Gosto de me sentar perto do meu marido durante os serviços na sinagoga; é por isso que não frequento Chabad,” disse-me uma distinta senhora. Então perguntei a ela: “Você assiste ao programa de TV Dançando Com os Famosos?”
“Claro,” disse ela. “Na verdade, está chegando o final, e mal posso esperar para ver quem vencerá a competição!”
“E seu marido senta no sofá perto de você para assistirem juntos?”
Ela riu. “Oh, não, ele fica na outra sala assistindo um jogo de futebol.”
“Então, às vezes vocês se sentam separados um do outro para fazerem coisas individuais,” disse eu. “E isso não tira sua identidade como casal, mas até destaca quem são os dois e o relacionamento que compartilham.”
Uma metáfora ainda melhor poderia ser um vestiário. Quando homens e mulheres trocam de roupa, é necessária uma separação. E quando homens e mulheres se despem espiritualmente, também há uma vulnerabilidade e uma intimidade que precisa ser resguardada e protegida; e, portanto, a separação – na forma da divisão mechitzah que separa homens e mulheres na sinagoga – é necessária.
Certamente, se estamos assistindo a um show, até uma apresentação importante e significativa, poderíamos nos sentir bem sentando juntos. Mas quando estamos realmente, verdadeiramente nos despindo em prece – louvando, pedindo, implorando e agradecendo em reverência e humildade – nossa alma está nua. É um momento em que meninos e meninas precisam de um tempo longe uns dos outros. E a shul, com sua cortina cerrada, é um “vestiário”. Só que estamos trocando algo mais profundo que nossas roupas.
Após praticar como Rabino conservador por mais de 20 anos, entendo que os serviços da sinagoga liberal com frequência funcionam como uma apresentação, um show. Há um palco e há uma plateia. O show apresentado pode ser significativo, comovente e interessante. Porém, há uma grande diferença entre assistir um programa e realmente fazer meus joelhos se dobrarem.
A palavra hebraica para “sagrado”, kodesh, na verdade significa “separar”. O Shabat é sagrado porque o separamos de todos os outros dias da semana. A cerimônia de casamento é chamada kidushin porque separa o casal das outras pessoas e os liga um ao outro. Às vezes, temos de dissecar para entender a totalidade. A própria palavra mechitzah vem da palavra “metade”: separa suas metades num inteiro. Você poderia dizer que uma mechitzah traz santidade e “integridade”.
A ideia de separar a fim de unir é encontrada na Cabalá e na filosofia chassídica. Combina perfeitamente com o conceito conhecido como tzimtzum, que para criar o mundo e os seres humanos que poderiam relacionar-se com Ele, D'us primeiro teve de contrair e ocultar Sua luz infinita. Se você olhasse diretamente para o sol durante algum tempo, a própria luz tiraria sua visão. A fim de manter nossa visão, devemos às vezes ocultar a luz.
Não admira que as luzes para introduzir o Shabat sejam acesas ao pôr do sol, a hora que separa dia e noite. É uma hora sagrada, quando você pode ver claramente a luz das velas. As velas permitem que entendamos melhor e que possamos metaforicamente “ver” a luz de D'us com nossos olhos finitos. Não é coincidência que essa mitsvá tão importante seja delegada às mãos das mulheres.
Onde Está o Coração
Muitos judeus atualmente veem o Judaísmo com uma inclinação cristã. Grande parte do ritual daquela religião ocorre no templo. É onde as velas são acesas e o vinho é abençoado. Em contraste, a grande maioria da observância judaica ocorre em casa. O lar é onde as leis, rituais, tradições, feriados, ensinamentos, costumes, Seders, sucot, seudot (refeições) e Shabat são encenados. Até o brit milah (circuncisão) e sentar shivah, as duas mitsvot da vida, são levadas para o ambiente da casa. No lar judaico, a mulher é a estrela; e, como foi mencionado antes, ela até acende os holofotes.
Toda sinagoga conservadora onde trabalhei proclamava orgulhosamente que era o “centro” da vida judaica em sua comunidade. E assim, numa noite de sexta-feira, como rabino consrvador, eu tinha de engolir meu jantar do Shabat em meia-hora e correr para o serviço noturno às 8 da noite, permanecendo ali por três horas, incluindo os biscoitos após o serviço e o shmoozing. Quando fazemos do nosso lar o centro da vida judaica, rezamos na sinagoga durante uma hora toda noite de sexta-feira e então passamos horas ao redor da mesa de jantar com nossa família.
Certa noite, quando eu estava em meu escritório na sinagoga, tocou o telefone. Era uma operadora de telemarketing que obviamente pensava estar ligando para uma residência. “O Sr. ou a Sra. Judaico está em casa?” perguntou ela, com um sotaque sulista. A princípio pensei que alguém estava sendo ofensivo, depois entendi que ela apenas estava confusa. Mas agora vejo, ela tinha uma boa pergunta: “O Sr. ou a Sra. Judaico está em casa?” Talvez não se trate da mechitzah; não seja sobre aquela pequena cortina na sinagoga – talvez seja sobre as quatro grandes paredes de tijolo da casa. E infelizmente, as mulheres contemporâneas, judias ou não, tenham se tornado desconectadas do lar. Há uma mechitzah de metal bloqueando as mulheres, e os homens, filhos e famílias, de entrar no santuário do Judaísmo, o lar.
Nesse contexto podemos começar a entender como foi sábia a campanha do Rebe promovendo o acendimento das velas. O Rebe sabia que a luz da mulher precisaria ser acesa para levar sua família de volta ao lar, para que pudessem se lembrar daquilo que é importante na vida judaica. A mulher judia precisa ser lembrada de que no Judaísmo seu lar vem primeiro, e ela está sempre na primeira classe.
Como Avraham sabia muito bem sobre sua esposa Sarah: “Ela se veste em força e dignidade… Cuida dos assuntos da família; Coloca perante ela o fruto de suas mãos; onde quer que as pessoas se reúnam, seus atos a louvam.” Depois que tudo foi dito e feito, o que realmente separa homens e mulheres no Judaísmo não é a mechitzah; é o elevado nível de santidade da mulher.
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