Por Jonathan Sacks - Rabino chefe da Inglaterra
Logo que foi veiculada a notícia de que uma equipe americana conseguiu clonar um embrião humano foi provocado uma parcela de drama a um debate que ocorreu no Parlamento. Uma legislação de emergência foi preparada para banir a clonagem reprodutiva humana neste país. E embora os americanos negassem que usariam a nova técnica para clonar um bebê, um médico italiano declarou que pretende fazer exatamente isso.
A clonagem reprodutiva significa tentar fazer pelos humanos aquilo que Dr. Ian Wilmut e sua equipe fizeram no caso da ovelha Dolly. Pega-se uma célula normal, isola seu material genético e o ensere num óvulo do qual o núcleo foi removido. Você então o faz dividir-se como um embrião normal e o implanta no útero de uma mãe postiça. Se der certo, o resultado será uma criança que – em vez de ser a mistura dos genes de dois pais – será geneticamente idêntica a um único adulto. Poderia ser o gêmeo idêntico de seu pai – ou qualquer outra pessoa. É um novo desdobramento da expressão: "genes planejados".
O que há de errado?
No caso da experiência que produziu Dolly, 277 óvulos foram clonados; somente 29 se desenvolveram até chegar a embriões, e somente um sobreviveu ao nascimento. Camundongos clonados geralmente desenvolvem anomalias genéticas ao nascerem. E a clonagem não apenas é insegura agora. Existem boas razões científicas para se acreditar que sempre o será. Portanto – não brinque de roleta russa com a vida de uma criança.
Porém, há uma objeção ainda mais profunda. O que nos torna humanos é que fomos concebidos, não um produto da engenharia; nascidos, não feitos. Por meio do amor, sexo e casamento, duas pessoas se juntam para criar um filho para o qual ambos contribuem, mas que é diferente de ambos; algo novo, imprevisível, um presente do acaso, não uma réplica de quem quer que seja. É isso que dá às crianças o espaço para serem elas mesmas. É o que faz um pai ser surpreendido pela alegria.
Há dois mil anos, os rabinos fizeram uma boa observação a esse respeito. Eles disseram: quando um ser humano faz moedas numa única forma, elas são todas iguais. D’us faz cada ser humano à mesma imagem, Sua imagem, e mesmo assim eles são todos diferentes. A glória da criação é que a unidade no céu cria a diversidade aqui na terra. D’us quis que cada ser humano fosse único, o que significa o direito de ninguém ser clone de ninguém.