No versículo "D-us formou (Vayetsê) o homem", nossos Sábios declaram que o "yud" duplo na palavra nos ensina que o homem foi criado com dois yetzarim, o yetser hatov e o yetser hará, ou boa inclinação e má inclinação. A natureza dessas inclinações, e particularmente aquela da má inclinação, é discutida no Talmud e na literatura midráshica. A Chassidut Chabad destaca ainda uma faceta do assunto examinando estas inclinações como modos de expressão da alma.

Cada alma tem uma gama de faculdades, geralmente dividida em duas categorias – intelecto e emoções. As faculdades intelectuais da alma são seus atributos primários, ao passo que suas faculdades emocionais são meramente um produto da alma intelectual contemplativa. Como resultado de contemplar constantemente e refletir sobre a revelação do Eterno, bendito seja – sendo esta a única área de interesse da alma Divina – emoções sagradas nascem dentro dela. Estas são chamadas yetser tov, a boa inclinação. Similarmente, dentro da alma animalesca, nascem emoções apropriadas à sua essência. Estas também são um produto de sua contemplação e reflexão. Porém, em contraste com a alma Divina, a alma animalesca contempla apenas as coisas físicas e materiais desse mundo. Assim, atributos emocionais negativos nascem dentro da alma animalesca, e são revelados como o yetser hará, a má inclinação.

Ser tentado e não sucumbir

Rabi Shneur Zalman discute a guerra psíquica interior que irrompe em uma pessoa em termos da alma Divina e da alma animalesca que lutam entre si, em vez de em termos de estratégias e táticas da boa e da má inclinação. A razão para isso é que a guerra entre estas duas almas é muito mais fundamental que o conflito entre as duas inclinações. Uma vez que tenhamos entendido a natureza da guerra psíquica interior a partir dessa perspectiva mais profunda, poderemos entender os poderes e habilidades dos lados oponentes.

A alma animalesca deveria ser considerada como um inimigo astuto. Para entender bem a natureza desta alma não é suficiente examinar suas ações no campo de batalha. Ao contrário, devemos esclarecer realmente quais são as aspirações e objetivos da alma animalesca, e o que ela espera atingir, ao empreender uma guerra com a alma Divina.

Ao passo que o desejo da alma Divina é que ela sozinha governe a pessoa e cuide de todos seus assuntos, para que o corpo inteiro seja permeado exclusivamente com suas faculdades, a alma animalesca deseja exatamente o oposto. Isso equivale a dizer que o desejo da alma animalesca é que o homem "prevaleça sobre ela e a subjugue!"

Na realidade, a alma animalesca também deseja o bem-estar do homem, e embora aparentemente ela exiba a intenção oposta, para que o homem sinta a presença de uma inclinação para desviá-lo do correto e estreito, mesmo assim, esta não é a intenção íntima da alma animalesca. Pelo contrário, a alma animalesca também deseja que o homem viaje pelo caminho correto e estreito do cumprimento da vontade de D’us. Assim sendo, poderíamos perguntar por que então a alma animalesca tenta seduzir uma pessoa ao mal? A resposta a isso é que o bem elevado e especial que o Eterno, bendito seja, deseja conceder sobre nós pode ser adquirido pelo homem somente depois que ele enfrentou um desafio difícil sem sucumbir. Pelo contrário, ele se ergue para encontrar o desafio e sai vitorioso.

A alma animalesca deseja falhar

Segundo o Tanya, então, a função da alma animalesca é "como na parábola da meretriz [relatada] no sagrado Zohar": Um rei tinha um único filho, a quem amava profundamente. Em seu amor pelo filho, instruiu o príncipe a não se associar com mulheres de má vida, que fariam dele um homem impróprio para os deveres no palácio real. Depois de algum tempo, o rei decidiu testar a força moral do príncipe. Com este propósito, mandou chamar uma mulher bela e inteligente. Explicando a ela o propósito do teste, instruiu-a a fazer todos os esforços para seduzir o rapaz.

Obviamente, se o príncipe obedecesse os desejos do pai, e repreendesse a mulher por suas ações e a mandasse embora, o rei ficaria encantado. Levaria então o príncipe aos aposentos secretos do palácio e o cobriria com presentes e honrarias. Além disso, a mulher também receberia algumas distinções pelo mérito, tanto pelo serviço prestado quanto porque tinha sido a causa de o príncipe receber sua recompensa.

Como na parábola acima, onde a mulher por dentro deseja que o príncipe não sucumba aos seus encantos, e também pode se alegrar com a felicidade do rei, assim também ocorre no nosso caso. A alma animalesca deveria ser considerada como algo que deseja o aperfeiçoamento e o benefício do homem.