Por Tor@Mail

Na Porção semanal de Kedoshim a Torá nos ensina cinquenta e um novos mandamentos. Dois destes 51 são "Orlá" e "Neta Revaie". A produção e os frutos dos três primeiros anos de todas as árvores frutíferas plantadas em Israel são chamados de "Orlá" e não podem ser comidos ou usados de qualquer forma, enquanto os frutos do quarto ano, (chamado Neta Revaie) são Sagrados e podem ser comidos, mas somente em Jerusalém. Apenas no quinto ano os frutos são apropriados para o consumo comum. Mas, surpreendentemente, a Torá promete que qualquer agricultor que se abstenha de comer ou vender o produto "Orlá" dos primeiros três anos vai obter uma bênção especial em sua produção no quinto ano!

Por que o quinto ano? Por que D'us não abençoa os frutos "sagrados" do quarto ano? Por que só o quinto ano das frutas (que é comum)?

Para entender isso aqui segue uma história.

O Movimento Chabad reforça a necessidade de melhorar o mundo inteiro, começando com os judeus, através da Educação e da Torá.

O Rebe, Rabino Menachem Mendel Shneerson divulgou isso em vários países, até que, na década de setenta, declarou que ele iria "quebrar a casca" da França, um dos maiores obstáculos ao judaísmo observante. Ele enviou representantes para abrir instituições Chabad em todo o país, e o sucesso foi fenomenal! Pela primeira vez na história, judeus franceses assimilados tornaram-se genuinamente quentes pelo Judaísmo e centenas de jovens judeus franceses começaram a aprender Torá e viver de acordo com ela.

Um desses representantes era o rabino Shmuel. Ele quase não sabia francês, quando o Rebe o chamou em seu escritório e atribuiu a ele e sua esposa uma determinada cidade francesa, os abençoou e concluiu com as palavras: "É importante que você seja sempre  feliz (b'Simcha), porque o povo francês odeia uma face irritada."

Desde o momento em que chegaram tiveram sucesso, no início devagar e com muitas dificuldades, mas depois de dois anos, já havia duzentas crianças, todos elas não-praticantes, que frequentavam as aulas em um prédio adaptado para escola.

Mas então ocorreu uma "tempestade". Um inspetor da área de construção do governo apareceu no local e anunciou que as classes poderiam continuar, mas o lugar estava "em análise". Durante três dias, o inspetor remexia, escrevia notas num caderno, até que finalmente sem cerimônia entregou a Rav Shmuel uma longa lista de "riscos" na instituição. Ele estimou que custaria mais de vinte mil dólares para corrigir, deu-lhe três meses para consertar tudo e anunciou que, se até mesmo uma falha permanecesse sua escola seria fechada.

Reb Shmuel tinha dificuldade até mesmo para pagar o salários dos professores, como ele poderia chegar a uma quantia tão grande em tão pouco tempo? Mas ele lembrou das palavras do Rebe sobre estar beSimchá, sorriu, balbuciou uma pequena prece e esperou o melhor.

Nos dois meses seguintes, ele tentou várias soluções. Ele fez um jantar, enviou cartas pedindo doações, e até apelou para todas as pessoas mais abastadas que conhecia, mas nada funcionou. Tornava-se cada vez mais difícil ficar "feliz". Então, de repente ele se lembrou de um encontro casual vários meses antes. Ele havia viajado no trem expresso para Paris e, acidentalmente, entrara no vagão errado. Enquanto ele estava procurando seu lugar, um outro passageiro o interrompeu e disse de bom coração, "Você deve ter feito o mesmo erro que eu fiz. Veja o seu bilhete, ele diz vagão 18 e este é o 17. Não há problema! Veja, há uma série de lugares vazios. Você pode sentar-se ao meu lado."

Então descobriu que o homem era judeu e assistente chefe de um membro do Parlamento francês. Eles conversaram durante as duas horas da viagem, e o Rabino Shmuel lembrou que quando se aproximaram de Paris o homem lhe deu seu cartão de visitas e calorosamente convidou-o a ligar para ele se precisasse de alguma coisa.

Engraçado ele não ter pensado nisso antes, mas agora ele estava desesperado. Ele procurou freneticamente em seu escritório e encontrou o cartão, ligou para o número e quando não houve resposta decidiu ir pessoalmente ao endereço do cartão.

Era um edifício de escritórios enorme, ele entrou, entregou o cartão à secretária na recepção, mas ela tinha uma má notícia. O homem que estava procurando estava no exterior a negócios e não iria voltar por "um bom tempo."

O Rabino Shmuel nem sequer teve tempo de ficar decepcionado quando de repente atrás dele, ouviu pessoas na porta dizendo: "Oh Olá Sr. Blan,  como vai Sr. Blan?” Então lembrou-se que tinha lido num jornal que" Blan " era o nome do comissário da construção para sua cidade! Ele se virou e viu um rapaz bem vestido apertando as mãos das pessoas. Animadamente ele se aproximou, apertou a mão do jovem e lhe perguntou se ele era de fato o comissário.

"Ah, não, não." Ele respondeu cordialmente. "Você deve estar falando do meu pai. Se você quiser conhecê-lo, pode ligar e marcar uma consulta. Aqui está o seu número." Ele disse enquanto tirava um cartão de sua carteira.

De repente, num ímpeto de ousadia, ele olhou o jovem nos olhos, sorriu levemente e disse: "Eu quero que você ligue para ele. É muito importante."

Como mágica, o jovem sacudiu a cabeça afirmativamente, foi até o telefone e voltou momentos depois anunciando que seu pai iria vê-lo em seu escritório em duas horas.

Duas horas mais tarde o Rabino Shmuel estava de pé em frente a um comissário idoso explicando seu dilema terrível: em duas semanas ele estava para ser despejado e duzentas crianças iriam para a rua. Ele estava esperando por uma suspensão da execução ou talvez até mesmo algumas salas em algum outro edifício até que pudesse arranjar outra coisa.

"Sente-se, por favor", disse o comissário "Você se importa se eu fizer uma pergunta, Rabino?"

O Rabino Shmuel estava um pouco apreensivo, mas ele se sentou e disse que ficaria feliz em responder com o máximo de sua capacidade.

"Diga-me, Rabino, o que você pensa sobre o seu primeiro-ministro israelense começar a devolver o deserto do Sinai para os árabes? Há muitos que se opõem a este gesto para a paz. O que você acha?"

Agora o Rabino Shmuel estava realmente na "frigideira". Os franceses eram notoriamente de esquerda, pró-árabe e contra qualquer coisa que apontasse para a opressão racial; especialmente se fossem da parte de judeus. Uma palavra errada e sua única chance iria por água abaixo. Ele já podia ver sua escola desaparecendo na história. O Rebe se opunha fortemente à entrega do Sinai. Passou em sua mente tentar ser diplomático e fugir à questão, mas ele estremeceu com o pensamento e apenas deixou-o sumir de sua cabeça. "Sr. Blan, eu sou um chassid do Rebe que acredita que o retorno do Sinai é um grande erro e levará apenas à tragédia."

O velho olhou profundamente para ele e disse. "Acabei de voltar de Israel, no mês passado, eu estive lá por uma semana. Sou até mesmo um representante aqui na França do Instituto Weitzman de Israel. Eu quero dizer-lhe que, na minha opinião, a devolução do Sinai é talvez a coisa mais insana do mundo... Completamente suicida!"

Ele então pegou uma Bíblia de uma gaveta a colocou em sua mesa e continuou. "Neste livro diz que Israel pertence ao povo judeu. Se D'us disse isso, já é bom o suficiente para mim. Ninguém tem o direito de tomar aquela terra! Ninguém no mundo!" Ele fez outra pausa e continuou: "Rabino, eu vou escrever uma carta sobre a sua escola para o Ministro do Interior em Paris. Ele é o único que toma as decisões não eu, mas acredito que tudo ficará bem. Por favor, entre em contato comigo em uma semana."

Uma semana depois, o rabino estava novamente sentado em frente ao comissário aguardando sua resposta. O comissário espalhou um conjunto de projetos sobre a mesa e disse. "Você entende sobre plantas de prédios? Este, Rabino, é o seu novo edifício! É seu. Viu? Tem dois andares, e cerca de três mil metros quadrados. Vou chamar o meu motorista e vamos até lá para vê-lo. Você pode se mudar para lá assim que quiser."

O rabino ficou pasmo! Um edifício enorme e completamente seu! Ele estava esperando apenas algumas salas! Ainda mais surpreendente, na França há uma separação muito rígida entre Igreja e Estado, este foi provavelmente o primeiro edifício dado pelo governo francês para uma instituição religiosa.

Quando o Comissário virou-se para o rabino Shmuel, disse: "Rabino, eu quero lhe dizer uma coisa. Você sabe por que estou fazendo isso? Você me disse que era um Chassid, certo? Bem, eu perguntei a um dos meus amigos o que é um Chassid e ele respondeu que os chassidim são judeus que estão sempre felizes. Isso fez eu me sentir bem. Você tem uma “Cara feliz” e não tem uma "cara amarrada". Odeio pessoas de cara amarrada! "

O Rabino Shmuel entendeu então exatamente o que o Rebe queria dizer com essas mesmas palavras dois anos antes.

Agora podemos abordar a resposta à nossa pergunta; devemos nos abster dos três primeiros anos das frutas 'Orlá', e a bênção vai para o quinto ano. Mas teremos de recorrer a alguns conceitos judaicos místicos. D'us criou este mundo de tal maneira que não podemos julgar as coisas pelo seu valor nominal. Se não vemos o "quadro geral", é fácil nos enganarmos pelas falsidades do mundo; o livro "Tanya", explica que existem muitos níveis de tal falsidade. Três delas são chamadas de "Shalosh Klipot HaTemeot" que são principalmente atos, falas e pensamentos proibidos. Isto corresponde aos três anos de Orlá.

Mas outro erro é ser enganado pelo mundo espiritual. Este foi o pecado dos dois filhos de Aharon, Nadav e Avihu na Parashá passada. Eles ficaram tão extasiados com a santidade espiritual que entraram ilegalmente no Tabernáculo e morreram. Isto corresponde a um quarto nível espiritual, não tão proibido, chamado de "Kelipat Noga", representado pelo não totalmente permitido, frutos 'sagrados' do quarto ano. O "quadro geral" no entanto, é fazer com que toda a criação, todas os quatro "níveis" anteriores virem um templo sagrado.

É por isso que os judeus foram escolhidos para revelar a maior santidade no mundo físico assim como o Templo era um prédio físico real representado pelos frutos comuns do quinto ano, e é por isso que a bênção principal cai sobre eles. Isto é o que o Rabino Shmuel fez em nossa história; tudo dependia de conseguir um edifício real, físico. Com apenas um sorriso e a verdade simples ele conseguiu. Maimônides escreve que ocorrerá nos dias de Mashiach exatamente dessa forma; toda a humanidade verá a revelação do Criador em todos os aspectos da criação, como ele escreve no final de sua obra-prima; com a chegada de Mashiach todos vivenciarão o verdadeiro significado de paz e alegria, o Templo será reconstruído e todos os judeus retornarão à Terra Santa, e o mundo será preenchido com o conhecimento de D'us, como a água enche o oceano.