Baseado nos ensinamentos do Rebe
Adaptação de uma palestra, Yud Shevat, 5714
Sobre o conceito de prostrar-se à beira dos túmulos dos tsadikim, há um kuntres do Mitteler Rebe, uma obra do Tzemach Tzedek, e declarações dos Rebes. Todos esses conceitos foram publicados, portanto não há necessidade de revisá-los.
Eu gostaria de introduzir uma concepção ainda mais elevada sobre visitar o túmulo de um tsadik. A importância dessas visitas é destacada pelo fato de que autoridades haláchicas mais recentes – veja a responsa escrita pelo irmão do Alter Rebe, R. Yehudah Leib1 – buscam leniências para possibilitar aos cohanim visitas aos túmulos de tsadikim apesar do fato de que eles são proibidos pelas Escrituras de entrar em contato com um túmulo comum.2
Falando com D'us Face a Face
A singularidade de rezar ao túmulo de um tsadik pode ser entendida no contexto da exigência de rezar voltado para Eretz Yisrael – e mais particularmente, Jerusalém, o Beit Hamicdash, e o Santo dos Santos.3 Pois a pessoa deveria fazer pedidos a D'us num local sobre o qual é dito,4 “Meus olhos e Meu coração estarão ali para sempre.”
Em geral, essa promessa reflete a unicidade de Eretz Yisrael, “a terra sobre a qual os olhos de D'us estão voltados do princípio até o fim do ano.”5 A providência de D'us é manifestada abertamente em Eretz Yisrael. Na Diáspora, em contraste, Ele expressa Sua influência por meio dos 70 arcanjos.
Sim, eles nada mais são que “um machado na mão de um lenhador”6 e um judeu é proibido de venerá-los.7 Apesar disso, à medida que D'us transmite Sua influência a este mundo material, ela passa através deles e eles a colorem. Em contraste, os “olhos de D'us” estão “sobre Eretz Yisrael”. A influência dos intermediários é menor e a Divindade é mais aparente.
Quando Raposas Vagam Entre as Ruínas
Este conceito era aplicado na era do Beit Hamicdash quando a presença de D'us era abertamente aparente. No tempo do exílio, em contraste, essa superioridade de Eretz Yisrael não é perceptível.8 Na verdade, a mão de D'us está mais oculta ali que na Diáspora. Para ilustrar por meio de analogia: quando uma parede cai, a pedra que está mais alta cai mais longe e é danificada mais gravemente.9
Na Diáspora, a destruição do Beit Hamicdash não trouxe mudança radical na natureza material da terra. Em Eretz Yisrael a destruição do Templo mudou a terra de maneira muito tangível. Na era do Beit Hamicdash, era uma terra fluindo leite e mel;10 a prosperidade brotava dali para o mundo inteiro. Hoje, em contraste, deve receber sustento da Diáspora.
Como escreve Ramban,11 a destruição do Beit Hamicdash é sentida mais profundamente em Eretz Yisrael que na Diáspora e na própria Eretz Yisrael, a destruição é mais sentida nos locais mais sagrados.
Onde Nenhuma Interrupção é Possível
Apesar disso, a destruição somente pode ter um efeito na manifestação de D'us dentro de Seder Hishtalshelus, os estágios da existência através dos quais a energia Divina desce até nosso mundo são trazidos à realidade. Assim, o pecado separa o homem de D'us, causando destruição e exílio. Quando, em contraste, a pessoa foca na Essência de D'us e na essência da alma do homem, não há separação. Nada pode intervir entre a centelha essencial da alma judaica e a Essência de D'us. É até inapropriado falar de sua conexão sendo enfraquecida.
Assim, podemos entender uma declaração de R. Aizik de Homil em nome do Alter Rebe. Como é citado em Pelach HaRimon, pág. 7, que para almas elevadas, é como se o Beit Hamicdash jamais tivesse sido destruído.
Para dar um exemplo desse conceito a partir da experiência humana. Quando uma pessoa enfrenta um desafio de fé, a essência de sua alma brilha dentro de todos seus poderes conscientes. Seu auto-sacrifício afeta sua fala e sua ação, embora ele não tenha transformado sua natureza e possa estar num nível espiritual baixo.Com maior alcance, este motivo se aplica sobre as almas elevadas acima mencionadas. Na própria essência de suas almas, não há conceito de destruição. Em contraste com pessoas em geral, sua centelha judaica essencial permeia todo seu ser.12 Assim, para eles, a destruição não tem nenhum efeito.
Sem Pensar em Si Mesmo
A conexão que essas almas partilham com D'us não se restringe pessoalmente a elas. Pelo contrário, são almas abrangentes que cuidam do povo inteiro. Assim, podemos entender a reação de Yaakov após Esav o convidar ao Monte Seir.13 “Eu sou responsável pelos rebanhos… [Portanto,] farei meu caminho em passo lento.”
Yaakov era o nasi, o líder do povo judeu. Veja Likutei Sichot, vol. 31, pág. 148, que explica a conexão entre aquele título e o conceito de uma alma abrangente. Para ele, não havia possibilidade de “destruição”, a separação e distância de D'us que almas inferiores podem sentir. E isso se refere não apenas ao seu próprio nível pessoal de refinamento, mas também como ele existe em relação ao povo em geral. Pois o nível espiritual do povo em geral afetará seu líder a certo ponto. Como ele deve ajudá-los no auto-refinamento, seus caracteres subdesenvolvidos têm um efeito sobre ele.14
Apesar disso, Yaakov já tinha aperfeiçoado também aquela dimensão de sua personalidade espiritual. Sob sua própria perspectiva, Mashiach já tinha vindo. Em seu mundo interior, ele estava pronto para “salvadores… para julgar o Monte de Essav,”15 para a soberania ser de D'us.”16
Mas Yaakov pensava muito além de seu próprio mundo interior – “Sou responsável por cuidar dos rebanhos.” Entre o povo judeu, há almas que estão no nível das ovelhas. Por causa dessas almas cuja apreciação de D'us está faltando, Yaakov teve de permanecer. Se ele as apressasse, “elas morreriam,” i.e., seriam expostas a um nível de Divindade tão poderoso para elas interiorizarem e suas almas iriam expirar.17 Yaakov estava disposto a permanecer no exílio pelos seus rebanhos por essas almas inferiores.18
O primeiro líder judeu, Moshê, manifestou o mesmo motivo. Seu corpo não foi levado para Eretz Yisrael, mas permaneceu no deserto. Se ele tivesse se preocupado somente com si próprio, poderia ter entrado em Eretz Yisrael. Ele era, porém, devotado a seu povo e permanece no deserto com eles até a chegada de Mashiach, quando junto com eles, ele entrará na Terra Santa.
Um Vínculo de Luz
Em toda geração, os nesiim têm feito o mesmo: deixaram de lado suas próprias preocupações pessoais e até espirituais e se devotaram ao seu rebanho. Permaneceram na Diáspora para servir como um meio que permita aos judeus se conectarem com D'us – permitir que um judeu conecte a essência de sua alma com a essência de D'us e tenha aquela conexão permeando a totalidade de seu ser.
Para relacionar este conceito com o tema de abertura: em termos simples, quando alguém visita o túmulo de um nasi, há uma conexão de yechidá19 com yechidá que continua a brilhar nos dias que se seguem. Afeta o pensamento, fala e ação da pessoa, inspirando seu serviço Divino.P’nimiyut HaTorah, a dimensão mística da Torá, vê a visita ao túmulo de um nasi sob essa luz. Há uma alusão a este conceito também na Lei da Torá, pois nossos Sábios declaram20 que a Ressurreição ocorrerá somente em Eretz Yisrael. Apesar disso, os homens justos enterrados na Diáspora também vão merecer a ressurreição pois seus corpos serão levados para Eretz Yisrael através de passagens subterrâneas.21
Assim os túmulos dos justos estão conectados a Eretz Yisrael. Assim como a presença de D'us está na terra santa de maneira aberta, descansa no túmulo de um tsadik e é por isso que preces e pedidos são recitados ali. Pois naquele local, a essência da alma está conectada com a Essência de D'us. Como no Beit Hamicdash, “Meus olhos e Meu coração estarão ali para sempre.” Num local assim, os 70 arcanjos não têm domínio.
Há uma dimensão maior em rezar sobre o túmulo do nasi que faz com que o pedido seja atendido. Pois o desejo dos nesiim foi – e continua – para sua influência ser sentida na vida diária, em pensamento, palavras e ação. Assim, seu shlichut pode ser levado sem obstáculos e com abundante sucesso em questões materiais e espirituais.22
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