pessoa seguro de suas próprias crenças, certo de que todos os seres humanos foram criados à imagem Divina, e de que alguém não precisa ser judeu para servir a D'us; mantém um equilíbrio perfeito entre amor e disciplina; totalmente confiante de que o sagrado e o secular podem ser integrados com o Divino, e que essa integração vai frutificar; sem qualquer temor de que o mal será mais poderoso que o bem – então você pode manter o padrão mais alto de integridade espiritual sem recorrer a matar ou aterrorizar os outros a se conformarem com suas crenças.Nos séculos seguintes os descendentes de Esav e Ishmael passariam por crescentes sofrimentos ao aprender como equilibrar crenças religiosas e a vida diária. Não seria um processo fácil; a história é testemunha da devastação e do derramamento de sangue trazido por essa jornada. Mas lentamente, aos poucos, o Sinai iria penetrar nas fibras de todos os povos. O processo termina com o refinamento dos últimos dois poderes, Edom (Esav) e Ishmael, o que leva à era messiânica – um mundo onde não há mais destruição e terror e todos os filhos de Avraham servem ao D'us Único de Avvraham em paz e harmonia.
Após anos de tirania o mundo ocidental/cristão finalmente chegou a países como America que adotam os princípios fundamentais do Sinai: todas as pessoas são criadas igualmente com direitos inalienáveis e liberdades. Os filhos de Esav vêm para abraçar os ensinamentos de Avraham, formalizados no Sinai. Chegou o tempo para os filhos de Ishmael fazerem o mesmo. Precisamos olhar para o sistema da educação, os currículos que os filhos dos muçulmanos estão aprendendo, e analisar isso com o mesmo rigor que fazemos na mídia com questões muito mais superficiais.
Entendo o risco de interferir na soberania do sistema de educação de outro país. Porém, devemos abordar isso com intenções puras fundamentadas com humildade, exigindo de nós mesmos os mesmos padrões que esperamos dos outros. Temos então o direito de exigir de nós mesmos e dos outros fazer jus aos padrões que Avraham ensinou a todos os seus filhos e a toda a civilização.
A América hoje desempenha um papel especial nesse trabalho. Os alicerces desse país são construídos sobre princípios absolutos de fé e confiança em D'us. Esse não é apenas um país de oportunidade econômica. O sucesso da prosperidade sem precedentes da América é um resultado de uma declaração imutável da missão: todos iguais, em D'us nós confiamos, na diversidade e no individual, e pluribus unum – sob um D'us.
Este país deve se alinhar com sua missão – de se reconectar com seu chamado mais alto. Então e somente então esse país ganha o direito de se mostrar como um exemplo ao mundo. Ser simplesmente uma nação de grande riqueza e poder de maneira alguma significa o alto nível moral. Outras nações, religiões e povos têm há muito mais tempo tradições e histórias que o relativamente novo mundo da América. Mas a América pode demonstrar algo único ao mundo. Como país, pode elevar-se acima das nossas questões nacionais e servir como um facho de luz ensinando ao mundo os princípios universais de toda a humanidade – o princípio sobre o qual essa nação foi fundada – como viver em paz com D'us.
Há 3316 anos, [2019] os filhos de Esav e Yaacov rejeitaram a Torá. Talvez D'us não pôde impô-la sobre eles. Mas nós podemos.
Hoje devemos chamar por eles, e insistir, para que finalmente aceitem aquilo que então rejeitaram – que eles finalmente aceitem a Torá em sua totalidade. Após tudo pelo que temos passado nos últimos três milênios, e com o atual estado de atrocidade no Oriente Médio, podemos apreciar a necessidade para todas as nações adotarem o mandado que foi dado a nós no Sinai.
Então, 3316 anos depois o quanto estamos distantes do Sinai?
Por um lado parece muito longe, mas por outro o Sinai pode estar bem ali na esquina. Cabe a nós determinar qual deles será.
Há um desafio muito mais poderoso para nós quando nos aproximamos do Sinai? Este é o chamado da hora. O chamado do Sinai. O chamado que soou há 3.316 anos e ressoou por todo o globo e no decorrer da história. Esse chamado ainda está reverberando hoje, esperando pela nossa resposta.
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