Na porção da Torá desta semana, lemos a respeito do nascimento de Yaacov e Esav, e das diferentes naturezas e interesses caracterizando cada um de seus filhos. Yaacov é o diligente estudante de Torá, ao passo que Esav demonstra talento para a caça e para montar armadilhas para animais. Esav cresce desviando-se totalmente do caminho moral e não vê restrições em sua ânsia para satisfazer seus desejos.

O Midrash nos diz que no mesmo dia em que Avraham morreu, Esav cometeu alguns dos crimes mais abjetos, incluindo o pecado capital de assassinato e estupro, voltando para casa naquela noite completamente exausto, à beira de um colapso. Isso é o que a Torá quer dizer quando nos conta que Esav chegou cansado do campo (Bereshit 25:29).

O faminto Esav percebe seu irmão Yaacov preparando um delicioso cozido de lentilhas (que seria servido a Yitschac durante a primeira refeição servida aos enlutados assim que voltam do cemitério). Com seus modos tipicamente rudes, Esav implora a Yaacov que lhe dê uma porção de lentilhas. Yaacov oferece-lhe a comida em troca do direito espiritual de primogenitura reservado ao filho mais velho. Esav reflete sobre a oferta e cinicamente, aceita sem vacilar: "De qualquer forma vou morrer algum dia, então de que me serve o direito a primogenitura?"(ibid. 25:32). Incrivelmente, Esav dispensa a eternidade e a distinção espiritual por uma panela de grãos! Uma panela de grãos! Está louco?

Melhor do que lidar com Esav e seu distorcido senso de valores, devemos olhar para dentro de nós mesmos: será que nós também não desperdiçamos oportunidades de adquirir a eternidade por nossa própria versão de "uma panela de grãos"?

Nossos rabinos nos falam sobre o imenso mérito que a pessoa recebe por responder com a frase "Y'hei sh'mei rabá mevorach…” – “Bendito seja Seu santo nome…" durante o Cadish. Tal resposta tem o poder de anular toda uma vida de severos decretos ordenados contra nós. Mas quantos de nós disperdiçamos esta oportunidade falando bobagens com nossos amigos, ao invés de nos atermos ao poderoso momento espiritual? Quando confrontados com a escolha de ir à sinagoga ou permanecer na cama prolongando nosso sono, qual escolha fazemos?

Quando o rabino fala mesmo uma brevedrashá ou comenta alguma halachá entre os serviços de Minchá e Ma'ariv, corremos para escutar as lições, ou saímos para escutar as novidades? Não estaremos também jogando fora as chances da eternidade, em troca de uma "panela de grãos?"

Esav pode ter sido insano, mas também podemos encontrar um pouco de Esav dentro de nós, e deveremos fazer de tudo para eliminá-lo. Que D’us nos conceda a sabedoria para fazer a escolha certa.