"E agora, escrevam esta canção para si, e ensine aos filhos de Yisrael." (Devarim 31:19).
Este passuk contém a sexcentésima décima terceira mitsvá da Torá – a mitsvá de escrever um Sêfer Torá.
Cada judeu recebeu a mitsvá de escrever um Sêfer Torá. Se ele não puder fazê-lo sozinho, pode contratar um sofêr (escriba) para fazê-lo para ele. Se um judeu ajudar a escrever um Sêfer Torá, ou encomendar um é como se ele próprio tivesse cumprido a mitsvá. Às vezes, uma sinagoga ou yeshivá escreve um Sêfer Torá novo. As pessoas, então, tentam adquirir uma parte. É possível obter uma ou mais letras, que o sofêr escreve para elas.
Escrever um Sêfer Torá é uma enorme empreitada. O sofêr o escreve inteiramente à mão. Ele também é responsável perito na escrita e revisão de mezuzot e meguilot. Para isso, utiliza uma pena, cujo bico mergulha em tinta, e escreve sobre pergaminho. Cada letra precisa ser corretamente desenhada. Há toda uma técnica para realizar essa tarefa, o que exige estudo e prática. Se estiver faltando ou sobrando uma única letra na Torá, todo o sêfer não é casher. Da mesma forma, se duas letras se tocam, o Sefer Torá inteiro já não é mais casher.
Atualmente, há programas de computadores capazes de verificar com perfeição se um Sêfer Torá possui letras faltando, após o próprio sofêr ter verificado se elas estão casher. Este é um exemplo de como a moderna tecnologia pode ajudar-nos a cumprir a Torá.
A mitsvá também abrange a compra de sefarim (livros) utilizados para os estudos. D’us deseja que cada judeu possua textos claros e novos da Torá, a fim de poderem estudá-los.
O Maimônides escreve: "É uma mitsvá para cada judeu escrever para si um Sêfer Torá, como o versículo diz: ‘Então agora escreva esta canção (Ha’azinu) para si,’ que na realidade significa: ‘Então escreva um Sêfer Torá, que contém esta canção, para si.’ Mesmo quem herda um Sêfer Torá é obrigado a escrever o seu próprio rolo.
Que lições podemos aprender da mitsvá de escrever o Sêfer Torá?
A halachá (lei judaica) exige que cada letra da Torá seja "mukafot guevil" – "rodeada pelo pergaminho." Consequentemente, o escriba deve observar que nenhuma letra toque na outra. Por outro lado, a halachá também exige que as letras que compõem uma palavra devem posicionar-se perto o suficiente umas das outras, de maneira que não aparentem ser letras individuais, tampouco parte de uma palavra. Dessas duas halachot, depreendemos uma lição de suma importância no que se refere à coletividade e individualidade do povo judeu.
Primeiramente, é imperativo que cada judeu seja independente e cumpra a Torá e suas mitsvot. Nenhum judeu pode "encostar-se", fiar-se no outro e apoiar-se sobre ele. A Torá é a herança de cada judeu e todos são obrigados a observá-la e mantê-la.
Apesar de cada judeu ser independente no cumprimento da Torá, deve sempre ter em mente o princípio de arevut – responsabilidade pelo próximo. Um judeu deve estar imediatamente ao lado do outro, e ficar bem perto, na medida em que parecem um só corpo coletivo, e não indivíduos egoístas.
Um Sêfer Torá é escrito com tinta, porém a única cor permitida é a preta. Enquanto as demais cores podem facilmente serem mescladas umas às outras, formando uma nova cor, é extremamente difícil modificar o preto. Analogamente, um judeu não deve permitir que as influências da sociedade ou as vicissitudes da vida solapem ou desbotem sua verdadeira "cor" e expressa devoção à Torá.
A tinta deve aderir firmemente ao pergaminho, e se "ficar saltada", ou seja, descascar, o Sêfer Torá é passul – não casher. A lição implícita é que o judeu deve aderir tenazmente à Torá, e nunca apartar-se dela.
Outra lição a ser aprendida do Sêfer Torá é que a Torá é composta de muitas letras. Apesar de cada uma ser independente, sua cashrut depende do conjunto de todas elas. A falta ou não integridade de uma única letra afeta a validade do rolo inteiro. Do mesmo modo, cada judeu é um componente essencial de Klal Yisrael, de quem depende a integridade do povo inteiro.
Em 5742, o Rebe de Lubavitch iniciou uma campanha para que se escrevessem Sifrei Torot, de maneira que todos pudessem adquirir uma letra num Sêfer Torá comunitário. O objetivo era unificar Klal Yisrael através da Torá.
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