Somos um povo à parte, uma nação exaltada em virtude de termos sido santificados por mandamentos outorgados por D’us.
Para que o nosso envolvimento com a rotina de nossas atividades diárias no mundo material não superasse ou abafasse o nosso entusiasmo pela Torá e seus preceitos, verdadeira fonte de vida e bênção e o próprio segredo da nossa eternidade, D’us nos deu uma mitsvá especial para cumprir uma vez a cada sete anos, a mitsvá de “Hakhel”.
A fonte desta mitsva está em Devarim [Deuteronômio], na Porção de Vayêlech, onde a Torá declara que na culminação de cada sete anos, em sequência ao ano Sábatico, durante a festa de Sucot, quando todo o povo de Israel faz peregrinação e vem se apresentar diante D’us em Jerusalém, todos “os homens, mulheres e até crianças pequenas e os forasteiros nos portões” devem ser reunidos e a Torá lida para eles, para que ouçam e assim aprendam a temer a D’us e a observar as palavras da Torá.
O que acontecia durante Hakhel era de fato belo e impressionante. No primeiro dia de Chol Hamoed Sucot (dias intermédiários entre os dias santificados do início e final da festa) os Cohanim saíam nas ruas de Jerusalém e tocavam trombetas de ouro a fim de convocar a nação inteira. Um estrado de madeira era trazido ao pátio das mulheres no Templo Sagrado, onde o rei judeu sentava. O rei se levantava para receber o Sefer Tora que o Cohen Gadol lhe entregava e ele abria e lia várias porções recitando algumas bênçãos antes e depois da leitura.
Todos os homens, mulheres e crianças ficavam em volta, ouvindo com respeito e admiração como se estivessem recebendo a Torá pela primeiríssima vez do Próprio D’us, pois o rei era o emissário para comunicar as palavras de D’us. Todos vinham reconhecer e apreciar o valor da Torá como a maior prioridade e glória nas suas vidas. As pessoas ficavam extremamente fortalecidas e estimuladas na sua dedicação ao judaísmo com temor aos céus e fervor e contentamento do coração, e a inspiração que recebiam naquela hora durava até o próximo ciclo de “Hakhel”.
Mas o que tem a ver conosco, nos dias de hoje, quando não mais praticamos fisicamente os preceitos ligados ao Beit Hamikdash, o Templo Sagrado?
Muito! Uma vez que as mitsvot foram dadas pelo Eterno D’us e em virtude de seu conteúdo espiritual elas tem uma mensagem eterna.
O ano de 5741 foi um ano de “hakhel”. O Rebe, naquele ano, esclareceu em seus discursos públicos e cartas sobre a relevância da mitsvá de Hakhel hoje em dia, e conclamou a todos para aproveitar a oportunidade que este ano nos propicia. Pois apesar do que as lições do “Hakhel” são aplicáveis em um sentido espiritual em qualquer ano, quando entramos de fato em um ano de “Hakhel”, temos força para realizar as suas implicações com maior energia.
O Rebe explicou que a mitsvá de Hakhel era um meio para alcançar uma meta especifica; a reunião das pessoas e a leitura da Torá pelo Rei eram o início de uma cadeia de eventos que levaria ao fortalecimento das pessoas e de um cumprimento apropriado de Torá.
Ao contemplar sobre este objetivo de Hakhel podemos ver uma relação muito próxima com o preceito de Chinuch –a educação judaica da nova geração. A Torá ordenou que todas as crianças, até bebês, fossem trazidos para o Hakhel. Apesar de que certamente sua presença perturbaria os mais velhos, os impedindo de ouvir atentamente, era importante que as mentes novas e corações das crianças fossem atraídos à preciosidade da Torá e que os seus ouvidos absorvessem palavras de santidade. O fato de trazer as crianças, revertia em crédito e beneficio aos pais, mais do que se eles mesmos tivessem a possibilidade de participar melhor. Pois quando os pais se davam ao trabalho de trazer os seus bebês e crianças junto com eles, muitas vezes em longa e cansativa viagem até Jerusalém, com isso claramente mostrando o seu desejo e aspiração que seus filhos absorvessem santidade para que permanecessem judeus leais e resolutos durante toda suas vidas, D’us os recompensava consequentemente para que seus esforços dessem frutos e para que vissem suas esperanças concretizadas e merecessem muitas alegrias de seus filhos.
D’us nos deu uma mitsvá especial para cumprir uma vez a cada sete anos, a mitsvá de “Hakhel”.Mais tarde na historia judaica encontramos que a mãe do Rabi Yehoshua ben Chanania foi louvada pelo Rabi Yochanan ben Zakai com as palavras, “feliz é aquela que lhe deu à luz”. Esta incrível mulher trazia o seu filho, no seu berço, enquanto bebê, à Sinagoga, para que ele absorvesse palavras de Torá. Ele tornou-se um grande sábio devido à devoção e antevisão de sua mãe.
Daqui pode-se compreender a extensão da dedicação e até o sacrifício que é requerido por parte dos pais, e especialmente da mãe que mais acompanha o filho enquanto é pequeno, para assegurar uma educação apropriada.
A lição de Hakhel não termina aqui, diz o Rebe. Chinuch não é apenas a responsabilidade sagrada dos pais para com seus filhos. Mas assim como foi a obrigação do rei inspirar o público com um sentido irresistível de reverência e subordinação, da mesma forma também é o dever de cada um que é um “rei”- uma pessoa influente no seu meio, um líder espiritual de sua congregação, um professor na sua sala de aula, para levantar a voz da Torá e seus preceitos, com vigor e sinceridade, para que surta uma impressão profunda e uma influência permanente.
Mais ainda, uma vez que todos os judeus são chamados de Cohanim, (“e vocês serão para mim um reino de sacerdotes”) cabe a cada judeu a tarefa de “ficar na rua e tocar trombetas de ouro” para unir todos os judeus e empenhar-se para que se aproximem aos valores da Torá. Podem ser jovens ou velhos, crianças em anos ou crianças na sua compreensão de Torá, ou até forasteiros, estranhos que nós não conhecemos pessoalmente e duvidamos que nos escutem. Todavia, todos eles devem ser chamados e reunidos em ambientesde Torá, e certamente a sua faísca judaica, o “pintele yid” dentro deles será despertada e aos poucos irromperá em uma chama brilhante.
Em nível pessoal, “Hakhel” significa juntar os nossos pensamentos, palavras e ações e trazê-los para dentro do nosso Templo Sagrado interior através de se dedicar completamente à vontade do Rei dos reis - o Santo bendito seja Ele e de assegurar que o “rei” dentro de nós, a nossa mente, domine o nosso coração e os outros órgãos do nosso corpo influenciando-os a cumprir os preceitos da Torá.
Para garantir sucesso, todas estas ideias têm que ser executadas com alegria. Por este motivo o “Hakhel” acontecia durante Sucot, festa chamada de época do nosso regozijo. Pois quando uma mitsvá é aceita com alegria, temos a segurança que a nossa lealdade e a nossa devoção àquela mitsvá não será diminuída com o passar do tempo mas, que teremos um aumento e um progresso em nossos esforços e em nossas realizações com o passar dos dias.
Que Hashem nos permita viver as lições espirituais de “Hakhel” engrandecendo assim o nosso judaísmo e a nossa comunidade e que possamos merecer em breve em nossos dias o grande Hakhel que D’us vai cumprir quando vai reunir os nossos dispersos e todos nós faremos parte da grande assembleia que retornará à Jerusalém com Mashiach!
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