Minha família mudou-se para Crown Heights quando eu tinha cinco anos de idade. Muitas coisas aconteciam ao redor do Rebe. Rezávamos com o Rebe no 770, frequentávamos seus farbrenguens, e o incluíamos em nossos eventos pessoais.
Se alguém estivesse celebrando um bar mitsvá ou casamento, davam uma garrafa de vinho aos secretários do Rebe na sexta-feira. Então no farbrenguen no Shabat, o Rebe os chamava, misturava um pouco do seu vinho na garrafa e o entregava a eles para que fosse usado no evento, enquanto lhes dava uma bênção. Se fosse dentro da semana após um casamento, as tradicionais bênçãos Sheva Brachot também seriam recitadas no farbrenguen em homenagem ao novo casal.
A certa altura, porém, talvez porque a comunidade ficou grande demais, as pessoas pararam de entregar essas garrafas, e ter o Sheva Brachot num farbrenguen também se tornou menos comum.
Minha esposa Ella e eu nos casamos em 1983, um dia após Yom Kipur. No dia seguinte fomos marcados para ter uma refeição de Sheva Brachot em um restaurante.
Naquele dia, o Rabino Hodakov, secretário do Rebe, chamou meu sogro, Reb Hirshel Chitrik, com uma pergunta: O Rebe, ele disse, queria fazer um farbrenguen naquela noite; tudo bem se fizéssemos nosso Sheva Brachot no farbrenguen? Isso era totalmente inesperado mas é claro que a resposta foi sim. Então, terminamos nossa refeição no restaurante mais cedo que o planejado e então corremos para o 770 para chegar a tempo para o farbrenguen.
Ao final do farbrenguen, o Rebe introduziu o Sheva Brachot com uma explicação. Começou referindo-se aos notáveis mérito envolvido em participar numa celebração de casamento, e então disse: “Desde a noite passada – por algumas razões nas quais eu estava envolvido – algumas pessoas não puderam participar de um casamento que estava ocorrendo então, deveríamos ter o Sheva Brachot aqui.”
O avô da minha esposa, Rabino Yehuda Chitrik, então recitou todas as sete bênçãos tradicionais, enquanto eu permanecia de pé ao lado do Rebe. Havia outro casal se casando naquela noite, e assim eles também tiveram Sheva Brachot depois de nós. Foi uma experiência surpreendente, especialmente porque naqueles dias não era mais realizado com a presença do Rebe.
Na minha mente, porém, eu tinha perguntas: escutei uma gravação daquele farbrenguen algumas vezes, mas não entendia o que o Rebe tinha dito. Ou seja, eu não via como o Rebe tinha se envolvido em distrair alguém de nosso casamento no dia anterior. A única coisa que eu podia pensar era que o Rebe tinha chegado no 770 enquanto eu estava sob a chupá no lado do edifício, esperando minha noiva para casarmos. Na família da minha esposa é tradição ambos pais escoltarem o noivo e por sua vez, a noiva por seus pais até a chupá. Quando comecei a caminhar, o Rebe deu-me um breve olhar, e então passou e entrou no 770. Eu não chamaria aquilo de uma distração; pelo contrário, era uma honra para o Rebe estar presente no meu casamento naquele momento.
Assim, na próxima oportunidade, decidi pedir ao Rebe se ele poderia explicar aquilo para mim.
“O que você não entende?” ele disse. O Rebe queria lhe dar Sheva Brachot sem despertar inveja em ninguém.” Como o Rabino Hodakov via isso, a explicação do Rebe no farbrenguen era apenas parte da história. A verdade era que ele apenas queria nos dar o Sheva Brachot e estava esperando uma desculpa para fazê-lo. Aquele mérito especial é algo que iremos sempre prezar.
Após o casamento, decidi ir a um colel para homens casados a fim de continuar meus estudos de Torá, enquanto minha esposa ensinava na escola local Beit Rivka para meninas. Embora morássemos em Crown Heights, sempre planejamos sair e atuar como emissários do Rebe onde fosse necessário. Naqueles dias, homens casados normalmente não permaneciam no colel por mais de um ano, mas eu não tinha intenção de me tornar um empresário. Queria realmente continuar estudando, portanto poderia eventualmente me tornar um rabino e atuar em algum local.
Após dois ou três anos, começaram a surgir cargos diferentes, mas sempre que eu falava deles ao Rebe para sua aprovação, não recebia resposta.
Por fim – sob conselho de um mentor – escrevi novamente, mas dessa vez com mais detalhes. Escrevi nossa história inteira: que eu estava estudando, que minha esposa estava ensinando, que nossos pais queriam que eu trabalhasse na empresa de meu sogro, mas que queríamos atuar como emissários do Rebe num local específico.
Dessa vez, obtivemos imediatamente uma resposta.
O Rebe aconselhou-me a seguir o “conselho de meu sogro”, destacando as partes sobre mim entrando na empresa e minha esposa ensinando.
Ficamos chocados, até devastados. Tínhamos nos empolgado sobre a perspectiva de atuar como emissários do Rebe, e nunca planejamos ficar em Crown Heights, mas foi isso o que fizemos. Aos poucos, durante os próximos trinta anos, vimos as bênçãos que recebemos. Entendemos que nossa missão era aqui: eu no trabalho, e minha esposa no Beit Rivka. Assim, eu sempre escrevia ao Rebe antes de fazer viagens de negócios ao Leste, e frequentemente recebia bênçãos dele. Enquanto isso, o Rebe encorajava minha esposa em seu cargo especial. Mesmo depois que ela deu à luz e teve uma difícil recuperação, o Rebe concordou que ela deveria tirar um ano sabático, mas insistiu para ela retornar ao seu trabalho após um ano.
Ver como o Rebe nos orientava e cuidava de cada membro de seu rebanho era algo impressionante.
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