Rabi Moshe Cordovero – "O Ramak"
Um dos cabalistas mais notáveis de todos os tempos foi Rabi Moshe Cordovero. Mais conhecido como Ramak – um acrônimo tirado das primeiras letras de seu título e nome – Rabi Moshe Cordovero. Embora não seja certo que o próprio Ramak tenha nascido em Szfat, ele passou a maior parte da vida naquela cidade sagrada, o lar da Cabalá.
Nos aspectos revelados da Torá – o Talmud e obras associadas – o Ramak foi um estudante do renomado Rabi Yossef Caro, autor do Shulchan Aruch. O mestre elogiava muito o brilhantismo e vasto conhecimento de seu jovem aluno. Ainda em tenra idade, ele já tinha adquirido reputação de gênio extraordinário. Além de seu conhecimento em Cabalá, ele era erudito talmúdico e filósofo do mais alto nível, altamente respeitado nestes campos. Foi até mesmo um dos quatro a receber a semichá, ordenação especial de Rabi Yaacov Beirav em 1538, juntamente com Rabi Yossef Caro (professor de Lei Judaica de Cordovero), Moshe de Trani e Yossef Sagis, todos muito mais velhos e mais conhecidos que o jovem prodígio de 18 anos.
Porém o principal interesse de Rabi Moshe era a sistematização da Cabalá, organizando-a numa estrutura filosófica. Tão respeitado foi ele pelo seu esforço que foi o primeiro cabalista homenageado pela palavra "o" acrescentada antes de suas iniciais, e até hoje é conhecido como "O RaMaK".
Em 1542, aos vinte anos, o Ramak escutou uma voz celestial insistindo com ele para estudar Cabalá com seu cunhado, Rabi Shlomo Alkabetz (autor da prece Lechá Dodi, entoada para recepcionar o Shabat na noite de sexta-feira). Ele foi assim iniciado nos mistérios do Zôhar, os ensinamentos do cabalista fundamental e sábio mishnaico, Rabi Shimon bar Yochai. O jovem Ramak dominou completamente o texto. Isso não o satisfez, pois seus ensinamentos muitas vezes são vagos, sem uma estrutura perceptível. Para esclarecê-los em sua própria mente, ele começou a escrever dois livros. O primeiro foi Ohr Yakar ("A Luz Preciosa"), um volumoso comentário sobre o Zôhar. O segundo, Pardes Rimonim, ("Pomar de Romãs"), completado em 1548, que assegurou sua reputação imortal. O Pardes, como é conhecido, foi uma sistematização de todo o pensamento cabalista até aquela época. Especialmente importante foi que o autor reconciliou muitos eruditos anteriores com os ensinamentos do Zôhar, demonstrando a unidade essencial e base filosófica auto consistente da Cabalá.
Dois outros livros pelos quais o Ramak é conhecido são Tomer Devora, "A Palmeira de Debora" no qual ele utiliza os conceitos cabalistas das sefirot (Atributos Divinos) para iluminar um sistema de moral e ética, e Ohr Ne’erá, uma justificativa e insistência sobre a importância do estudo da Cabalá, e uma introdução aos seus métodos.
Por volta de 1550, o Ramak fundou uma Academia de Cabalá em Szfat, a qual liderou durante 20 anos, até seu falecimento. Conta-se que o próprio Profeta Eliyahu revelou-se a ele. Dentre seus discípulos estavam muitos dos luminares de Szfat, incluindo Rabi Eliyahu di Vidas, autor de Reshit Chochmá (Princípio da Sabedoria), e Rabi Chaim Vital, que mais tarde se tornou anotador oficial e disseminador dos ensinamentos do "Santo Ari", Rabi Isaac Luria.
O grupo de místicos aderiu aos métodos do autor do Zôhar, e engajou-se em vários atos de penitência para trazer a Redenção. Eles passavam longas horas nos campos meditando e rezando, e visitavam os túmulos de vários eruditos de Mishná das proximidades. Quando o "Ari" chegou a Szfat, ele juntou-se a este grupo de cabalistas, comportando-se com extremo recato, esperando ocultar sua grandeza.
Somente o Ramak com sua pura visão percebeu quem ele era.
Antes de seu falecimento em 1570, o Ramak disse:
"Logo deixarei esta terra. Porém, após meu falecimento, alguém virá me substituir. E embora muitas declarações desta pessoa pareçam contradizer as minhas, não se oponham a ele e não discutam, pois eles brotam da mesma fonte que os meus ensinamentos, e são absolutamente verdadeiros. Sua alma é uma centelha de Shimon bar Yochai, e quem se opuser a ele se opõe à Shechiná (a Presença Divina).
"Qual é o seu nome?" perguntaram os discípulos.
"Não posso lhes dizer. A essa altura, ele não deseja que sua identidade seja conhecida. Isso, porém eu posso dizer: Aquele que vir a nuvem que precederá meu corpo no meu funeral, este será meu sucessor."
Poucas semanas depois, aos 48 anos, a 23 de Tamuz de 5330 (1570), Rabi Moshe Cordovero foi receber sua recompensa Celestial. Em sua eulogia, o Arizal declarou que Rabi Moshe foi tão puro que sua morte somente podia ser atribuída ao pecado de Adam.
Abalada pela notícia desta grande perda, toda a comunidade se enlutou. No seu funeral, ao qual compareceram todos os judeus de Szfat, foram recitados muitos panegíricos. Dentre os que falaram estava o Ari, que descreveu o Ramak como totalmente livre de pecado.
Enquanto acompanhavam o Ramak em sua última jornada, todos choravam. Quando os carregadores de seu corpo chegaram ao cemitério, continuaram caminhando um pouco, até chegarem a um determinado lugar. Então, voltando-se para a multidão, eles disseram: "Nós o enterraremos aqui, ao lado dos maiores sábios de Israel."
No entanto, o Ari os deteve, gritando: "Não o enterrem aqui. A nuvem que o está precedendo continuou o seu caminho. Certamente a nuvem vai indicar onde o Ramak deseja ser enterrado." Ao ouvir estas palavras, todos ficaram estupefatos. Agora conheciam a identidade do seu novo líder. Naquele mesmo dia, a fama do Ari começou a se espalhar, e muitos eruditos notáveis começaram a se agrupar ao redor dele.
O Ari viveu apenas mais dois anos, e foi levado deste mundo por uma peste que atingiu a cidade de Szfat em 1572. Porém neste curto período, ele revolucionou o estudo da Cabalá. Foi o primeiro a explicar o conceito de tzimtzum ("contração" de D’us de Sua infinita luz para dar "lugar" à Criação) e muitos outros conceitos cabalistas. Como foi previsto pelo Ramak, embora muitos dos ensinamentos do Ari parecessem contradizer aqueles de seu predecessor, por fim todos perceberam que os dois realmente eram equivalentes.
Segundo o testemunho do Arizal, o suporte que levou o Ramak ao túmulo foi precedido por uma coluna de fogo.
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