Os números são elementos estranhos. Por um lado, parecem totalmente destituídos de significado: pense na esterilidade da burocracia ("Vá até o guichê nº 20, e preencha o formulário nº 5069"), ou a banalidade de um endereço, como "rua Trinta, nº 25". Por outro lado, considere como os números são usados ao dizermos coisas assim: "Experiência de vinte anos no assunto", "Uma casa de R$ 550.000,00" ou "Esta é nossa filha. Tem três anos."
Contar alguma coisa torna-a real para nós. Apenas ao lhe atribuirmos uma quantidade entendemos o que significa para nós e como podemos usá-la. Imagine que você ganhou um baú repleto de moedas de ouro. Agradece ao seu doador e leva o baú para casa. Tão logo a porta é trancada, qual a primeira coisa que você faz? Conta as moedas, claro! Certamente é ótimo poder dizer: "Sou um homem rico." Mas se pretende fazer algo com sua riqueza, precisa saber: "Quanto possuo?"
Da mesma forma, o povo de Israel ao partir do Egito recebeu a Torá sete semanas mais tarde no Monte Sinai. Todos os anos lembramos esta jornada através de Sefirat Haômer, a Contagem do Ômer, por quarenta e nove dias. Começamos na segunda noite de Pêssach: "Hoje é o primeiro dia do ômer", proclamamos na primeira noite da contagem. "Hoje são dois dias do ômer" ou "Hoje são sete dias, que perfazem uma semana do ômer", "Hoje são vinte e seis dias que perfazem três semanas e cinco dias do ômer", e assim por diante, até "hoje são quarenta e nove dias, que perfazem sete semanas do ômer." Até chegar no quinquagésimo dia que é Shavuot.
Os cabalistas explicam que cada um de nós possui sete poderes no coração - amor, reverência, beleza, ambição, humildade, compromisso e realeza - e que cada um desses sete poderes inclui elementos de todos os sete. São representados pelas sete semanas e 49 dias da contagem do ômer.
A cada Pêssach, recebemos uma arca do tesouro contendo o mais grandioso dom jamais concedido ao homem - o dom da liberdade. É também um dom completamente inútil. O que é liberdade? O que pode ser feito com ela? Nada. A menos que abramos a arca do tesouro e contemos seu conteúdo. Então, no segundo dia de Pêssach, após termos levado nosso tesouro para casa, começamos a contagem.
Contamos sete vezes sete, porque o presente da liberdade foi dado a cada um dos sete poderes e dimensões de nossa alma. De fato, de que serve a capacidade de amar, se somos escravos de influências externas e neuroses internas? De que vale a ambição, se somos seu servo ao invés de seu amo?
A cada noite pelas próximas sete semanas, abrimos nossa arca do tesouro e contamos outra moeda. Contamos nosso amor amável, amor intimidante, amor belo, amor ambicioso, amor humilde, amor comprometido e amor real. Designamos um número à realeza de nossa reverência ("Hoje são quatorze dias, que perfazem duas semanas do ômer") e à beleza de nossa humildade ("Hoje são trinta e um dias, que perfazem quatro semanas e três dias do ômer").
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