O que se segue é um artigo de Rabino Yoseph Vigler, sheliach e Rav do Mayan Yisrael Center da Chassidut em Flatbush, publicado na nova edição “Chabad House Compass Magazine”, um periódico de Merkos para sheluchim. “Chassidut Exige Estrutura”.

O que você faz se o seu filho o desobedece quando você diz “não”? Como deve reagir quando seu filho reclama sobre o professor? Como você lida com um filho que não corresponde aos padrões dos seus outros filhos?

Houve certa vez um bar mitsvá na Polônia ao qual compareceram o Rebe Frierdiker e o Rebe Radomsker. Por algum motivo, somente adultos foram convidados, mas não crianças. No entanto, um menino penetrou e se escondeu sob uma mesa. Quando foi descoberto, o Rebe Frierdiker mandou que alguém o escoltasse para fora. O Rebe Radomsker voltou-se para o Frierdiker e disse: “Rebe de Lubavitch, qual o problema? É apenas uma criança. A isso o Rebe Frierdiker respondeu: “A Chassidut exige pnimiyut, e pnimiyut deve ser como uma ordem. E sem seder, não pode haver Lubavitch.”

Para que nossos filhos se tornem confiantes e bem-resolvidos, precisam ver estrutura e estabilidade. Isso significa primeiro e antes de mais nada em nossa própria casa, e depois mais tarde, na escola. É por isso que o alicerce número um do chinuch, educação / instrução é o Shalom Bayit [paz no lar] pessoal entre pai e mãe. Se um filho vê atrito entre seus pais, se sentir que os pais não se entendem bem, então ele fica num estado de ansiedade constante.

Afinal, o relacionamento entre os pais é a base sobre a qual ele cresceu. Se ele não presencia um relacionamento amoroso, sente uma lacuna, o “solo” não é sólido, e ele ou ela se torna problemático e ansioso. Um casamento instável e caótico levará a filhos assustados e suspeitosos. Muitas vezes, inexplicavelmente, o filho culpa a si mesmo pelos problemas dos pais. A criança então duvida de si mesma e se torna insegura. Por outro lado, quando um filho vê que seus pais se amam e se respeitam, sente-se sobre um alicerce sólido.

Assim como sabe que é amado e valorizado pelos pais, passa a acreditar em si mesmo, em seu valor inerente aos seus amigos e ao mundo que o cerca. Ele sente que merece ser amado e não fica desesperado para constantemente provar a si mesmo. Ele agora está livre para crescer e explorar, desenvolver-se. Esse sentimento saudável de valor não deve ser confundido com arrogância. O Rebe Frierdiker aprendeu com o passuk – “Ama teu próximo como a ti mesmo”, que você deve primeiro amar a si mesmo. Aquele que se odeia não tem espaço para amar a outros. Primeiro respeite e ame a si mesmo, então você será capaz de dar-se também a outros.

Você Respeita o Professor de Seu Filho?

Da mesma maneira que é fundamental que nossos filhos vejam seus pais como uma só unidade, devem também saber que pais e mestres estão unidos em seu papel de educá-los. São eles as pessoas a quem as crianças respeitam e se esforçam para imitar. Muitas vezes é tentador para nós pais pensar que apoiando nosso filho contra o professor estamos ganhando a confiança do filho e aumentando sua autoestima. O verdadeiro é exatamente o oposto. Estamos na verdade depreciando a nós mesmos, ao professor, e a criança de uma só vez.

Quando uma criança acredita que seu professor é tolo e errado, e a maior prova é: “Olhe! Meus pais concordam comigo!” então a criança conclui que não há ninguém realmente merecedor de respeito, incluindo os pais e ela própria. A hierarquia, a estrutura, se desintegra – não deixando nada para seguir. “Se meu professor e eu somos iguais, então somos todos um nada.” Devemos fazer um esforço para mostrar aos nossos filhos o quanto apreciamos e valorizamos os educadores.

Certa vez, minha filha chegou em casa vinda da escola fumegando, dizendo que a professora era muito injusta com ela. Após ouvir toda a história, minha esposa foi forçada a concluir que ela estava certa e que a professora estava errada. Porém se ela dissesse isso à filha, minaria a autoridade da professora para sempre. Portanto disse a ela: “Eu escutei, você tem uma certa razão. Mas sua professora é muito boa. Vou ligar para ela e ver como podemos ajudar você.”

Reconheça a posição de seu filho, mas não às custas do professor. (Falando sob o ponto de vista paternal, a longo prazo, o chinuch mais afetivo é o que acontece nas entrelinhas. A criança aprende mais vendo como agimos e lidamos com situações da vida real, não quando fazemos pregações a ela. Aprendem mais a partir daquilo que somos, não daquilo que dizemos. Há uma grande frase: “Aquilo que você é, grita pra mim tão alto, que não posso ouvir aquilo que você diz.”

Os filhos, por mais insolentes que sejam às vezes, na verdade anseiam por modelos a seguir e por pessoas a quem possam respeitar totalmente. A confiança vem da estabilidade e consistência. Não há segurança no caos. É por isso que a estrutura é tão importante. Deve haver também regras, rotinas, padrões e limites. Quando uma criança vê que aquilo que aconteceu ontem também acontece hoje, ela se sente segura e confortável em casa e na vida.

Respeite seu filho

Assim como é importante respeitar nosso cônjuge e nossos mestres e professores, é importante respeitar nossos filhos. Há uma tendência natural para pensar que temos de modelar nosso filho do nada até uma certa forma, uma certa personalidade, e certos hábitos. O correto é o oposto. Meu filho é sua própria pessoa, com seu caráter único e seus interesses, goste eu ou não. Meu trabalho é orientar e dirigi-lo numa certa direção, e entender como utilizar melhor e aumentar seus talentos inatos. Não posso forçá-lo a um molde pré-determinado, tamanho único.

Um membro em minha comunidade certa vez falou-me sobre seus dois filhos. Um gosta de rezar com muita seriadade e literalmente senta-se durante horas sem pular uma palavra. O outro é mais desligado e está sempre distraído. Este pai com frequência cai na armadilha de compará-lo ao irmão, dizendo: “Por que você não pode ser como ele?”

Então, houve uma tragédia no bairro e as pessoas estavam coletando dinheiro para uma família em desesperada necessidade. As crianças souberam disso e decidiram doar das próprias economias. Enquanto aquele que rezava a sério sofria para se separar de um centavo, seu irmão pegou a caixa de dinheiro, despejou o conteúdo e doou tudo, cada moeda que tinha!

Temos de “aprender sobre nosso filho”. Cada criança está em seu próprio mundo. Cada criança tem forças e fraquezas únicas, empolgações e pontos mais fracos. Nunca desperdice a criatividade de uma criança.

Meu filho de dois anos é muito ativo. Ele percorre a casa sem parar, correndo pela copa, olhando a geladeira, até o freezer, em sua busca incansável por guloseimas. Encontra algo gostoso, aproxima-se de mim ou da mãe e pergunta se pode comer aquilo, ouve a resposta “não” e então sai e come assim mesmo. Mas ele é também bastante sincero. Volta e repreende a si mesmo. Isso cria um dilema. Se o repreendermos constantemente e o castigamos pelas suas aventuras, estragaremos seu espírito criativo e o prejudicaremos. Se dermos risada de suas excentricidades, então todo o controle estará perdido. A solução é mostrar nosso desprazer a ele numa maneira que entenda que estamos contrariados, mas sem magoá-lo. Coloco minhas mãos sobre as minhas faces e digo: “Oyoyoy” e automaticamente ele se sente culpado, mas sua autoestima permanece intacta.

Num Shabat, o Rebe chegou ao 770 quando havia um grupo de meninas reunidas em cada lado da entrada, deixando o Rebe sem espaço para passar, exceto no meio delas. As meninas estavam inocentemente sem saber do problema que estavam criando. Os bochurim que assistiam viram que o Rebe aproximou-se de uma menina e disse algo a ela. A menina moveu-se rapidamente para juntar-se às amigas do outro lado, e o Rebe passou. Os bochurim depois perguntaram à menina o que o Rebe dissera, e ela respondeu: “O Rebe me disse para dizer ‘Bom Shabat’ às minhas amigas.” O Rebe era cuidadoso para tratar uma criança com respeito e não apenas dar-lhe ordens.

Deixe espaço para seu filho crescer

É por este mesmo motivo que você pode dar liberdade aos seus filhos para explorar, cometer erros e serem responsáveis pelas próprias ações. Uma criança pode ter permissão de subir numa cadeira e cair, assim aprende as consequências de suas ações e aprende por si mesma que não deve fazer aquilo de novo. Pais que estão em constante vigilância e controlam cada movimento do filho não estão cuidando do filho, estão cuidando da própria ansiedade.

Deixe as crianças viverem e aprenderem! Se uma criança se recusa a fazer o dever de casa, não a force, mas deixe-a sofrer as consequências no dia seguinte e aprender sobre responsabilidade.

Outro aspecto de respeito aos nossos filhos é torná-los parceiros de nossa shelichut. Temos de explicar a eles o que fazemos e por quê, e não esperar que entendam por si mesmos. Se as mensagens treif do mundo exterior são tão altas, nossas mensagens têm de ser ainda mais altas. Deve-se mostrar explicitamente às crianças a simcha, alegria, e a grandeza da vida de seus pais e seus sacrifícios. Se você tem uma história de teshuvá, saiu de seu conforto para ajudar outras pessoas, etc., conte sua história, de como se sente, compartilhe com seus filhos. Não para se vangloriar, mas para que saibam que é assim que agimos, isto é o que somos, e para nós, isto é normal.