Cara Rachel,
Estou ficando louca. Tenho uma filha adolescente (dezesseis anos) que se transformou numa pessoa totalmente insuportável! Ela costumava ser uma menina dócil, mas nos últimos dois anos, as coisas cada vez mais têm saído do controle. Creio que eu não tenha lhe feito um pedido, um comentário, ou tentado iniciar uma conversa com ela sem haver algum tipo de reação que envolva um grande suspiro, um rolar de olhos, ou exasperação (“diga o que quiser”) no tom de sua resposta. A coisa chegou a um ponto em que quase não passo mais tempo com ela. Realmente não estou interessada em passar tempo com ela, e infelizmente, ela também não parece querer passar tempo comigo. Nas raras ocasiões em que tentei ficar com ela, geralmente resulta em algum tipo de discussão, e não apenas da parte dela. Existe algo que eu possa fazer nessa situação aparentemente insolúvel?
Mãe Desistente
Querida Mãe Desistente,
Bem-vinda ao mundo da adolescência! Muitos o chamariam de aborrescência, porque, bem, é um ponto muito difícil no desenvolvimento, tanto para os filhos quanto para os pais. Em toda parte há pais que podem entender o que você relata, e muitos relacionamentos que antes eram bons podem ficar temporària ou permanentemente arruinado nessa época da vida de um jovem. Porém, há algumas coisas que os pais podem fazer para tentar melhorar a situação para todos os envolvidos.
A primeira coisa que você deveria tentar lembrar é que os anos da adolescência não são difíceis apenas para os pais. Essa fase no desenvolvimento de um filho também é tormentosa para eles. O corpo está mudando, os hormônios estão surgindo, o cérebro também está evoluindo rapidamente. Tudo isso é extremamente desconcertante para eles, e nem sequer estão conscientes dessas sensações. Por exemplo, pesquisas têm mostrado que o ciclo de sono muda para o adolescente. O corpo deseja naturalmente ir dormir mais tarde, e consequemtemente, quer dormir mais pela manhã. Devido à maneira que funciona a agenda de trabalho da maioria das pessoas, isso obviamente é algo que os adolescentes não podem fazer em sua maioria, portanto muitos deles caminham por aí sempre cansados. Isso aliado ao seu constante estado de exaustão pelas mudanças corporais pode deixar as juntas um pouco doloridas e os com os hormônios surgindo, você se torna uma pessoa infeliz.
Em termos do aspecto emocional do seu relacionamento, lembre-se que cabe a você ser a força estabilizadora na vida de sua filha. Arrume tempo todo dia para passar com ela. Provavelmente há algum ponto do dia em que ela está mais disponível para conversar, e você deveria se esforçar para estar com ela. Use esse tempo apenas para bater papo. Nada de pedidos, nada de falar sobre a toalha molhada no banheiro, só um tempo para curtir. Você pode tentar engajá-la nisso “subornando-a” com sua atividade favorita: ir ao shopping, comer pizza, sair para tomar um sorvete. Você pode encontrar alguma resistência a princípio, mas com o tempo, com esforço gentil e persistente, vai sentir que houve algum progresso.
Se ela não estiver disposta/disponível/desejosa de conversar com você, então fale com ela. Conte sobre o seu dia, como estão as coisas, algo bom ou ruim que aconteceu durante o dia. Isso ajuda em diferentes áreas. Primeiro, você está ensinando a ela alguns talentos importantes, que incluem bater papo e partilhar coisas sobre si mesma. Segundo, ao mantê-la interessada no seu dia, isso vai encorajá-la a partilhar com você coisas sobre o dia dela. Enquanto você está falando com ela sobre você mesma, cuide para que não seja um monólogo de dez minutos, mas sim faça pausas e deixe que ela fale também.
Os adolescentes, como todos nós, precisam se sentir valorizados. Pergunte o que ela acha sobre diferentes coisas na casa. Essas coisas podem incluir o que fazer para o jantar, o que vestir para sair à noite, onde pendurar um novo quadro, e como resolver um dilema pelo qual você está passando. Você não é obrigada a seguir o conselho dela, mas se está perguntando, é porque deseja levá-lo a sério, e de vez em quando deveria seguir o que ela sugere.
Faça questão de se lembrar todo dia dos aspectos positivos que existem nela. Momentos e lembretes de Nachat (apreciacão) são úteis para os pais, especialmente quando parece haver poucos deles. Pegue o álbum de bebê, observe-a quando estiver dormindo, ou traga à mente uma lembrança favorita para ajudar a adoçar sua opinião a respeito dela numa base diária. E ainda melhor, conte a ela as suas lembranças especiais, o que a fará sentir-se bem.
Há um livro famoso na literatura judaica contemporânea chamado Planting and Building (Plantando e Construindo), um livro sobre criação de filhos. O autor, Rav Wolbe, fala sobre como um relacionamento com seu filho, como todos os relacionamentos, leva tempo para se desenvolver e prosperar. Como tudo que cresce, precisa ser cultivado e cuidado para ajudá-lo a atingir seu potencial.
Portanto, é importante concentrar-se naquilo que o seu supremo objetivo é para você e para ela. Parece que você deseja ter um relacionamento com ela, e que gostaria que fosse íntimo. Isso leva tempo, energia, paciência. Invista em seu relacionamento com ela, permanecendo calma em face do seu comportamento desagradável. Se você for uma força estável para ela, isso a ajudará a se sentir mais estável. Como foi mencionado previamente, como a adolescência é um período de revolta, se você ficar calma estará dando a ela uma enorme dose de chessed, bondade.
Eu sei que é desafiador, frustrante, e aparentemente traz pouca recompensa, mas se você der tempo ao tempo, verá como as coisas vão melhorar. Como uma semente leva tempo para crescer e atingir seu pleno status de planta, também sua filha precisa da mesma atenção e cuidado para atingir seu potencial. Tente estar lá para ela – a adolescência não dura para sempre.
“Cara Rachel” é uma coluna bi-semanal que é respondida por um grupo de especialistas. Essa pergunta foi respondida por Beryl Tritel, terapeuta, trabalha em Ramat Bet Shemesh. É especializada em temas femininos e também em aconselhamento para pais e cônjuges. É autora da popular coluna “Ask Beryl” em Connections Magazine.
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