O autor do Tanya escolheu começar este livro com a declaração de Nossos Sábios que trata da administração de um juramento ao judeu antes de ele nascer: "Aprendemos: Um juramento é administrado a ele [antes de nascer, encarregando-o]: 'Seja justo, não seja perverso; e mesmo que o mundo inteiro lhe diga que você é justo, considere-se perverso.'" Um judeu ganha o privilégio de fazer este juramento antes de sua entrada no mundo exterior. Este vem depois de um rico período de sua vida - nove meses no útero, durante os quais ele aprendeu toda a Torá.
Embora todo este estudo de Torá seja esquecido quando da entrada do recém-nascido no mundo, pois Nossos Sábios declaram que um anjo dá um tapa na boca da criança, fazendo-a esquecer tudo que aprendeu, mesmo assim o juramento que fez permanece, e o acompanha por toda a vida. Assim sendo, devemos entender a natureza desse juramento. Qual é seu objetivo? Que benefícios resultam dele?
Um pacto eterno
A administração de um juramento pode ser comparada a um pacto feito entre dois amigos que se amam muito, e desejam assegurar que sua amizade continuará para sempre. A vida é repleta de altos e baixos, e ninguém pode ter certeza de que as vicissitudes do tempo não trarão circunstâncias que enfraqueçam a amizade que os dois têm um pelo outro, e que logicamente pode até exigir que se corte todo o contato. Assim, para assegurar que isso não acontecerá, os amigos fazem uma aliança, ou pacto. Cada qual jura ao outro que sua amizade jamais faltará. Em virtude desse pacto, sua amizade é elevada do nível de amor forçado pelo intelecto (que depende das circunstâncias, e sobre as quais Nossos Sábios declararam: "Quando mudam as circunstâncias, o amor evapora") a um amor que está além das convicções intelectuais - isso é amor que não pode ser interrompido por coisa alguma.
Uma situação similar aplica-se à alma. Como ela está acima, antes de descer ao corpo, a alma vivencia amor e reverência a D'us. No entanto, existe o temor de que quando a alma descer para tornar-se envolvida no corpo físico, e esteja distanciada de seu estado original, a experiência elevada de amor e reverência irão desaparecer. Além do mais, existe o perigo de que a alma irá sucumbir às sugestões e atrativos da alma animalesca pela qual ela se torna envolvida. Este é o motivo pelo qual um juramento é administrado à alma. Serve como um pacto entre a alma e D'us, desta forma nem mesmo as condições do novo mundo ao qual ela desce não podem impedi-la de aprender Torá e cumprir as mitsvot.
A diferença essencial entre uma resolução comum e a expressão de um juramento pode ser explicada enfatizando-se a importância dos juramentos. Os ensinamentos chassídicos explicam que o homem tem diversos poderes na alma, incluindo poderes que geralmente estão ocultos, mesmo da pessoa na qual eles existem, pois ele simplesmente não sente seu efeito. Em épocas de grande perigo estes poderes da alma podem se tornar revelados. De repente, uma pessoa é capaz de realizar atos que exigem tal força que normalmente seriam considerados além de sua capacidade. Assim, o perigo pode despertar e revelar poderes ocultos. Juramentos funcionam de maneira similar.
Os juramentos geralmente são vistos pelas pessoas sob uma ótica muito séria. Alguém que não tenha o cuidado de dizer sempre a verdade dirá apenas a verdade quando estiver sob juramento, pois em virtude do juramento que fez, poderes ocultos da alma são revelados. Alguém que normalmente se esforça muito para cumprir sua palavra fará de tudo para cumprir um juramento.
É por esses motivos que o homem é ordenado a fazer um juramento - "seja justo", a respeito de todos os mandamentos positivos, e "não seja perverso", quanto à estrita observância de todas as proibições. Devido à gravidade do juramento que fez, elevados poderes interiores da alma serão revelados, e fará todo esforço para superar os obstáculos.
Juramentos satisfazem
Vale a pena enfatizar que a palavra juramento, Shvuá em hebraico, está etimologicamente relacionada à palavra Savá, significando satisfação ou saciedade. A administração do juramento acima mencionado à alma, antes de sua descida ao mundo, sacia a alma, dotando-a de poderes elevados adicionais.
Da mesma maneira que a pessoa se sente de bom humor quando se alimentou bem, e pode realizar seus deveres adequadamente, assim também com a alma. Quando esta está saciada da maneira previamente mencionada, tem os poderes de dominar a má inclinação, o yetser hará, e a forçá-la ao reino da santidade. Isso sugere não apenas "afastar-se do mal e fazer o bem", como também purificar a grosseria do corpo físico, e retificar sua alma animalesca. Ele possui o poder de conseguir sucesso em assuntos de Torá e mitsvot como indivíduo, e de transformar as trevas em luz no mundo em geral.
ב"ה
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