Aperfeiçoar x Perfeição

Quando o Rebe sofreu um ataque cardíaco em 1978, Dr. Ira Weiss de Chicago foi o chefe da equipe que o tratou. Após a recuperação do Rebe, Dr. Weiss visitou-o diversas vezes, comparecendo a farbrenguens (como são chamadas as "reuniões" chassídicas que o Rebe promovia diversas vezes por mês) e aproveitando para examinar fisicamente o Rebe.

Certo ano, Dr. Weiss levou consigo um amigo, Dr. Gerald Dorros, um famoso cardiologista de Milwaukee. Depois do farbrenguen, Dr. Dorros esperou na ante-sala dos aposentos do Rebe enquanto Dr. Weiss fazia o exame. Ao terminar, Dr. Weiss mencionou seu amigo, e perguntou se poderia apresentá-lo ao Rebe.

O Rebe consentiu, e convidou Dr. Dorros a entrar no quarto. "Você deveria devotar-se a tratar pessoas saudáveis, não apenas doentes" – disse-lhe o Rebe.

"Como posso aperfeiçoar aquilo que o Todo Poderoso fez?" replicou o médico com um sorriso.

"Você pode" – respondeu o Rebe. "Se um leigo não pode melhorar aquilo que o Todo Poderoso fez, e se um médico não pode aperfeiçoar aquilo que o Todo Poderoso fez, então o que estamos fazendo aqui?"

"Está me pedindo para fazer o homem perfeito?" perguntou o médico.

"Não, não é isso que é pedido a você" – disse o Rebe. E com uma piscadela, ele acrescentou: "Deixe isso para Mashiach."

Pacotes para o Além

Rabi Nachun Rabinovitz, um chassid idoso que mora em Jerusalém, estava certa vez aguardando uma yechidut (audiência privada com o Rebe). Dentre os que esperavam havia um homem jovem, obviamente abastado, mas com uma expressão melancólica e taciturna.

Pouco depois, o jovem entrou na sala do Rebe, e ao sair, sua expressão tinha mudado. Seu rosto exprimia energia e vitalidade.

Curioso sobre esta mudança abrupta de emoções, quando sua própria yechidut terminou, Reb Nachun perguntou aos secretários do Rebe a identidade do jovem. Conseguiu arranjar um encontro.

"Sou um homem rico" – disse o homem a Reb Nachun – "mas recentemente, meu único filho morreu. Naquela ocasião, senti que minha vida não tinha mais qualquer objetivo. Eu não dava qualquer valor à riqueza ou a minha posição.

"Procurei o Rebe em busca de consolo e alguns conselhos. O Rebe perguntou-me quais seriam meus sentimentos se meu filho estivesse vivendo num outro país, do outro lado do mundo, onde não pudesse se comunicar comigo, mas eu soubesse que ele tinha tudo que precisava, e que não estava sofrendo. Respondi que embora a separação fosse difícil de suportar, eu ficaria feliz por meu filho. “E se você pudesse se comunicar com ele e enviar-lhe pacotes" – continuou o Rebe – "você o faria?"

"Claro" - respondi.

"Esta é exatamente a sua situação atual" – concluiu o Rebe. "Com cada palavra de prece que você recita, está enviando uma mensagem a seu filho. E com cada doação que você faz para a caridade, está enviando um pacote para ele. Ele não pode responder, mas aprecia suas palavras e seus presentes."

Menos da Metade Poderiam Cumpri-las

Rabi Nissan Nemanov, o famoso mashpia (mentor) da Yeshivá Lubavitch na França, certa vez saiu em lágrimas de uma audiência com o Rebe. Rabi Leibl Groner, secretário do Rebe, ficou perplexo. Reb Nissan era conhecido pelo seu autocontrole. O que tinha acontecido, para provocar tamanha explosão emotiva?

Depois de acompanhar a próxima pessoa até a sala do Rebe, Rabi Groner levou Reb Nissan até o escritório do secretariado, ofereceu-lhe uma cadeira, e perguntou o motivo das lágrimas.

"Procurei o Rebe com um problema" – explicou Reb Nissan, "os jovens que estudam atualmente na yeshivá não podem ser comparados aos alunos dos anos anteriores. Antes, quando eu dizia aos meus estudantes para passarem longas horas em prece, para praticarem iskafia (a doutrina chassídica de controle dos desejos naturais da pessoa), e para cumprirem todas as outras dimensões da avodá (o Divino serviço de dominar a si mesmo), eles escutavam; eles tentavam. Hoje em dia, eles nem sequer conhecem a terminologia. Por outro lado, eu não sei que mensagem passar. O Chassidismo é avodá; não há uma alternativa. Perguntei ao Rebe o que fazer.

"O Rebe respondeu: 'Aprenda com meu exemplo. Quando penso em uma nova diretiva, considero quem são meus seguidores. Se metade deles é capaz de colocar a diretiva em prática, então falo dela.'

"Estou chorando" – continuou Reb Nissan – "porque não consigo parar de pensar naquelas diretivas que o Rebe deixou de expedir porque pensou que menos da metade de seus chassidim poderiam cumpri-las. Imagine o que elas poderiam ter sido!"

Amanhã?

Três noites por semana o Rebe recebia pessoas em audiências privadas, chamadas yechidut. Estes encontros freqüentemente avançavam noite adentro, às vezes chegando até as primeiras horas da manhã do dia seguinte.

Era uma noite de yechidut e, como de costume, o Rebe tinha recebido pessoas até o início da manhã. Quando o último visitante tinha partido, o Rebe não arrumou sua mesa e foi para casa. Em vez disso, pediu ao secretário que trouxesse a correspondência do dia, que incluía centenas de pedidos de bênçãos e conselhos.

Obedientemente, Rabi Groner levou diversas pilhas de cartas que tinham chegado naquele dia. Quando ele viu que o Rebe não estava meramente interessado em ver quanta correspondência tinha chegado, mas começou a ler cada carta e escrever as respostas, o secretário viu-se num dilema.

Ele sabia como as audiências eram cansativas, e viu que responder àquelas cartas levaria tempo. Queria sugerir ao Rebe que fosse para casa descansar, deixando as cartas para o dia seguinte, mas hesitou em interromper o Rebe para fazer a sugestão.

Finalmente, teve uma idéia. Escreveu sua sugestão num bilhete e colocou-o em cima da próxima pilha de cartas.

O Rebe leu a mensagem e levantou o olhar, com um sorriso. "Você gostaria que eu adiasse esta resposta até amanhã também?" perguntou, e foi em frente, pegando a próxima carta.