Após fugir da Terra de Israel e de Esav, seu irmão sedento de sangue, Yaacov luta para criar a família em meio às fraudulentas atividades de Laban (Labão). Então, em seu caminho de volta para Israel, Yaacov deve mais uma vez encontrar seu sinistro irmão.

Preparando-se para a confrontação, Yaacov reza a D'us: "Por favor, salve-me das mãos de meu irmão, da mão de Esav, pois tenho medo dele" (Bereshit 32:12). Qual o significado desta prece? Yaacov tinha apenas um irmão; não seria suficiente pedir salvação apenas "de meu irmão" ou de "Esav"? Por que Yaacov foi tão específico?

O Beis HaLevi explica que Yaacov antecipou dois possíveis perigos em enfrentar Esav. Naturalmente havia o temor de que Esav ainda quisesse vingança, e que ele estava planejando um ataque militar, com todo o exército que trouxera com ele. Para esta eventualidade, Yaacov pediu a D'us que o salvasse "da mão de Esav". Apesar disso, Yaacov estava mais preocupado com a outra possibilidade. Havia uma chance de que, após todos aqueles anos, Esav tivesse decidido viver em paz com o irmão e estava vindo para saudá-lo com um grande comitê de recepção. Embora na superfície isso parecesse ser apenas uma ameaça, Yaacov percebeu o extremo perigo que havia nessa possibilidade. Agindo de maneira fraterna e mantendo sempre contacto, Esav pôde sutilmente entrelaçar seus "valores" com aqueles de Yaacov, que havia tão cuidadosamente inculcado os valores e a moral da Torá em si mesmo e na família. Em resposta à essa ameaça, Yaacov rezou também "salve-me da mão de meu irmão".

Os valores de Esav são diametralmente opostas àqueles de Yaacov e do povo judeu. Enquanto este dirige seus esforços às conquistas mundanas, Yaacov acredita que "Este mundo é como um vestíbulo para o Mundo Vindouro" (Pirkê Avot 4:21). Quando Esav e Yaacov tornam-se fraternos demais, os valores de Yaacov tornam-se diluídos e distorcidos pelos tentadores valores de Esav.

O resultado é perfeitamente claro para nós em nossa época, quando vemos o povo judeu vivenciando uma séria crise de identidade, e sofrendo o flagelo do casamento misto. No Holocausto, sentimos a tremenda força da mão "violenta" de Esav; agora parece que estamos sendo vitimados pela mão "fraterna."

Neste ponto, devemos nos perguntar o que podemos fazer a respeito dessa situação. Para responder esta questão, mais uma vez observamos as ações de Yaacov como descritas na porção desta semana da Torá. Quando terminou o confronto, Esav voltou para casa na terra de Seir e Yaacov foi a um lugar chamado Sucot.

A Torá relata que Yaacov "construiu uma casa para si, e para o gado fez cabanas; por isso deu ao lugar o nome de Sucot (cabanas) (Bereshit 33:17).

Pergunta-se: Por que Yaacov deu a este lugar o nome das cabanas que havia feito para o rebanho – não teria sido mais apropriado dar-lhe o nome baseado na moradia mais substancial que construíra para a família?

A resposta é simples. Após encontrar-se com Esav, alguém que acreditava que o principal objetivo desta vida era amealhar bens materiais, Yaacov desejava criar um lembrete de que a vida é transitória e que a aquisição de fortuna material não é o verdadeiro propósito da vida. Por isso, deu ao lugar o nome das cabanas temporárias que fez para seus animais.

A lição que nos fica das ações de Yaacov é que em nosso tempo, quando estamos tão expostos aos valores de Esav, devemos nos assegurar de que não esqueceremos quais são nossos valores. A única maneira de atingir isso é reforçando nosso conhecimento e nosso compromisso, algo que só pode ser conquistado através do estudo de Torá.