O que é uma alma judaica? Pode jamais ser manchada?
O Instituto Avner gostaria de apresentar uma conversa profunda que ocorreu quando Rabino Yosef Weinberg, um famoso chassid de Chabad que foi enviado pelo Rebe e pelo Rebe Anterior em várias missões em todo o mundo, veio a Chicago, por ordens do Rebe Anterior, para fazer uma visita a um judeu Chabad.
Rabino Weinberg relata:
“Antes de deixar Nova York, o Rebe, Rabi Yosef Y. Schneersohn, de abençoada memória, pediu a Rabino Levitin que fizesse uma visita pessoal ao Sr. Listner, um rico empresário judeu em Chicago, descendente de uma prestigiosa família chassídica.
“Leve a ele minhas calorosas lembranças e bênçãos,” disse o Rebe na estação de trem em Chicago. Rabino Yosef Weinberg, então jovem, estava esperando para cumprimentar Rabino Levitin. Quando desceu do trem, uma das primeiras perguntas que Rabino Levitin fez a Rabino Weinberg foi: “Você conhece Charles Listner?”
“Com toda a certeza,” respondeu Weinberg.
“Onde posso encontrá-lo – qual sinagoga ele frequenta?” perguntou Rabino Levitin.
Rabino Weinberg, que nunca se atrapalhava com as palavras, respondeu com um sorriso: “Posso dizer-lhe qual sinagoga ele deveria frequentar, mas não creio que seja este o local onde você o encontrará.”
Um ou dois dias depois, Rabino Levitin e o Sr. Listner se encontraram no escritório do empresário. A recepção foi bastante calorosa, e Listner ficou especialmente comovido e inspirado pelas lembranças pessoais do Rebe.
A conversa fluiu facilmente, e ao final da visita, Listner pegou o talão de cheques e perguntou: “Para qual organização devo endereçar minha contribuição?”
“Nenhuma,” disse Rabino Levitin. “Deixe o talão de lado, porque não vim aqui para uma doação. Mesmo se você me der, não aceitarei.”
“Mas por que um rabino idoso viria de Nova York até aqui? Apenas para tomar um refresco no meu escritório?” respondeu o surpreso Listner.
“Deixe-me explicar dessa maneira,” começou Rabino Levitin.
“Na Velha Terra, havia muitas comunidades judaicas espalhadas por todo o interior. Cada comunidade tinha a própria sinagoga, Rolos de Torá e outros artigos religiosos. Todos os Rolos de Torá, mezuzot e tefilin eram escritos à mão com tinta sobre pergaminho por um escriba, que periodicamente os conferia procurando defeitos – que então precisavam ser consertados pelo esccriba qualificado.
“As comunidades menores na Europa não podiam gerar trabalho suficiente para manter um escriba, portanto era comum ver escribas itinerantes viajando, que então consertavam e reescreviam letras apagadas e remendavam aquelas obras sagradas.
“Todo judeu, Sr. Listner,” continuou Rabino Levitin, “é um Rolo de Torá vivo.”
“Há vezes em que algumas ‘letras’ do nosso Judaísmo ficam um pouco ‘apagadas’, e perdemos contato com algumas mitvsot. Acho que você pode me considerar um dos escribas itinerantes. Minha meta é fornecer um pouco de tinta espiritual, um lampejo de inspiração e uma pincelada de calor à nossa conexão íntima com D'us.”
Listner ficou profundamente comovido com essa parábola e Rabino Levitin voltou a Nova York. Ali ele contou ao Rebe o que tinha dito, esperando uma reação positiva pelo seu exemplo inovador. Mas para sua surpresa o Rebe ficou em silêncio.
Preocupado, ele perguntou: “Eu disse algo incorreto? O Talmud não compara um judeu a um Sefer Torá?”
“Sim,” respondeu o Rebe calorosamente em yidish. “Porém há uma grande diferença. A Torá é escrita com tinta sobre o pergaminho, duas entidades separadas combinadas em uma. A tinta poderia ser apagada ou borrada. Mas o judeu? O judeu é como um Rolo de Torá, mas com letras gravadas. A Torá está gravada em seu coração, e em sua alma. Quando as letras são gravadas, como foram os Dez Mandamentos nas duas Tábuas, é impossível serem apagadas ou separadas seja de que maneira for.
“Às vezes um pouco de poeira pode acumular-se e cobrir as letras.” Aqui o Rebe aproveitou a parábola e concluiu: “Então, o trabalho do ‘escriba itinerante’ é escovar a poeira. As letras vão brilhar instantaneamente.”
“Enquanto eu estava sentado e ouvia esta narrativa, encontrei um novo significado para o termo ‘gravar’.
“Todo e cada um de nós é um ‘escriba’ com a capacidade de refrescar almas empoeiradas, mas talvez antes de procurarmos a poeira em uma outra pessoa, vamos começar pela nossa própria.”
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