O Baal Shem Tov, fundador do Movimento Chassídico, ensinou que o mundo é um espelho e que estamos constantemente recebendo mensagens do nosso Criador através das várias pessoas que conhecemos ou das histórias que ouvimos. Levei essa ideia muito a sério. Portanto, escrutinizei meu cérebro durante meses perguntando-me por que eu tinha de ouvir uma pergunta bizarra de uma vizinha que me indagou como ajudar sua irmã, cujo marido tira a temperatura dos filhos três vezes ao dia. Sim, você leu corretamente. Manhã, tarde e noite, ele checa para ver se a temperatura das crianças está normal. Caso contrário, ele corre para o pronto socorro. Como isso se aplica a mim?

Nada me veio à mente até que conversei com um casal que estava passando por sérios problemas conjugais e de repente me ocorreu que um está deixando o outro louco porque estão constantemente “tirando a temperatura emocional” do parceiro. Não a conferem três vezes ao dia, mas pelo menos trezentas vezes ao dia! Ficam constantemente se perguntando: “Como ele/ela está se sentindo agora? Parece um pouco deprimido/a? Talvez ele/ela não me ame? Ele/ela me ama? Quanto? Mais do que ontem? Será que vai durar? Ele/ela vai deixar de me amar? Eu vou deixar de amá-lo/la? Ele/ela pensa em mim? O que ele/ela pensa de mim? Por que ainda não telefonou? Por que ele/ela telefona toda hora? Está me comparando com alguém que é mais inteligente, mais feliz, mais rico, mais magra ou mais bem-sucedido? Por que não consigo satisfazer às suas necessidades? Ele/ela não gostou do presente que eu dei. O que estou fazendo de errado?”

Essa angustia mental resulta em questionamento obsessivo e desejo de auto-afirmação. “Você parece triste/furioso. Fiz algo errado? É minha culpa? Acho que você está chateado comigo. Fale comigo. Diga como posso fazer você feliz. Diga-me o que está sentindo. Não posso suportar quando você está de mau humor. Eu me sinto um fracasso quando você não está feliz. Por favor, fique feliz, mesmo que seja apenas para eu saber que não sou um fracasso.”

Além de monitorar os estados de espírito do outro, muitos se engajam em auto-monitoração excessiva, por exemplo: “Epa, estou um pouco deprimido, por quê? O que há de errado comigo? Todos parecem mais felizes e animados. Portanto, se estou de mau humor, isso deve significar que não sou normal. Estarei trabalhando de mais ou de menos? Será meu casamento, meus hormônios ou o clima? Como as pessoas normais estão felizes o tempo todo, se não estou feliz, então não sou normal. Não posso continuar assim. Talvez eu seja louco?”

“Se eu fosse mais bem-sucedido não teria esses estados de espírito. Talvez seja culpa do meu marido/da minha mulher. Talvez tenha sido a minha infância. Talvez eu nunca me estabilize e passe a vida inteira nessa montanha russa emocional. Como é horrível  telefonar para um médico e conseguir aqueles remédios sobre os quais todos estão falando. Mas então, já ouvi falar dos efeitos colaterais dos remédios e se eu ficar amortecido, vou me sentir mal por não ter qualquer sensação.”

Se o leitor ficou chocado com a ideia de um pai tirando a temperatura dos filhos três vezes ao dia, muito mais chocante é ver que muitos de nós estamos tirando nossa própria temperatura, e a dos outros, com maior frequência! A moderna terapia encoraja as pessoas a se engajar num excesso de auto-análise e monitoração do humor, como se fosse perfeitamente normal e necessário fazer um relato do tempo ou checar o nível de felicidade dos outros. D'us não o permita, nós devemos passar por tristeza e ansiedade, como se essas sensações indicassem insanidade. Quando as pessoas se casam, muitas sentem como se tivessem recebido um termômetro imaginário sob a chupá e agora têm o direito de checar o humor do cônjuge ou falar sobre o próprio humor, sempre que tiverem vontade. Mas nenhuma pessoa sã deseja ser caçado por um cônjuge que precisa de constante reafirmação ou aprovação. Em qualquer evento, essa reafirmação  nunca é suficiente, pois deixa o dependente num estado de ansiedade, pensando: “Não consegui minha dose de reafirmação hoje. Oh, não. Estou com medo. Eu sabia que não iria durar.”

Quando monitoramos demais, deixamos as pessoas nervosas, o que as afasta  ou as torna furiosas, porque ninguém gosta de se sentir controlado. Para acabar com esse comportamento obsessivo, devemos primeiro reconhecer quando o estamos tendo. O passo seguinte é aprender táticas de auto-apaziguamento para lidar com o desconhecido. A verdade é que temos pouco controle sobre nosso humor e se outras pessoas gostam ou não de nós ou aquilo que elas escolhem fazer com a própria vida. Não há verdadeira segurança neste mundo.

As pessoas podem nos rejeitar de repente ou estar tão preocupadas com os próprios problemas que parecem não se importar. Quando somos dependentes dos outros por reafirmação, aprovação ou compreensão, permanecemos inseguros e suspeitosos. Quando paramos de especular, monitorar e controlar, abrimos um espaço para que os outros se sintam mais seguros em nossa presença, e livres para desenvolver relacionamentos realmente carinhosos.

É surpreendente como é libertador parar de medir a temperatura, parar de especular sobre nosso próprio humor e os pensamentos e sensações dos outros. Isso ajuda a usar a palavra “libertar” – i.e., libertar as pessoas para serem quem elas são e encontrar o próprio caminho. Liberte-se para sentir o que você está sentindo. É perfeitamente normal desejar saber como as pessoas se sentem ou o que sentem a nosso respeito. Ficamos instintivamente assustados se a temperatura cai abaixo de zero ou se está muito acima do normal. Não é agradável estar com pessoas que são geladas como o gelo ou muito irritáveis e temperamentais. Mas devemos deixar de lado as especulações ansiosas sobre os altos e baixos diários.

A quantidade de amor e apreciação que damos aos outros é escolha nossa; aquilo que recebemos é escolha de D'us. Não é possível fazer as pessoas nos amarem ou gostarem de nós. Cada qual deve aprender a deixar de lado o anseio narcisista de querer mais, de pressionar as pessoas para compartilharem, de fazer perguntas muito interrogativas ou especulação ansiosa e análise excessiva de nossas intenções íntimas ou desejos inconscientes. Nossos estados de espírito vão flutuar durante toda a nossa vida, não é grande coisa. Ficar envolvido demais nas previsões de tempo interiores significa que não temos tempo para esforços mais importantes. Adquirimos confiança quando aprendemos a não fazer sermão, a não nos intrometer, questionar, implorar, monitorar ou avaliar. Obviamente, podemos perguntar com educação: “Posso perguntar como você está? Você quer falar?” Se as pessoas não quiserem partilhar, podemos “liberar” a vontade de controlar o que é impossível controlar, i.e., o coração das outras pessoas. Isso nos dá tempo para desenvolver nossos talentos, fazer boas ações e contribuir com a sociedade.