Ao final da Parashat Nôach, somos informados sobre a infame Torre de Babel, a história da sociedade que se reuniu para construir uma torre monumental, com o topo chegando ao céu. D'us ostensivamente aborrecido, decide frustrar seus esforços confundindo as línguas a fim de que não possam mais entender uns aos outros, e dispersando-os através do mundo, desta maneira propiciando a formação de muitas civilizações diferentes.
Tradicionalmente, considera-se que os construtores da Torre tentaram afrontar e fisicamente desafiar D'us e Sua autoridade. Entretanto, Ibn Ezra não encontra razão para acreditar que o povo daquela época fosse tão tolo para pensar que, construindo uma torre alta lhes daria a chance de encontrar o Criador. Por isso, seu entendimento da história é radicalmente diferente. Ele explica que a intenção não era construir uma torre para servir de fortaleza, mas sim como sede central. O objetivo era fazer um nome glorioso para eles mesmos, estabelecendo um centro para toda a civilização que seria o coração da sociedade mundial.
Esta filosofia parece ser nobre e louvável. A união é extremamente importante para o desenvolvimento e sucesso de qualquer projeto. As pessoas naturalmente trabalham juntas quando há um objetivo comum ou um propósito final, e ter direções societárias promove uma sólida unidade social única. Se isto está correto, há um problema significativo com a explicação de Ibn Ezra.
Por que a geração da Torre de Babel foi punida por suas ações? Poderia parecer que eles deveriam ter sido recompensados pela sua preocupação por todos e seu objetivo de unificar a população mundial. Se a intenção deles não era desafiar D'us, mas criar um centro para a humanidade, por que o Criador confundiria os idiomas e os dispersaria pelo mundo afora?
Embora esta ideologia de unificar a sociedade possa ser produtiva, pode também ser limitadora. Sem ficar exposto a outros grupos com diferentes histórias e filosofias, a pessoa perde perspectiva e objetividade. O problema que existiu na geração da Torre de Babel foi que eles tentaram intencionalmente limitar o crescimento e o desenvolvimento da sociedade.
O Rashbam explica ainda que a razão pela qual D'us reagiu àquela geração, destruindo seus esforços, foi porque eles não estavam cumprindo ou buscando o objetivo Dele para o mundo. O primeiro mandamento dado à humanidade foi "cresçam e multipliquem-se e povoem a terra". Se o homem limita a civilização a um único centro, a conquista do mundo está também limitada. A reação Divina não foi uma punição, mas sim uma correção.
D'us dispersou todos pelo mundo e confundiu as línguas para tornar a completa unificação virtualmente impossível, conquistando efetivamente o mundo para o homem e possibilitando a diversidade.
Por esta interpretação do episódio da Torre de Babel, descobrimos que D'us deseja a diversificação do ser humano. Ter cada pessoa como uma imagem do próximo no espelho seria uma perda trágica para a sociedade, pois abafaria o gênio criativo das pessoas.
O fato de a sociedade ter tantas diferenças de opinião pode ser visto como uma expressão positiva da singularidade do homem. Há muito a aprender das pessoas que são diferentes de nós, e tudo que é necessário é uma mente aberta, e um desejo de povoar a terra.
Clique aqui para comentar este artigo