Tikun Olam: Nos ensinamentos judaicos, qualquer atividade que melhore o mundo, aproximando-o do estado harmonioso para o qual foi criado. Tikun Olam implica que embora o mundo seja inatamente bom, seu Criador propositalmente deixou espaço para nós aperfeiçoarmos a Sua obra.

Todas as atividades humanas são oportunidades para cumprir essa missão, e todo ser humano pode ser envolvido em tikun olam – criança ou adulto, estudante ou empreendedor, industrial ou artista, cuidador ou vendedor, ativista político ou ambientalista, ou apenas mais um de nós se esforçando para permanecer à tona.

O que significam as palavras Tikun Olam?

Tikun é traduzido frequentemente como reparo. Mas na Bíblia em Hebraico e no código da Lei Judaica chamado Mishná, tem uma gama de significados: melhorar, consertar, preparar, arrumar, ou apenas “fazer algo com…”1 Tikun poderia ser usado para descrever arrumar uma roda quebrada, manter um caminho, cortar as unhas, arrumar uma mesa, ou decifrar uma parábola para explicar uma ideia difícil.2

Olam no hebraico bíblico denota o tempo todo. No hebraico posterior, veio a significar o mundo. Portanto Tikun Olan literalmente significa fazer algo com o mundo que não apenas vai consertar qualquer dano, mas também melhorá-lo, preparando-o para entrar no estado supremo para o qual foi criado.

Que melhoramento nosso mundo precisa?

Para começar, toda grande arte é uma expressão de seu criador. Mas ao contrário de um Rembrandt ou um Chagall, nosso mundo carece da assinatura de seu artista. Parece ser um lugar que “apenas é” – sem um autor, sem uma história, sem significado.

Cada ato de tikun olam é uma linda afinação das vozes de nosso mundo. Com cada tikun, estamos criando significado a partir da confusão, harmonia do barulho, revelando a parte única que cada criação desempenha numa sinfonia universal que canta sobre seu Criador. Este é um significado mais profundo do termo tikun olam: a palavra olam também significa oculto. Precisamos reparar o mundo para que seu Criador não esteja mais oculto dentro, mas brilhe através de cada coisa numa beleza magnífica e harmoniosa.

Quem inventou Tikun Olam?

As mais antigas histórias da criação e também as modernas filosofias, concedem pouco valor inerente ao mundo material no qual vivemos. Num flagrante contraste, a narrativa da criação no Gênesis repete sete vezes que o Criador considerou Sua criação como “boa” e até “muito boa”.3 Apesar disso, a conclusão da narrativa da criação é que tudo isso foi criado “para fazer – significando, que seus habitantes deveriam melhorá-la, aprimorar a obra divina. D’us completou no sétimo dia tudo que tinha feito… E D'us abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nele Ele cessou de toda a obra que D'us criou para fazer.4

Na verdade, a narrativa descrevendo a criação dos seres humanos originais nos conta que fomos colocados no Jardim do Éden “para trabalhar e protegê-lo.”5 O fato do Criador valorizar nosso mundo e nosso trabalho para melhorá-lo é um motivo que ressoa através dos profetas e escritos rabínicos. “Não para desolação Ele o criou,” diz o profeta Yeshayáhu, “Ele o formou para ser arrumado.”6

Vivendo numa época quando guerra e conquista eram glorificados, Yeshayáhu descreve uma era do futuro quando todas as nações que “batem suas espadas em arados, e suas lanças em ferramentas: nação não erguerá espada contra nação, nem elas aprenderão mais sobre a guerra.”7 Um antigo Midrash ensina: “Tudo que D'us criou, Ele fez para ser melhorado.”8 E portanto os rabinos do Talmud encorajavam todo o povo, não importa o quanto fosse espiritualmente ou intelectualmente inclinado, a contribuir com o bem comum. Aquilo significava construir lares e famílias, e criar uma sociedade civil repleta de atos de carinho e compaixão, sustentada pela justiça, integridade e paz.9 O termo “tikun olam” é usado na Mishná como o motivo por trás da legislação social para melhorar tal sociedade.10

A prece “Aleinu” dita ao final de todas as três preces diárias, fala da nossa esperança para um futuro melhor em breve. Assim, também, ocorre com o cadish, uma prece de resposta repetida muitas vezes durante todo serviço público de prece. Ambas descrevem não um futuro apocalíptico, mas um no qual o mundo terá seu tikun final e suprema glória.

Como Tikun Olam é descrito na Cabala?

A cabala é a teologia tradicional do Judaísmo. Ilumina todas as aplicações práticas do Judaísmo prescritas pela Torá com seu significa interior e seu propósito.

Os cabalistas ensinavam que a Torá foi dada para que pudéssemos melhorar não apenas a nós mesmos, mas toda a ordem cósmica. Nas obras do grande cabalista, Rabi Isaac Luria, conhecido como o “Ari”, isso é chamado tikun e birur. “Birur” é um ato de separar o bem do mal.11

O Ari descreveu como tudo que existe e toda atividade que você poderia fazer contem uma centelha divina. Nosso trabalho, ele ensinou, é encontrar aquelas centelhas divinas, e reconectá-las com seu propósito original, mais elevado, usando a Torá como nosso guia.

Como encontramos aquelas centelhas? Simplesmente fazendo aquelas mesmas atividades, mas numa maneira que revele um significado mais elevado, divino. O Ari dá o exemplo de comer. Você poderia comer apenas para encher um estômago vazio. Mas também poderia comer para extrair energia dos nutrientes do seu alimento, e então canalizar aquela energia para cumprir sua missão divina na vida.

Você agora está fazendo birur e tikun – separando o bem do mal e reconectando o bem em seu verdadeiro lugar. Da mesma forma, você poderia fazer negócios apenas para acumular riqueza. Mas você poderia fazer o mesmo negócio usando uma porcentagem de seus lucros com objetivos caridosos. O próprio negócio poderia ser um veículo para o bem, criando cooperação entre partes que poderiam ser hostis, demonstrando as virtudes da honestidade e da integridade, e provendo muitas pessoas com uma fonte de renda digna. Isso também é um birur e tikun. Você está revelando o verdadeiro significado e elevado propósito de seu negócio e tudo conectado a ele.

Como Tikun Olam Afetou o Mundo Moderno?

A explicação do Ari sobre o tikun teve um poderoso impacto sobre o mundo judaico – e além. Alguns eruditos sugeriram que a ideia moderna de progresso social que surgiu na Europa no século 17 emergiu da ideia de tikun, quando textos cabalísticos foram popularizados entre os eruditos.12

Não demorou muito para que Rabi Israel Baal Shem Tov e seus alunos aplicassem os ensinamentos do Ari a todo judeu. Ele ensinou que esse não era o domínio somente dos cabalistas – todo judeu, com toda mitsvá, onde quer que a força divina o levasse, está consertando, melhorando e purificando o mundo. Nos nossos tempos, Rabi Menachem M. Schneerson, de abençoada memória, descrevia tikun olam como a missão de todo ser humano. Ele falava com urgência na voz, com a convicção de que em nosso tempo, uma pequena ação podia levar o mundo à resolução pela qual tinha ansiado desde sua criação.

Quais são exemplos de Tikun Olam?

Tikun Olan é usado frequentemente para descrever exclusivamente atos de justiça social e consciência ambiental. Estes certamente são importantes, pois somos todos responsáveis por consertar a injustiça. “Silenciar”, diz o edito talmúdico, “é consentir.”13 E certamente é vital que asseguremos a sustentabilidade da vida sobre este magnífico estágio da criação. Mas é crucial notar que Tikun Olam não é somente para ativistas políticos e ambientalistas. Há numerosas maneiras para nós fazermos tikun olam em nossa vida diária. A Mishná ensina que cada pessoa é um mundo inteiro.14

Qualquer tikun feito neste mundo reverbera através de todo o restante do mundo. Cada tikun tem o potencial de mudar tudo. Em prece, descobrimos as centelhas divinas tanto no mundo magnificente ao redor, como dentro de nós mesmos. No estudo de Torá, quando aplicamos sabedoria divina a nossa vida diária, revelamos as centelhas divinas ali ocultas.

Uma das formas mais importantes de tikun olam hoje é sentar com sua família numa noite de sexta-feira e celebrar a criação deste mundo magnífico, com um kidush à luz brilhante das velas do Shabat. Toda mitsvá prescrita pela Torá é um elemento crucial em tikun olam. Mas não acaba aí. Todo aspecto da vida de uma pessoa, até os mais mundanos, tem propósito e dá uma oportunidade para tikun olam. Em nosso local de trabalho, criamos valor construindo conexões, agrupando o mundo junto de maneira pacífica, harmoniosa. A maneira que você come e o que você come, a maneira como trata os outros, os compromissos que faz com sua família e amigos – todos esses são meios de tikun olam, trazendo o mundo ainda mais perto de seu supremo estado para o qual foi criado.