Nasci na Alemanha em 1946 e me mudei para Israel com minha família em 1948. Lá, nos estabelecemos em Beit Gamliel, uma vila agrícola que meu pai ajudou a fundar.
Quando criança, frequentei a escola da vila e depois um cheder religioso com um professor à moda antiga durante as tardes. Ele costumava nos disciplinar com uma pequena vara, o que me aterrorizava, especialmente às quintas-feiras, quando havia um teste sobre a parashá semanal.
Com medo de ir à escola no dia do teste, eu vagava pelos campos. Meu pai, preocupado com os terroristas fedayeen que estavam ativos naquela época, saía para me procurar. Ele não sabia o que fazer com minha educação até que um amigo sugeriu que ele me enviasse para a escola Chabad na vizinha Rishon Letziyon. E assim começou minha conexão com Chabad.
Pouco tempo depois, eu estava me comportando mal em sala de aula, quando meu novo professor, o rabino Shlomo Greenwald, aproximou-se de mim. Mas, para minha surpresa, em vez de me bater com uma vara ou um cinto, ele me deu um tapinha gentil na cabeça. Eu não estava acostumado a isso! Tornei-me um excelente aluno e continuei a aprender nas escolas Chabad pelos anos seguintes, antes de ingressar no ensino médio e, depois, no exército.
Embora eu tenha permanecido religioso enquanto estava estacionado na Base Aérea de Chatzor durante o serviço militar, senti que precisava fortalecer meu judaísmo. Assim, quando saí, voltei para a yeshivá por um tempo, desta vez em Kfar Chabad.
Em 1970, minha esposa Nechama e eu nos casamos e assumimos a vida agrícola na vila de Beit Gamliel. Plantei um pomar em nosso grande pedaço de terra que cuidava durante o dia, e à noite trabalhava como vendedor de seguros.
Quando tivemos filhos, os enviamos para escolas religiosas na vizinha Rechovot, mas ainda víamos nosso futuro em Beit Gamliel. Eventualmente, estávamos prontos para construir uma casa própria: economizamos dinheiro suficiente, fizemos o projeto e até começamos a comprar materiais de construção. Em Beit Gamliel, havia um empreiteiro muito requisitado, mas, justo quando estávamos nos preparando para contratá-lo para construir nossa casa, ele se comprometeu com um projeto diferente.
Decidi escrever ao Rebe para pedir seu conselho. Mas, embora ele geralmente respondesse quando lhe fazíamos perguntas, desta vez não houve resposta. Quando nosso filho Rafael nasceu, ele nos enviou uma carta de felicitações, mas ainda assim não mencionou a casa.
Então, dirigi até Kfar Chabad para consultar o rabino da cidade, Nachum Trebnik, que por sua vez me direcionou ao conhecido chassid Reb Mendel Futerfas.
Fui à casa dele, onde conheci um homem de aparência nobre usando um chapéu de estilo russo. Conversamos um pouco, e então ele perguntou: “Você está conectado com o Rebe há tanto tempo, como ainda não foi vê-lo? Vá até o Rebe, e quando você voltar, me conte o que ele disse.”
“Estou indo visitar o Rebe”, disse à minha esposa quando cheguei em casa. Eu não fazia ideia do que esperar quando cheguei lá, no meio do inverno de 1977, e ninguém havia me preparado também. Estava congelando em Nova York, mas eu estava apenas com uma camisa de mangas curtas e, ao sair do terminal, escorreguei e deixei cair minha mala, espalhando seu conteúdo no pavimento gelado. Foi assim que cheguei.
No primeiro farbrenguen que participei, ouvi o Rebe citar as palavras do profeta Eliahu: “Até quando vacilareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é D’us, sigam-No!” Senti que o Rebe estava falando comigo, me dizendo que eu precisava tomar uma decisão na vida.
Decidi ter uma audiência privada com o Rebe. Enquanto aguardava no saguão pela minha vez, um judeu idoso saiu da sala do Rebe. Ele parecia estar tremendo, e de repente eu me senti nervoso. “Não vou entrar”, disse ao secretário do Rebe, o rabino Leibel Groner. Ele sorriu e me empurrou gentilmente para dentro.
Eu ainda estava na porta quando o Rebe se levantou, com um sorriso que se espalhou pelo rosto. Isso me tranquilizou, e avancei lentamente até ficar na frente dele.
O Rebe se sentou, pegando um maço de cartas amarradas com um elástico. Percebi que minhas cartas sobre a casa estavam lá. O Rebe olhou para as cartas, depois para mim. Tive a sensação de que ele sabia tudo sobre mim, que não havia como esconder.
Então, ouvi ele dizer: “Duas vezes ao dia recitamos o Shemá: ‘E as ensinarás aos teus filhos.’ Se os filhos estão em Rechovot, os pais devem estar lá também.”
Ao sugerir que nos mudássemos para Rechovot, o Rebe respondeu minha pergunta sobre a casa. Mas, mais do que isso, senti que ele estava me apontando para o propósito da minha vida. Rashi, o principal comentarista da Torá, interpreta esse versículo como uma instrução geral para ensinar a Torá aos outros, não apenas aos próprios filhos, e assim entendi que era isso que eu deveria fazer. Ou seja, ajudar a educar crianças judias em Rechovot.
Nos mudamos, e comecei a organizar programas antes das festas nos jardins de infância locais. Logo percebemos que precisávamos criar nosso próprio jardim de infância. Um jardim de infância Chabad, e com ele surgiram muitos mais.
Quando chegamos, havia apenas dez famílias Chabad, e elas rezavam juntas em uma casa alugada. Mas, logo depois, decidimos construir um verdadeiro Beit Chabad. Começamos a erguer os blocos de cimento e a argamassa que eu havia originalmente comprado para uma casa em Beit Gamliel, e, quando terminamos a obra, o prédio tinha quatro andares.
“Por que vocês precisam de um prédio tão grande?” as pessoas se perguntavam. Mas a palavra “Rechovot” significa “amplo”, e tínhamos grandes ambições.
Por anos, sempre que eu ia ao Rebe para pedir uma bênção para nossas atividades em Rechovot, ele citava o versículo: “Pois agora o Senhor nos fez amplos, e seremos frutíferos na terra,” e depois me abençoava: “Que você tenha em abundância!” A palavra hebraica para “abundância”, harchavá, é claro, compartilha a mesma raiz de Rechovot.
Na noite de Simchat Torá, em 1988, fui ferido e levado ao hospital depois de cair de uma plataforma durante as festividades no 770. Ainda de cadeira de rodas e com a mão direita engessada, insisti em voltar no final do feriado. Enquanto o Rebe distribuía vinho aos chassidim após a cerimônia de Havdalá, eu passei e ele me deu um olhar penetrante. Parecia um momento auspicioso, então declarei: “Rebe, quero uma bênção para estabelecer novas instituições educacionais em Rechovot, Rishon Letziyon e Ness Tziyona” — duas cidades próximas da região.
“Amen!” respondeu o Rebe, me dando uma bênção de sucesso e depois me entregando uma garrafa de licor, que ele insistiu que eu pegasse com minha própria mão engessada.
Essas bênçãos se cumpriram completamente: só em Rechovot, temos centenas de alunos em uma rede de creches, jardins de infância, escolas primárias e secundárias para meninos e meninas. À medida que essas instituições cresceram, a comunidade local também cresceu; hoje, há mais de 700 famílias Chabad e quinze Batei Chabad.
Não muito tempo atrás, voltei para Beit Gamliel, para minha fazenda que o Rebe me incentivou a deixar para trás durante todos aqueles anos. As árvores que eu havia plantado foram todas arrancadas, já que os custos de manutenção do pomar começaram a exceder a receita que ele gerava. Mas aquelas mudas que o Rebe me enviou para plantar em Rechovot ainda estão crescendo, com a ajuda de D’us, e produzindo cada vez mais frutos.
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