Sou um judeu persa, nascido em Teerã, no Irã. Quando jovem, imigrei para os Estados Unidos onde fui educado no Instituto de Tecnologia de New Jersey. Então, exatamente na época em que terminei o curso, aconteceu a Revolução Islâmica, e fiquei envolvido com os esforços do Rebe para resgatar as crianças judias do Irã. E esta é a história que eu gostaria de compartilhar em poucas palavras.
Voltando ao passado, preciso dizer que havia cerca de 100.000 judeus vivendo felizes no Irã sob o governo do Xá. Naqueles dias eles tinham muita liberdade, tanto pessoal quanto religiosa (mesmo havendo algumas restrições). Isso até o fim da monarquia em janeiro de 1979, e o estabelecimento de uma república islâmica sob Aiatolá Khomeini.
Os judeus persas não queriam ficar sem o Xá; eles o amavam. Era um homem de paz, um amigo por trás das cenas do Estado de Israel, e quando começaram as demonstrações contra ele em outubro de 1977, e ficou anda mais intensa no decorrer do ano seguinte, eles ficaram muito preocupados. Se o Xá perdesse seu trono, os fanáticos muçulmanos o atacariam, eles temiam, e então apelaram ao governo dos Estados Unidos para conseguir segurança ao menos para seus filhos.
Rabi Sholom Ber Hecht – o filho do Rabi J. J. Hecht que liderava muitos dos programas educacionais do Rebe - dirigia uma sinagoga sefaradita no Queens, e muitos persas foram até ele em busca de ajuda. Ele falou com seu pai, que por sua vez foi até o Rebe. E o Rebe deu a Rabi J. J. Hecht a permissão para fazer tudo que fosse preciso para tirar as crianças do Irã.
Àquela altura me tornei envolvido e sentei-me com Rabi J. J. Hecht para começar um plano. Primeiro, precisávamos organizar a documentação adequada – o I-20 exigido pelo governo americano – mostrando que aceitávamos toda a responsabilidade por aquelas crianças e que elas não se tornariam um fardo para os Estados Unidos da América.
Rabi Hecht – através do Comitê Nacional para Ampliação da Educação Judaica do qual ele era o diretor executivo – garantiu o apoio financeiro de toda criança, cerca de 6 mil dólares por criança. Além disso, ele conseguiu que escolas Chabad para meninos e meninas, e também a Faculdade Touro, concordassem em aceitá-los formalmente como alunos, o que era outra exigência do processo de documentação.
Quando essas garantias estavam em ordem, notificamos os judeus no Irã para irem até a Embaixada dos Estados Unidos em Teerã e conseguirem vistos para seus filhos. As crianças vieram, não tantas como no início, mas isso foi quando o restante ainda estava em seus processos iniciais.
Quando a revolução realmente ocorreu e o Xá foi dominado, os judeus persas chegaram a um estado de extremo pânico. E então, um ano após o governo islâmico começar a recrutar crianças e enviá-las ao fronte, onde dezenas de milhares de meninos morreram – com quinze, dezesseis, dezessete, alguns ainda mais jovens.
Os judeus persas queriam levar seus filhos para fora, mas a embaixada americana em Teerã não estava mais funcionando, tendo sido destruída pelos islâmicos em novembro de 1979, com os diplomatas americanos feitos reféns.
Então os britânicos concordaram em nos ajudar, desde que agíssemos em total segredo. Quando as crianças estivessem em Londres, poderíamos levá-las aos Estados Unidos.
O Rebe aconselhou que aqueles envolvidos no esforço de resgate, no qual eu estava incluído, deveriam viajar para a Inglaterra. Os voos do Irã estavam indo para Londres, e encontraríamos o avião na pista chamando os nomes das crianças na lista e as levaríamos de ônibus fretados para o Beit Chabad em Stamford Hill. Eu era o único que falava farsi, e cumprimentei cada criança com um sorriso e um grande abraço.
De Londres, elas seriam transferidas para os Estados Unidos ou para Israel, conforme escolhessem. O Rebe nos instruiu que a meta principal era levá-las para um local seguro e que a decisão para onde ir deveria ser tomada por elas.
Demorou seis meses para conseguir todos os vistos. Enquanto isso, operávamos um programa na Inglaterra, com as yeshivot locais ajudando. Tudo que fazíamos tinha de ser realizado no mais total sigilo para que os iranianos não soubessem o que estávamos fazendo.
As crianças que chegavam estavam entre as idades de sete e vinte e dois anos. Nos Estados Unidos, iam para as instituições educacionais Chabad – os meninos para yeshivot e as meninas para as escolas Beit Rivka ou Machon Chana. Aqueles com mais idade iam para a faculdade Touro e outras universidades nos Estados Unidos.
Muitas pessoas se voluntariaram e várias organizações ajudaram com doações para manter esses programas e preencher as necessidades das crianças, que não eram limitadas a moradia e alimentação, mas incluíam cuidados de saúde e apoio emocional também. Rabi J. J. Hecht merece a maior parte do crédito por manter este esforço com a orientação do Rebe.
Nossa meta era treinar essas crianças para que crescessem como bons judeus, e então – quando entrassem na sociedade americana – elas não perdessem sua identidade.
Mas algumas pessoas se equivocaram. O programa na verdade tinha oponentes que começaram a reclamar em voz alta que estávamos levando judeus sefaraditas e transformando-os em chassidim. Essa se tornou uma questão bastante polêmica. Consultamos o Rebe sobre isso e ele nos deu uma bela resposta, que vou parafrasear da melhor forma:
“As crianças que são observantes de Torá e têm tradições vindas do lar devem ser encorajadas a continuar praticando suas tradições. As crianças que não têm nenhuma base judaica, podem aprender com seus colegas, ou podem aprender nossos costumes.” Em outras palavras, as crianças deveriam ter permissão para escolher.
No geral, trouxemos mais de 1.100 crianças. Hoje a maioria delas está morando em Los Angeles e Nova York, onde um grande número delas têm mantido sua conexão com Chabad. Elas ainda têm maravilhosas lembranças de sua estadia em Crown Heights onde a comunidade – seguindo o exemplo do Rebe – as recebeu tão calorosamente.
Uma das coisas mais memoráveis que o Rebe fez foi dar um grande cesto de guloseimas a cada criança em Purim. Ele pagou do próprio bolso por essas lindas cestas com sua esposa, Rebetsin Chaya Mushka, repletas com lindas frutas, chocolates, biscoitos e balas. Quando foram distribuídas da casa do Rebe na President Street, algumas das crianças menores precisaram de ajuda para carregá-las, porque eram muito grandes e pesadas. E em Pessach, o Rebe foi visitar todos os meninos e meninas quando eles estavam participando de sedarim para lhes dirigir algumas palavras que foram traduzidas a eles.
O que me surpreende é que o Rebe tinha tanto a fazer liderando sua própria comunidade, porém aceitou a responsabilidade adicional de resgatar as crianças judias do Irã. Isso realmente demonstra o quanto ele se preocupava com todo e cada judeu. Ele foi o fogo, o motor, o acelerador para todas as pessoas que trabalharam nesse imenso projeto e fez dele um sucesso.
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