21 de dezembro, 1969
Saudações e bênçãos
Recebi sua carta a tempo – embora as circunstâncias tenham retardado minha resposta – na qual escreve sobre o falecimento de sua mãe, de abençoada memória, e sobre seus pensamentos e sensações em conexão com isto.
A verdade é que “ninguém entre nós sabe de nada” a respeito dos caminhos de D’us, que criou os seres humanos, governa-os, e os observa com a Providência Divina específica. Mas certamente, certamente, Ele é a própria essência do bem e, como diz a expressão, “é da natureza do bem fazer o bem.” Se, às vezes, D’us não é entendido pela mente humana – não é de admirar: que significado tem uma criatura finita, limitada, medida, em relação ao infinito e ao eterno, especialmente em relação ao “absolutamente Infinito e Eterno” (B’li G’vul V’Ein Sof Ha’amiti)?
Apesar disso, D’us escolheu revelar uma fração de Sua sabedoria ao homem, de carne e osso. Isso Ele fez com Sua sagrada Torá, chamada “A Torá da Luz” e “A Torá da Vida” – ou seja, que ilumina o caminho do homem pela vida de tal maneira que até suas limitadas faculdades podem compreender sua luz. Assim, também no caso da ocorrência acima mencionada, pode-se encontrar um entendimento – pelo menos parcial – de acordo com aquilo que é explicado em nossa Torá (Oral e escrita).
Na verdade, este entendimento pode ser encontrado em dois decretos da Torá que se dirigem à nossa verdadeira conduta nestas circunstâncias. À primeira vista, eles parecem cair em contradição um com o outro, embora apareçam na mesma seção do Código da Lei Judaica. A seção Yoreh Deah 394 começa: “Não se deve prantear excessivamente (além daquilo que nossos Sábios nos instruíram); aquele que o faz em extremo…” Porém, no final da seção é dito que “aquele que não pranteia como os Sábios nos orientaram é uma pessoa grosseira e cruel.” Ora, se neste caso é natural se enlutar, o que há de tão terrível sobre alguém que pranteia mais? Por que a dura admoestação mencionada na Lei? E se prantear em excesso é tão terrível, por que é cruel prantear de menos?
A explicação está nas palavras conclusivas de nossos Sábios (conforme citado por Maimônides): “A pessoa deve temer e se preocupar, examinar suas ações e se arrepender.”
Está subentendido que a alma é eterna. Obviamente, uma doença da carne não pode terminar ou diminuir a vida da alma – pode apenas danificar a carne e o sangue, bem como o vínculo entre eles e a alma. Ou seja, pode levar à cessação desse vínculo – a morte, D’us não o permita – e com o dano àquilo que une a alma ao corpo, a alma ascende e se liberta das amarras do corpo, de suas limitações e restrições.
Através das boas ações que ela realizou durante o período no qual esteve na terra e dentro do corpo, ela é elevada a um nível muito, muito mais alto que seu status anterior à descida em seu corpo.
A partir disso entendemos que qualquer um próximo a esta alma, qualquer um para quem ela era querida, deve avaliar que a alma elevou-se ainda mais alto que o nível em que estava anteriormente; ocorre que somente em nossa vida, em nosso mundo, isso é uma perda. E quanto mais perto a pessoa está da alma, e mais preciosa para ela é a elevação da alma, também maior é a intensidade da dor. Pois elas, mais ainda, sentem a perda da sua partida do corpo e da vida neste mundo.
E também é uma perda no sentido que – assim parece – a alma poderia ter ascendido ainda mais alto se permanecesse neste mundo, como ensinaram nossos Sábios na Ética dos Pais: “Um momento de arrependimento e boas ações neste mundo é preferível a todo o Mundo Vindouro.”
Assim, como a ocorrência contém estas duas facetas contrastantes – por um lado, a libertação da alma das amarras do corpo e sua subida a um mundo mais elevado, o mundo da verdade; por outro lado, a perda acima mencionada – o resultado está nas duas leis. A “Torá da Verdade” ordena que se pranteie, pelo período estabelecido pelos Sábios. Ao mesmo tempo, é proibido prantear excessivamente (ou seja, além do período de luto estabelecido, e também no que diz respeito à intensidade do luto dentro deste período).
Como foi dito, a causa básica para prantear esta ocorrência é a perda por parte da pessoa viva. Este é o objetivo do período de luto: os vivos precisam entender por que eles mereceram esta perda. É por isso que “A pessoa deve temer e preocupar-se, examinar suas ações e se arrepender.”
Por meio disso, consegue-se algo mais – o vínculo entre o vivo e a alma que ascendeu perdura. Pois a alma é eterna, vê e observa aquilo que está ocorrendo com aqueles conectados a ela e próximos dela. Toda boa ação que realizam causa prazer espiritual à alma, especificamente, as conquistas daqueles que ela educou e criou com a educação que traz as ditas boas ações; ou seja, ela tem uma parte naquelas ações resultantes da educação que deu aos filhos e aqueles que ela influenciou.
Como todo o acima constitui-se em diretrizes de nossa Torá, a sabedoria e vontade de D’us, o cumprimento dessas diretrizes é parte integrante do nosso serviço a D’us, sobre o qual se diz “Serve a D’us com júbilo.” Uma diretriz da Torá também serve como fonte de força que fornece a capacidade de cumpri-lá. Conseqüentemente, como a Torá dirige estas instruções a todo e cada indivíduo, está dentro da capacidade de cada um cumpri-lá – e ainda mais, cumpri-lá numa maneira de “Serve a D’us com júbilo.”
Tudo isso aplica-se à família inteira, mas ainda mais, com maior suprimento de força, e maior grau de responsabilidade – àqueles que estão em posição de afetar os outros membros da família que seguirão seu exemplo. Portanto, a responsabilidade de implementar todo o acima cai primeiro sobre o chefe da família e sobre o filho mais velho, neste caso estou me referindo a você e ao seu pai. A garantia “Você trabalhou, você encontrou” explica-se também aqui.
Em todo o acima está a resposta à sua pergunta sobre como você pode aliviar a carga, etc. – através de um comportamento consistente com o versículo acima, com grande fé em D’us de que você conseguirá ser bem-sucedido em seus esforços. Que seja a vontade de D’us que você tenha boas notícias sobre todo o acima, e o bem aberto e revelado.
Com bênçãos para sucesso em todos os seus esforços e boas notícias.
Faça um Comentário