Quando criança, lembro-me de acordar e ver meu avô sentado na cozinha oferecendo-me uma fatia de maçã. “Um pequeno pedaço de maçã faz uma cabeça saudável,” dizia ele em iídiche. Sempre que tínhamos a sorte de receber uma visita dele que vinha de Milão, ele contava histórias de sua infância e contos chassídicos dos anos passados em sua maneira legendária, dramática e apaixonada enquanto nos sentávamos ali com os olhos arregalados ouvindo cada palavra. Ele também nos fazia rir quando repetia algumas de suas anedotas antigas favoritas e nos encantava com seu sorriso típico.
Aqueles foram os bons dias de antigamente.
Meu avô ainda é o gigante da minha juventude – do mesmo modo, gentil e sagrado. Mas lá se foram as histórias da minha infância, as maçãs fatiadas ou mesmo encontrá-lo sozinho na cozinha. A idade tirou tudo isso dele e de nós. Mesmo assim, aproveitamos cada momento que temos com ele. Gosto porque posso lembrar dele (diversas vezes num único dia) porque uma das nossas filhas recebeu o nome da mãe dele e um dos nossos filhos o nome de seu pai. Gosto de ver aquele olhar de alegria em sua face como se fosse a primeira vez que estivesse ouvindo isso.
O que alegra minha mente toda vez é aquilo que não se foi. Como se num sólido desafio, sua essência jamais pode escapar dele. Nunca se esquece de fazer uma bênção antes de colocar um pedaço de comida na boca ou as palavras das preces. Ele pode recitar corretamente o Cadish e encerra cada conversa com uma bênção de felicidade para o ouvinte.
Jamais vou me esquecer de uma tarde de Yom Kipur, provavelmente há vinte anos, quando fiquei perto da minha mãe durante os serviços enquanto ela destacava as palavras do texto. Uma das preces em que imploramos a D'us no sagrado dia do julgamento é que não sejamos “lançados à idade avançada”. Minha mãe parava e me olhava enquanto dizia: “Todos nós queremos envelhecer. Apenas peço a D'us que não me atire ali. Deixe-me chegar lá com graça, em paz e com boa saúde.”
Quanto mais velha fico, mais entendo o quanto essa prece é uma bênção incrível e por que escolhemos o dia mais sagrado do ano para fazer este pedido. Embora sejamos afortunados porque hoje no Século 21 nossa expectativa de vida é muito mais longa e firme do que já foi, não é sempre um mar de rosas.
E não é apenas o idoso que lida com as consequências de envelhecer. Hoje, mais do que nunca, a “geração sanduíche” não está apenas cuidando dos próprios filhos, mas ajudando também seus pais mais idosos.
Pode ser incrivelmente difícil lidar com um ente querido que não parece mais a pessoa que um dia conhecemos – ver um pai ou um cônjuge que já cuidou de nós agora sendo aquele que precisa de nossa assistência. Pode ser fácil olhar para um fragilizado idoso e pensar que ele perdeu a cabeça, e não prestar-lhe reverência. Porém somos instruídos que “na frente do idoso, você deve ficar de pé.” Uma pessoa idosa deve receber honra, simplesmente por causa de seu status na vida.
Devemos ter o reconhecimento de que é em seus ombros que nos erguemos. Somos aquilo que somos hoje por causa daquilo que eles ensinaram, aquilo que defenderam.
Falando sobre seu aniversário que se aproximava, um congregante recentemente disse que não está esperando ansiosamente por isso. “Mas qual é a alternativa?” perguntei a ele. Embora nem sempre seja divertido reconhecer as maneiras nas quais nosso corpo envelhece, certamente é melhor que ser “jovem para sempre”.
A Princesa Diana será sempre lembrada como a mulher jovem, linda, sem rugas que era, mas certamente ela teria desistido de tudo isso para poder ver e acompanhar seus filhos crescerem, casarem e começarem a ter suas próprias famílias.
Mesmo assim, entendo o que ele está dizendo. Está declarando que tem medo da idade avançada, medo de se tornar uma pessoa que não mais se reconheça. Eu digo, D'us traz os aniversários, mas por favor, deixe-me caminhar em com passo direito, deixe-me ficar em pé e firme.
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