Pergunta:
Há judeus que encaram o berit milá como um procedimento cruel e bárbaro, capaz de traumatizar o bebê. Fiquei horrorizada ao ver pessoas tentando dissuadir uma mãe judia a não realizar o Berit de seu filho. Expliquei a ela que antes de tomar qualquer decisão, deveria descobrir mais sobre o significado e a importância desta aliança. Disse-lhe em tom de brincadeira que meu marido, pai e irmão foram todos circuncidados, e nenhum deles jamais se arrependeu da decisão... Como devo abordar este tema?
Resposta:
Infelizmente, há um verdadeiro movimento subterrâneo opondo-se à circuncisão. O Dr. Martin Harris, um mohel na Inglaterra, mostrou-me um artigo sobre como o Instituto Holandês de Direitos Humanos está preparando uma campanha para tornar o Berit Milá um procedimento ilegal.
A tônica desta propaganda é comparar o Berit Milá à brutal mutilação das mulheres africanas. Foi publicado um artigo no British Medical Journal (abril de 2000), escrito por obstetras, ginecologistas e parteiras de hospitais da França.
"As mulheres [africanas] que entrevistamos consideravam a mutilação de suas filhas e a circuncisão de seus filhos como sendo similares. A circuncisão masculina é uma forma de mutilação genital, pois envolve a remoção de uma parte saudável de um órgão. Como podemos convencer as mães de que não deveriam mutilar suas filhas ao mesmo tempo em que deveriam continuar a ter os filhos circuncidados?
Chocantemente, esta campanha tem adeptos até mesmo em Israel. Em fevereiro de 1998, um grupo de ultra-seculares fez uma petição à Suprema Corte de Israel para tornar a circuncisão ilegal, sob a alegação que é uma agressão criminosa. Eu gostaria de estar inventando esta história. Mas o caso nº 5780/98 é um caso real. O mais chocante de tudo é que a Corte decidiu aceitar o caso e já houve audiências!
Avshalom Zoossmann-Diskin, Diretor Executivo da Associação Israelense contra a Mutilação Genital em Tel Aviv, diz que deve-se fazer uma campanha com urgência para pôr um fim ao Berit Milá. "Por que estão me discriminando como uma vítima da mutilação genital masculina judaica?" censura ele. "Meus direitos humanos, integridade corporal e sofrimento são menos importantes que das meninas africanas?"
É algo assim que me faz pensar sobre onde erramos.
Por que berit?
A verdade é que não há argumentos "lógicos" para se cortar um pedaço de carne de um bebê indefeso. Porém a circuncisão tem sido praticada em judeus do sexo masculino há quase 4000 anos, desde que Avraham recebeu de D'us esta ordem. Por quê?
Vamos atacar o assunto de frente: é um alicerce do Judaísmo que controlemos nossos desejos animais e os direcionamos a atividades espirituais. Em nenhum outro aspecto a pessoa tem mais potencial para expressar comportamento "bárbaro" que nos impulsos sexuais. Eis porque o Berit é realizado neste órgão específico. Se trouxermos santidade em nossa vida lá, então conseguiremos em outras áreas também.
Um outro aspecto da circuncisão é que é parte integral da identidade judaica. Este ponto foi deixado claro de forma poderosa por um filme chamado "Europa, Europa." É a história real de um jovem judeu tentando escapar dos nazistas. O garoto tem aparência ariana e fala alemão fluentemente, por isso faz-se de não-judeu e termina por ser recrutado para um programa de treinamento de elite, para a próxima geração de oficiais da SS. O rapaz estava a caminho de uma vida completamente não-judaica, exceto por uma coisa: sua circuncisão. Não podia escondê-la. E foi isso que o manteve judeu durante toda a provação. Sobreviveu à guerra, e construiu uma nova vida para si mesmo em Israel. Em vez disso, poderia ter-se tornado um oficial nazista. Tudo dependeu do Berit.
É um princípio da vida judaica que não devemos cumprir as mitsvot baseados em "benefícios práticos." Ao mesmo tempo, a mitsvot freqüentemente tem efeitos positivos observáveis na vida cotidiana. Quanto aos aspectos médicos, Rabi Yonason Binyomin Goldberger escreve em "Santidade e Ciência": "Como operação, a circuncisão tem uma taxa extremamente baixa de complicações. Um estudo publicado no New England Journal of Medicine (1990) relatou uma taxa de complicações da ordem de 0,19% quando a circuncisão é realizada por um médico. Quando é feita por um mohel treinado, a taxa cai para 0,13%, cerca de 1 em 1000. Quando ocorre uma complicação, geralmente trata-se de excesso de sangramento, que é facilmente corrigível. Nenhum outro procedimento cirúrgico pode se gabar de números tão insignificantes de problemas pós-operatórios.
Outra razão pela qual há tão poucas complicações envolvendo sangramento pode ser que, segundo estudos recentes, os maiores agentes coagulantes, protombina e vitamina K, não atingem os níveis de pico na corrente sangüínea até o oitavo dia de vida. Os níveis de protombina são normais por ocasião do nascimento, caem para taxas muito baixas nos próximos dias, e voltam ao normal ao fim da primeira semana. Um estudo demonstrou que por volta do oitavo dia os níveis de protombina atingem 110% do normal.
Nas palavras do Dr. Armand J. Quick, autor de várias obras sobre o controle de hemorragia: "Dificilmente pareceria acidental que o ritual da circuncisão fosse adiada até o oitavo dia pela Lei judaica." Além disso, a circuncisão é conhecida por virtualmente oferecer proteção completa do câncer peniano. Segundo um artigo recente no New England Journal of Medicine, nenhuma das mais de 1600 pessoas estudadas com este câncer tinha sido circuncidada na infância.
Nas palavras de Cochen e McCurdy, a incidência de câncer peniano nos Estados Unidos é "próxima de zero" entre homens circuncidados. Numerosos estudos relataram que meninos circuncidados eram de 10 a 39 vezes menos sujeitos a desenvolver infecções do trato urinário durante a infância que meninos não circuncisos. Além disso, a circuncisão protege contra infecções bacterianas, fúngicas e parasíticas, e uma variedade de outros problemas relacionados com a higiene. A taxa extremamente baixa de câncer cervical em mulheres judias (de 9 a 22 vezes menor que entre mulheres não-judias) é considerada como tendo relação direta com a prática da circuncisão. Devido a estudos deste tipo, muitas organizações médicas de prestígio têm reconhecido os benefícios da circuncisão, e a Associação Médica da Califórnia endossa a circuncisão como uma "medida eficaz de saúde pública."
Retornando ao assunto da identidade judaica, desejo compartilhar o seguinte caso extraído de "Contos chassídicos do Holocausto", por Yaffa Eliach. Um dos trabalhadores forçados dos campos relata que certo dia, ouviu gritos de angústia, como jamais escutara antes. Mais tarde, soube que naquele mesmo dia uma seleção havia sido feita - de bebês para serem enviados aos fornos. Continuamos trabalhando, com lágrimas rolando pelas faces, e de repente ouvi a voz de uma mulher judia. "Dê-me uma faca." Pensei que quisesse pôr fim à própria vida, e disse-lhe: "Por que está com tanta pressa de chegar ao mundo da verdade..." Súbito, o soldado alemão gritou: "Cão, o que disse à mulher?" Respondi: "Ela pediu uma faca e expliquei-lhe que é proibido cometer suicídio."
A mulher olhou para o alemão com olhos inflamados, e fitava como que fascinada o bolso do casaco dele, onde podia ver o contorno de sua faca de bolso. "Dê-me a faca," pediu ela. Inclinou-se e mexeu num amontoado de trapos. Escondido dentro deles, sobre um travesseiro branco como a neve, jazia um bebê novinho. A mulher pegou a faca de bolso, pronunciou a bênção - e circuncidou a criança.
"Senhor do Universo," gritou ela. "Recebi uma criança saudável. Devolvo para Ti um valioso judeu."
O Berit é o sinal do pacto. Portanto, um menino que não é circuncidado basicamente perde sua ligação espiritual com o povo judeu.
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