“Vou precisar de um novo nome de refém para rezar agora,” disse uma mulher, com lágrimas nos olhos. Ela fazia parte de um grupo que dividiu todos os nomes dos reféns, e, nos últimos 10 meses, vinha rezando diariamente pelo “seu” refém. Tragicamente, o dela estava entre os seis que foram brutalmente assassinados.

“Eu também,” admitiu outra mulher que havia rezado durante todas as semanas antes do acendimento das velas de Shabat pelo “seu” refém assassinado. Estávamos reunidas na nossa aula semanal de segunda-feira à noite no Beit Chabad. Era o fim de semana do feriado de Labor Day nos EU, Dia do Trabalho e a aula quase foi cancelada, mas, surpreendentemente, a sala estava repleta. Lentamente, uma a uma, as mulheres ao redor da mesa começaram a abrir seus corações sobre seus sentimentos.

“Não consegui dormir nas últimas duas noites.”

“Sinto como se tivesse levado um soco no estômago,” desabafou outra. “Estou andando como se estivesse em um transe, incapaz de me concentrar em qualquer coisa.”

“Me pego chorando nos momentos mais inesperados.”

“Sinto que estou em luto. Sinto como se um irmão e uma irmã tivessem sido tirados. Eu tinha seus nomes, suas fotos, seus sorrisos. Li sobre suas vidas. Seus times de futebol, suas viagens, seus sonhos…”

“Depois de todas as nossas preces, por que D’us não ouviu? Rezamos tanto por Hersh e pelos outros. É tão difícil entender.”

“Alguns dias atrás, assisti aos pais dos reféns chamando seus nomes em Gaza, esperando que pudessem ouvir e se fortalecer. E agora… isso…?!”

A sala estava silenciosa enquanto sua voz se apagava antes que outra mulher continuasse: “Era importante para mim estar aqui esta noite. Compartilhar. Ouvir umas às outras. Obter alguma inspiração. Não ficar em casa sozinha no sofá, apenas olhando para o espaço, pensando e chorando. Eu realmente aprecio isso.”

“Estou aqui porque quero apoiar a dor desses pais. Por Rachel Goldberg-Polin e pelos outros. Se eu posso estar aqui com outras mulheres judias, fazendo algo espiritual, aprendendo sobre o Judaísmo, estou fazendo algo pequeno que elas não podem fazer agora. Esta é a minha forma de participar da dor delas.”

Uma a uma, as mulheres compartilharam como se sentiam devastadas. Eu ouvi os desabafos, a dor, o desespero. Todas sentíamos o mesmo.

Então, eu percebi. Era tão óbvio e simples, mas precisava ser dito. O fato de que todos nós estamos nos sentindo tão devastados, como se fôssemos uma família, apesar de estarmos a milhares de quilômetros de distância, é porque somos um só. Sentimos que a dor também é nossa. Se o filho de Rachel foi brutalmente assassinado, sinto como meu filho. Se Eden foi brutalmente torturada, minha irmã foi torturada.

Dê um passo para trás por um momento. Perceba que há uma beleza devastadora na dor que estamos sentindo. Isso não diminui a tristeza. Isso não diminui as lágrimas que estamos derramando e a inquietação que não conseguimos escapar. Mas perceba, por pelo menos um momento, que é belo que sentimos essa perda, essa dor, essas lágrimas abundantes. É belo porque mostra o quanto estamos conectados. Porque isso significa que somos um. Somos todos nós.

Depois que meu pai faleceu há alguns meses, um amigo sábio me disse que o fato de eu estar experimentando esse enorme vazio em minha vida é um testemunho do meu relacionamento próximo com ele. Minhas lágrimas e tristeza em qualquer hora do dia mostraram o quanto ele era uma parte central da minha vida. Ironicamente, minha profunda perda demonstrou quão belo foi meu amor. Porque se não temos um relacionamento, não lamentamos.

E assim, nossas lágrimas hoje são, de alguma forma trágica e tortuosa, lágrimas belas. Estamos sentindo essa perda porque não há “nós” e “eles”. Nós somos eles. Somos cada uma dessas mães, pais, irmãs e irmãos.

Esse último horror revelou, mais uma vez, a essência de quem somos. Fomos forçados a olhar profundamente no espelho para uma parte de nós mesmos que às vezes esquecemos de expressar. O que vemos refletido em nós, através da nossa raiva, da nossa miséria, do nosso desespero, é o quanto estamos profundamente ligados entre nós.

Talvez não seja coincidência que tenhamos acabado de começar o mês de Elul, que nos ajuda a nos preparar para as Festas de Tishrei através do processo de teshuvá. Teshuvá, comumente traduzido como “arrependimento”, realmente significa “retorno”.

A que estamos retornando? À essência de quem somos: Am Yisrael, o povo escolhido de D’us, com uma alma Divina e uma missão Divina. Um povo que está para sempre e intrinsecamente conectado a D’us, à nossa Terra e uns aos outros.

É por isso que dói tanto.

E isso é apenas um prenúncio da alegria que um dia experimentaremos juntos, quando D’us “enxugará as lágrimas de todos os rostos.”

Que seja em breve!