Em 5 de abril de 1981 - o 11º dia do mês hebraico de Nissan – o Rebe celebrou seu 79º aniversário com um farbrenguen no qual ele falou sobre Tzivot Hashem (“Exército de D'us”), uma organização de crianças que ele tinha fundado seis meses antes. A missão dessa organização, disse o Rebe, era motivar crianças a fazer boas ações a fim de apressar a vinda de Mashiach. Mas como esse “Exército de D'us” estava espalhado pelo mundo inteiro, a melhor maneira de colocar todas as crianças juntas – para atingir verdadeira unidade – era através da Torá.
Portanto, o Rebe sugeriu que um rolo de Torá especial fosse escrito no qual somente crianças tivessem o privilégio de comprar uma letra. Elas seriam unidas através desse Rolo de Torá – o Rolo de Torá das Crianças.
Este projeto não apenas iria unir as crianças, como iria provocar uma bênção especial para o povo judeu como um todo, numa época em tão necessária. O Rebe especificou que a escrita desse Rolo de Torá deveria começar imediatamente e que deveria ser realizada em Eretz Yisrael – a terra que é constantemente vigiada por D'us – e particularmente em Jerusalém, a cidade de unidade que, ao contrário do restante da Terra Santa, nunca foi dividida entre as Doze Tribos de Israel.
Além disso, deveria ser escrito na histórica sinagoga Chabad, que está localizada na parte mais antiga de Jerusalém e nomeada pelo terceiro Rebe Chabad, o Tzemach Tzedek.
Logo depois, eu fui designado para liderar essa campanha e recebi instruções específicas do Rebe.
Todas as crianças judias na idade de bar/bat mitsvá seriam elegíveis para comprar uma letra pelo preço de um dólar (ou o equivalente na moeda de seu país). Adultos poderiam assinar por filhos muito novos, mas se eles tivessem idade suficiente para preencher o formulário de registro, o Rebe queria que eles mesmos fizessem isso.
Era importante a doação de cada criança ser reconhecida adequadamente, o Rebe dizia, mas ele não queria que um recibo padrão fosse feito. Ele queria que as crianças recebessem um belo certificado, que tivesse em seus quatro cantos desenhos dos locais sagrados de Israel – especificamente o Muro Sagrado, o túmulo de Rachel, a Gruta dos Patriarcas, e o túmulo de Rabi Shimon bar Yochai.
Além disso, o Rebe era muito sensível aos sentimentos das crianças. “O costume de escrever um Rolo de Torá é que uma pessoa é informada qual letra ela comprou em qual versículo particular... mesmo assim, não faremos isso,” ele orientou. “Apenas diga às crianças em qual porção da Torá a letra está.”
Ele explicou que, embora todas as letras num Rolo de Torá sejam igualmente sagradas – e se até mesmo uma letra estiver faltando, não importa qual, se uma letra no nome de D'us ou numa palavra com uma conotação negativa, a Torá não pode ser usada – não queremos que nenhuma criança sinta que sua letra é menos valiosa do que a de outra pessoa.
O Rebe também instruiu que a letra de cada criança não deveria ser escolhida por ninguém no escritório, mas pela sorte. Assim haveria conexão por sorte entre a criança e a letra. Aquela letra é importante, o Rebe disse, porque se torna um veículo para trazer as bênçãos de D'us para aquela criança. A importância desse Rolo de Torá para Crianças ficou ainda mais clara quando o Rebe falou num farbrenguen após Lag Baomer.
“Vivemos agora num mundo repleto de confusão e tumulto, confrontado por situações imprevisíveis e confusão sem precedentes,” ele disse. “Atualmente um indivíduo sozinho, abandonado ou frustrado que tem acesso a um botão destrutivo ou gatilho pode perturbar todo um país e até levar um mundo inteiro num episódio como nunca foi testemunhado na história da humanidade.”
O Rebe prosseguiu dizendo que para evitar uma catástrofe, “devemos fazer algo.” Aquele algo é agir para assegurar que há paz e unidade entre os judeus: “Qual mitsvá pode unir todos os judeus numa forma contínua?” o Rebe perguntou, respondendo: “A mitsvá de escrever um Rolo de Torá... especialmente um Rolo de Torá escrito em prol de crianças inocentes.”
O Rebe insistia que todos os chassidim fossem trabalhar informando crianças judias do mundo sobre este projeto e incentivando-as a obter uma letra no Rolo de Torá das Crianças. Subsequentemente, o Rebe explicou que havia dois dias no calendário hebraico que eram especificamente conectados com crianças – Lag Baomer e Shavuot. Portanto, era especialmente importante inscrever tantas crianças quanto possível durante este período de tempo.
Desde o início o Rebe era cuidadoso sobre quantas letras tinham sido adquiridas. Toda semana, eu recebia um chamado do Rabino Binyomin Klein, o secretário do Rebe perguntando quantos novos formulários de registro tinham chegado. Eu lembro que, inicialmente, o Rebe não ficava satisfeito. Quando cheguei à primeira contagem, o Rebe queria saber por que não tínhamos conseguido mais. “Dos iz mit dem gantz’n shturem?! – Isso é tudo que você conseguiu após toda a comoção?!”
Dois dias antes da festa de Shavuot o Rebe discursou num farbrenguen no Shabat e repetiu que há uma ameaça no mundo que poderia trazer caos e destruição. Algo tinha de ser feito rapidamente, ele insistiu, e novamente apontou para o Rolo de Torá das Crianças como o meio para desviar o perigo. “Nem sequer uma criança deve ser deixada de lado,” ele instruiu.
Na véspera de Shavuot – domingo, 7 de junho de 1981 – aquilo que o Rebe estava falando se tornou bastante claro. Naquele dia os israelitas bombardearam o reator nuclear no Iraque. Embora a missão implicasse em um tremendo risco, milagrosamente conseguiu destruir a habilidade de Sadam Hussein – o ditador iraquiano – de iniciar uma guerra nuclear.
Quando chegaram as notícias sobre a operação israelense, todos entenderam que a campanha do Rebe para o Rolo de Torá das Crianças estava conectado com essa ameaça ao povo judeu e agora aquela ameaça tinha sido abortada.
O Rolo de Torá das Crianças foi colocado para ser completado na data do yahrzeit do pai do Rebe no dia 20 de Av. O Rebe designou Rabi Zalman Shilon Dworkin de Crown Heights como seu representante pessoal para escrever a letra final da Torá em prol dele. E como um segundo Rolo de Torá seria preciso para mais crianças adquirirem letras, Rabi Dworkin também foi direcionado para escrever a primeira letra naquele rolo também.
Pessoas de todas as partes foram a Jerusalém para a cerimônia de compleição que ocorreu na Sinagoga Tzemach Tzedek. A partir dali todos foram para o Cotel, onde uma enorme multidão lotava a praça até sua capacidade máxima. Em seguida, voltamos à sinagoga para a celebração com música e dança. E então a campanha para o segundo Rolo de Torá começou.
Até então, seis Rolos de Torá para Crianças tinham sido escritos. Esses seis rolos estão na sinagoga do Tzemach Tzedek onde o sétimo está agora sendo escrito. No total, eles representam a participação de mais de dois milhões de crianças.
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