Não nos surpreendemos mais quando talentosos judeus são apontados como ganhadores do prêmio Nobel. Há uma lista significativa em número e mentes de judeus que contribuiram para o desenvolvimento científico, prático e intelectual, através de pesquisas e descobertas que determinaram novos rumos ao presente e futuro do planeta e da humanidade.

Este ano, no entanto, tivemos duas grandes lições na entrega do prêmio. O Nobel de Física, que foi dividido entre o americano Bruce Beutler, o franco-luxemburguês Jules Hoffmann e concedido ao judeu canadense Ralph Steinman, falecido três dias antes do anúncio oficial, sem que a comissão soubesse antes. Como Steinman não havia sido contactado, e apenas souberam mais tarde de sua morte, o prêmio foi mantido em homenagem póstuma recebida por seus familiares. Steinman faleceu na véspera de Rosh Hashaná.

O caso de Steinman nos ensina que é uma pena não termos tido o reconhecimento em vida de nosso trabalho, mas no entanto, mesmo após a morte, podemos ser avaliados e homenageados por nossas contribuições. Construir um bom nome também pode ser comparado a um monumento. No caso do cientista ele deixou um legado, um monumento à humanidade.

Outro exemplo tem sido o judeu israelense Dan Shechtman, Nobel de Química, (cientista do Instituto de Tecnologia de Israel, Technion), pela descoberta dos quase-cristais.

Na manhã de 8 de abril de 1982, enquanto examinava uma liga de alumínio e manganês em um microscópio eletrônico, Shechtman viu uma imagem que contradizia as leis da natureza e inicialmente duvidou do que havia observado. Mais difícil foi convencer a comunidade científica de que se tratava de uma importante descoberta. Um dos que duvidaram foi Linus Pauling, ganhador do Nobel de Química em 1954. Em toda matéria sólida, até então se achava que os átomos se agrupavam dentro de cristais em padrões simétricos repetidos periódica e constantemente. Para os cientistas, essa repetição era fundamental de modo a se obter um cristal.

A imagem vista por Shechtman mostrava algo diferente: que átomos em um cristal poderiam ser agrupados em um padrão que simplesmente não se repetiria jamais. A descoberta foi tão polêmica que o próprio cientista foi convidado a deixar o grupo de pesquisa do qual fazia parte. O diretor do laboratório até mesmo lhe deu um manual de cristalografia, aconselhando-o a estudar mais. Durante 29 anos foi desacreditado, criticado e desprezado por colegas. Perdeu até seu lugar junto ao seu grupo de pesquisas.

No entanto, mosaicos ajudam a elucidar sua descoberta. Mosaicos não periódicos, como os medievais encontrados em construções islâmicas – tal qual o palácio de Alhambra, na Espanha, ou a mesquita Darb-i Imam, no Irã. Eles ajudaram os cientistas a entender como os quase-cristais se parecem no nível atômico. Assim como os quase-cristais, esses mosaicos têm padrões regulares, que seguem regras matemáticas, mas nunca se repetem.

Depois da descoberta de Shechtman, outros cientistas produziram diversos tipos de quase-cristais em laboratório. Na natureza, essas formas inusitadas também são encontradas. Foram observadas em amostras de minerais de um rio na Rússia e em um tipo de aço feito na Suécia. Quase-cristais estão sendo experimentados nos mais variados produtos, de frigideiras e motores a diesel.

O tempo e outras pesquisas mostraram que Shechtman estava certo e sua descoberta acabou alterando o conceito e o conhecimento sobre a matéria sólida. Shechtman receberá 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 2,8 milhões) em cerimônia em dezembro, em Estocolmo. Mas, como devem concluir comigo, sua recompensa é muito maior que a monetária: é ter sido reconhecido, ter dado a volta por cima sendo coroado, deixando estupefada toda uma classe científica.

A lição que devemos levar para nossas vidas, em nosso relacionamento com colegas, amigos e familiares e para nós mesmos são significativas:

Devemos aprender a escutar sempre as pessoas a nossa volta. Jamais devemos subestimar nossos colegas, irmão, um amigo. Devemos sempre dar-lhes respeito e espaço para que possam se expressar. Ficaremos surpresos com a capacidade e resultados que poderão ser conquistados.

Nos próximos dias encerraremos a leitura da Torá com a última Porção, Vezót Haberachá, para em seguida recomeçar Bereshit. Um novo ciclo, uma nova história para ser vivida a cada dia. Agora que temos uma folha em branco, que zeramos nossos “pecados” em Yom Kipur ao sermos perdoados virtualmente, começamos uma folha nova, em branco, onde começaremos a reescrever nossa ficha, nossa história... Como viveremos no próximo ano que se inicia. Que 5772 seja um ano de superação e refinamento em nossa jornada. Todos poderão contribuir e fazer história. Que seja uma história de paz, felicidade e entendimento para toda a humanidade.

Que possamos hoje acreditar mais em nós, como seres humanos destinados a uma meta Divina. Jamais devemos duvidar de nossos próprios talentos. Acreditar, perseguir sonhos e ter a capacidade de realizá-los deve ser a meta de nossa vida. O Livro da Vida, a Torá, possui a receita: cabe a nós colocá-la em prática, sem errar os ingredientes!


Judeus que receberam o Prêmio Nobel

Literatura: 1910 - Paul Heyse, 1927 - Henri Bérgson, 1958 - Boris Pasternak, 1966 - Shmuel Yosef Agnon, 1966 - Nelly Sachs, 1976 - Saul Bellow, 1978 - Isaac Bashevis Singer, 1981 - Elias Canetti, 1987 - Joseph Brodsky, 1991 - Nadine Gordimer, 2002 – Imre Kertesz e 2004 - Elfriede Jelinek.

Paz: 1911 - Alfred Fried, 1911 - Tobias Michael Carel Asser, 1968 - Rene Cassin, 1973 - Henry Kissinger, 1978 - Menachem Begin, 1986 - Elie Wiesel ,1994 - Shimon Peres e Yitzhak Rabin e 1995 – Joseph Rotblat.

Química: 1905 - Adolph Von Baeyer, 1906 - Henri Moissan, 1910 - Otto Wallach, 1915 - Richard Willstaetter, 1918 - Fritz Haber, 1943 - George Charles de Hevesy, 1961 - Melvin Calvin, 1962 - Max Ferdinand Perutz, 1972 - William Howard Stein, 1977 - Ilya Prigogine
1979 - Herbert Charles Brown, 1980 - Paul Berg e Walter Gilbert, 1981 - Roald Hoffmann,
1982 - Aaron Klug, 1985 - Albert A. Hauptman e Jerome Karle, 1986 - Dudley R. Herschbach, 1988 - Robert Huber, 1989 - Sidney Altman, 1992 - Rudolph Marcus, 1998 – Walter Kohn, 2000 - Alan J. Heeger, 2004 - Avram Hershko e Aaron Ciechanover.


Economia: 1970 - Paul Anthony Samuelson, 1971 - Simon Kuznets,1972 - Kenneth Joseph Arrow, 1975 - Leonid Kantorovich, 1976 - Milton Friedman, 1978 - Herbert A. Simon, 1980 - Lawrence Robert Klein, 1985 - Franco Modigliani, 1987 - Robert M. Solow
1990 - Harry Markowitz e Merton Miller, 1992 - Gary Becker, 1993 - Rober Fogel, 1994 – John C. Harsanyi e 2002 – Daniel Kahneman.


Medicina: 1908 - Elie Metchnikoff, 1908 - Paul Erlich, 1914 - Robert Barany, 1922 - Otto Meyerhof, 1930 - Karl Landsteiner, 1931 - Otto Warburg, 1936 - Otto Loewi, 1944 - Joseph Erlanger e Herbert Spencer Gasser, 1945 - Ernst Boris Chain, 1946 - Hermann Joseph Muller, 1950 - Tadeus Reichstein, 1952 - Selman Abraham Waksman, 1953 - Hans Krebs e Fritz Albert Lipmann, 1958 - Joshua Lederberg, 1959 - Arthur Kornberg, 1964 - Konrad Bloch, 1965 - Francois Jacob e Andre Lwoff, 1967 - George Wald, 1968 - Marshall W. Nirenberg, 1969 - Salvador Luria, 1970 - Julius Axelrod, 1970 - Sir Bernard Katz, 1972 - Gerald Maurice Edelman, 1975 - David Baltimore e Howard Martin Temin, 1976 - Baruch S. Blumberg, 1977 - Rosalyn Sussman Yalow e Andrew V. Schally, 1978 - Daniel Nathans, 1980 - Baruj Benacerraf, 1984 - Cesar Milstein, 1985 - Michael Stuart Brown e Joseph L. Goldstein, 1986 - Stanley Cohen e Rita Levi-Montalcini, 1988 - Gertrude Elion,
1989 - Harold Varmus, 1991 - Erwin Neher e Bert Sakmann, 1993 - Richard J. Roberts e
Phillip Sharp, 1994 - Alfred Gilman e Martin Rodbell, 1995 - Edward B. Lewis, 1997 - Stanley B. Prusiner, 2000 - Eric R. Kandel e 2002 - H. Robert Horvitz.


Física: 1907 - Albert Abraham Michelson, 1908 - Gabriel Lippmann, 1921 - Albert Einstein
1922 - Niels Bohr, 1925 - James Franck, 1925 - Gustav Hertz, 1943 - Gustav Stern, 1944 - Isidor Issac Rabi, 1952 - Felix Bloch, 1954 - Max Born,1958 - Igor Tamm, 1959 - Emilio Segre, 1960 - Donald A. Glaser, 1961 - Robert Hofstadter, 1962 - Lev Davidovich Landau
1965 - Richard Phillips Feynman e Julian Schwinger,1969 - Murray Gell-Mann,1971 - Dennis Gabor,1973 - Brian David Josephson,1975 - Benjamin Mottleson, 1976 - Burton Richter, 1978 - Arno Allan Penzias e Peter L Kapitza, 1979 - Stephen Weinberg e Sheldon Glashow, 1988 - Leon Lederman, Melvin Schwartz e Jack Steinberger, 1990 - Jerome Friedman, 1992 - Georges Charpak,1995 - Martin Perl, 1995 - Frederik Reines,
1996 - Douglas D. Osheroff e David M. Lee, 1997 - Claude Cohen-Tannoudji,1999 - Martinus J. Godefriedus Veltman, 2002 - Raymond Davis, 2003 - Vitaly Ginzburg, 2004 - David J. Gross e David Politzer.