Existem dois tipos de problemas entre pais e filhos. O primeiro é quando o filho tem um problema e o pai ajuda a resolvê-lo usando a “técnica do espelho”. Nesse caso o pai escuta atentamente e reflete de volta para a criança o significado em suas próprias palavras. O pai está em guarda não para julgar, analisar ou resolver o problema do filho. No segundo caso, o pai aceita o problema e tenta resolvê-lo com declarações do tipo “Eu…”.

As declarações do tipo “Eu…” descrevem exatamente o que o pai está passando e não faz sermão ou diminui a criança.

Agora vejamos o que fazer quando o “relacionamento” entre pai e filho é afetado pelo problema. Este é um caso em que o filho está fazendo algo que incomoda o pai e ao mesmo tempo a criança pretende continuar a fazer aquilo em que está envolvida. Por exemplo, Chanie está jogando bola na sala. A mãe está preocupada pois algo pode ser quebrado, e deseja que a filha pare.

Mãe: Estou nervosa porque se você continuar a jogar bola na sala pode quebrar alguma coisa. E isso me aborrecerá muito.

Chanie: Mas não tenho mais nada a fazer e está chovendo lá fora. Você nunca me deixa fazer o que eu quero.

No cenário acima tanto a mãe quanto a filha têm um problema. A mãe quer que Chanie pare de jogar bola e Chanie quer jogar bola para não se sentir entediada. Nesse caso diz-se que o relacionamento está envolvido no problema e assim nenhum tipo de mensagem pode resolver o problema.

Dada a volatilidade da situação, seria fácil para a mãe erguer a voz e exigir, pedir ou argumentar com a filha. Isso certamente levaria a uma confrontação que continuaria a aumentar até que ou a mãe ou a filha decidisse se afastar e guardar a hostilidade e frustração para outra oportunidade.
Na Ética dos Pais do Talmud (1:12) está escrito: “Hilel disse: Seja dos discípulos de Aharon, ame a paz e busque a paz…”

Comentaristas dessa Mishná explicam que “amar a paz” é a atitude que uma pessoa deveria ter para com os amigos e membros da família, e “buscar a paz” significa que se deve fazer um grande esforço para assegurar a paz mesmo quando isso é humilhante e/ou difícil.
Uma opção que nos permite evitar o confronto, bem como cumprir o ensinamento de Hilel de “amar a paz e buscar a paz” é negociar por uma solução do tipo “todos saem ganhando”, i.e., uma solução que satisfaz as necessidades e preocupações dos dois lados.

Ao negociar uma solução aceitável para todos é essencial usar tanto a “técnica do espelho” quanto as mensagens do “Eu…” a fim de evitar a culpa, acusações e aumentar a polarização de posições. A negociação da solução “todo mundo sai ganhando” muitas vezes não é fácil e exige a utilização de todos os recursos e talentos de comunicação da pessoa.

Em nosso exemplo acima a mãe quer a bola fora da sala e Chanie quer algo interessante para fazer, e não apenas ser “deixada de lado”. Uma negociação do tipo “todo mundo sai ganhando” poderia dar essa impressão. Indiquei os tipos de mensagens sendo enviadas dentro de colchetes:

Mãe: Estou muito nervosa porque se você continuar jogando bola na sala algo poderá ser quebrado. E isso vai me aborrecer muito. [Mãe com um problema, passando uma mensagem “Eu”.]

Chanie: Mas não tenho mais nada para fazer. Está chovendo e estou entediada. Você nunca me deixa fazer o que quero. [Chanie passando uma mensagem “Você”]

Mãe: Parece que você está procurando algo interessante para fazer e às vezes fica frustrada porque nem sempre pode fazer aquilo que deseja. [Reflexo no espelho. A mãe também corrige a distorção cognitiva de Chanie, trocando o “nunca” usado por ela para “às vezes”.]

Chanie: Sim, eu queria algo interessante para fazer e jogar bola na sala é interessante.[Mensagem “Eu”]

Mãe: Que tal em vez de jogar bola você ler um livro. [Mãe sugere uma solução do tipo todos saem ganhando.]

Chanie: Já li todos os meus livros. [Mensagem “Eu”.]

Mãe: E se você chamar sua amiga Sara, as duas podem ir à biblioteca e pegar algo interessante para ler. [Mãe procura outra solução do tipo “todos saem ganhando”.]

Chanie: Parece divertido. Vou guardar a bola agora mesmo, [Ela aceita a solução “todos saem ganhando” da Mãe e voluntariamente guarda a bola].

Os benefícios de uma solução negociada “todos saem ganhando” sobre uma imposta pelos pais (algo que às vezes é necessário) são muitos:

A criança é motivada a honrar voluntariamente a decisão porque participou do processo e o processo de chegar a uma solução do tipo “todos saem ganhando” dá espaço para criatividade e flexibilidade e assim leva a soluções únicas para problemas singulares. Isso é muito diferente das soluções prontas freqüentemente encontradas em algumas revistas populares e livros dando conselhos aos pais. Encoraja a criança a pensar e aceitar a responsabilidade pelos problemas e suas soluções.

Quando dá certo, elimina a necessidade de os pais confiarem em “poder e autoridade” para impor uma solução. O poder com frequência cria desconfiança, animosidade e distância entre pais e filhos.
Reduz as chances de culpa e de aumentar os conflitos.
Exige menos autoridade por parte dos pais.
Duas cabeças pensam melhor que uma.
Tem um efeito positivo sobre o relacionamento entre pais e filhos. Cria um sentimento de cooperação e respeito.

Há seis passos que ajudam a esclarecer o processo de chegar a uma solução do tipo “todos saem ganhando”. Podem ser úteis às vezes para manter na mente enquanto você se esforça para encontrar uma solução satisfatória ou para utilizar ativamente quando uma solução parece muito difícil de encontrar.

1 – Definir o problema.
2 – Gerar possíveis soluções.
3 – Avaliar as soluções.
4 – Decidir qual é a melhor solução.
5 – Determinar como implementar a decisão.
6 – Avaliar como a solução resolveu o problema.

Duas dificuldades inerentes com uma solução “todos saem ganhando” é que consome muito tempo e às vezes não se encontra uma solução razoável, mesmo depois de se investir muito tempo e energia. Se não der certo, sempre há outras opções para tentar. No entanto, também no caso em que não se pode encontrar uma solução razoável, a criança é deixada com a clara mensagem de que uma tentativa sincera foi feita para incluí-la no processo de encontrar uma solução – mesmo que no final uma tenha de ser imposta. O esforço exigido para encontrar uma solução faz a criança se sentir respeitada, ouvida e considerada. Isso por sua vez alimenta um relacionamento pai/filho positivo e sadio, bem como ajuda a criança a desenvolver e manter uma auto-imagem positiva.